Questão do quorum divide PT e outros partidos; reunião hoje tenta acordo
Catarina Alencastro, Júnia Gama e Sérgio Roxo | O Globo
-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Na véspera da votação da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara, a oposição se divide sobre a melhor estratégia a ser adotada. Cientes de que não têm os 342 votos necessários para aceitar a denúncia e afastar Temer, os oposicionistas buscam se unir para dificultar a vida do governo e causar o máximo de desgaste ao presidente, mas não chegaram a um acordo. Hoje, em almoço, lideranças do PT, PCdoB, Rede, PSOL, PDT e parte do PSB sentarão para traçar um plano comum.
Ao mesmo tempo em que setores do PT defendem internamente que a permanência de um Temer desgastado no cargo seria melhor para as pretensões de Lula em 2018, o discurso oficial do partido é de que está empenhado em afastar o presidente. Por isso, a direção da legenda deve fechar questão hoje sobre o tema e definir a tática a ser usada na votação.
Por enquanto, a estratégia defendida por PSOL e Rede, de só registrar presença na sessão quando o governo garantir o quorum, não é endossada pela cúpula petista. De acordo com o líder da bancada do partido, Carlos Zarattini, o placar da votação em si já pode significar uma derrota para Temer.
— Se tiver votação e metade votar contra, o Temer vai ficar sangrando. Ganhar com 250 votos tendo uma base de 400 é vitória? — indagou Zarattini.
Uma vitória magra poderia significar a desmobilização da base do governo no Congresso, o que inviabilizaria projetos tidos como essenciais para o futuro político de Temer. Para aprovar a reforma da Previdência, por exemplo, são necessários os votos de 308 deputados. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), reconhece que o cenário é favorável a Temer, mas descarta o interesse do partido na permanência do presidente.
— Eu estou ouvindo por aí: o PT quer que o Temer fique. Isso é ruim para o país, que está numa situação absurda.
Dos 58 deputados do PT, apenas um, Gabriel Guimarães (MG), tem se declarado indeciso.
— Ele vai ter que se decidir. Nós não vamos aceitar nenhum parlamentar nosso em dúvida. Vamos fechar questão — afirmou Gleisi.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) criticou a decisão de alguns petistas de partir para o voto desde o princípio. Para ele, trata-se de um “erro grave”, já que o governo deseja ver a denúncia derrotada, mas teme a ausência de deputados da base que não querem se expor.
— Acho um equívoco. Se a oposição registrar presença logo, o governo vai conseguir encerrar rapidamente a sessão e fazer a votação em uma hora em que pouca gente estará acompanhando pela TV. Não há nenhuma razão para a oposição facilitar e acelerar a votação na quarta, esse é o jogo do governo. Não sei se compromete totalmente nossa estratégia, mas certamente atrapalha muito. O PT é um partido numeroso — disse Molon.
Segundo o rito definido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a votação será iniciada quando o 342º deputado registrar presença. Este é o número que a Constituição exige para que uma denúncia contra o presidente seja aceita pelo Congresso. O PT irá questionar isso antes da votação. O partido defende que o procedimento só se inicie com 400 a 450 presentes.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que vai propor na reunião da oposição que todos concordem em dar quorum apenas quando o governo atingir os 257 em plenário, que é a maioria dos 513. Isso porque, segundo o rito, com 257 deputados em plenário a discussão da denúncia poderá ser encerrada.
— Vou defender que a gente não ajude a compor o quorum. A verdade é que ninguém tem o quorum (de 342 votos) — disse Delgado, que recebeu apoio de Molon para a proposta. (Colaborou Cristiane Jungblut)
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