- O Globo
_ Temer fica, quando nada por ora, porque ninguém queria que saísse — salvo a maioria dos brasileiros, favorável a que ele fosse processado por corrupção passiva. Simples assim. Nem parte expressiva dos que votaram pela concessão de licença para que Temer fosse julgado pelo Supremo Tribunal Federal queria de fato sua queda.
Presidente algum desde Fernando Collor, o primeiro a ser eleito pelo voto popular depois do fim da ditadura militar de 64, soube como Temer encarnar os anseios legítimos e ilegítimos da chamada classe política. Por preconceito, desprezo e arrogância, Collor e Dilma sempre mantiveram distância dela. Fernando Henrique guardou certo decoro. Lula disfarçou sua rendição o quanto pode.
Temer jamais se preocupou com isso — pelo contrário. Primeiro porque sempre se comportou como um orgulhoso representante dos seus pares. Não foi de graça que se elegeu presidente da Câmara dos Deputados três vezes. Segundo porque substituiu Dilma nas circunstâncias conhecidas. Para tal, cooptou deputados e senadores. Montou um governo à imagem e semelhança deles.
O perfil conservador do governo Temer é igual ao do Congresso. Sua agenda é a mesma. Com a delação do Grupo JBS, Temer tornou-se o primeiro presidente da República do Brasil denunciado por crime de corrupção no exercício do mandato. Situação profundamente incômoda para quem deve satisfações ao distinto público e à História. Mas não para quem as deve ao Congresso, a este.
Custou caro ao país e deu trabalho a Temer enterrar na Câmara a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a primeira, porque pelo menos outra virá. Mas não foi tão difícil assim para quem como ele domina tão bem os códigos de uma classe política abastardada e de um sistema apodrecido. Deem-se cargos, dinheiro e proteção, e votos de sobra haverá.
Nos primeiros sete meses deste ano, segundo a Agência Lupa, o governo empenhou R$ 3,1 bilhões para a construção de obras nas bases eleitorais de 467 dos 513 deputados federais — R$ 2,34 bilhões só nos dois últimos meses depois da gravação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. Sem falar da distribuição de favores que contemplou partidos de oposição. Venceu, pois.
É claro que não venceu só por isso. Sem o ronco das ruas, por que os deputados renunciariam a dispor de um parceiro na Presidência da República? Sem serem pressionados por empresários que financiam suas campanhas, e que os pressionaram a depor Dilma, por que abandonar quem mais precisava deles? No mais, para pôr quem no lugar? E a 10 meses da eleição do próximo presidente? Fica, Temer!
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