- O Estado de S.Paulo
Nunca antes neste País um presidente da República em pleno mandato foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Nunca antes neste País a Câmara negou a autorização para o processo no Supremo Tribunal Federal. E nunca antes neste País os gramados do Congresso ficaram vazios durante uma votação tão importante.
Às 18 horas, a Polícia Legislativa identificava mais de 200 policiais militares e apenas 30 pessoas diante do Congresso e não mais do que 50 se movimentando a partir da rodoviária. “Nem cem manifestantes?!”, exclamava um experiente segurança, acostumado há décadas de grandes votações e grandes manifestações.
Foi assim que o presidente Michel Temer venceu sua mais importante batalha com três armas: emendas parlamentares, seu profundo conhecimento da Câmara, que já presidiu três vezes e, particularmente, o desinteresse da população. O “fora, Temer” não virou o “Rodrigo Maia já”.
Nem a CUT, a UNE, o MST e o MTST se animaram a alugar ônibus, providenciar quentinhas e encher a Esplanada de Niemeyer de gente, bonecos e faixas. Os protestos foram dos caminhoneiros, bem longe da capital da República. Será que o PT não queria de fato a queda de Temer? Muitos da esquerda acham que não.
Do outro lado, o PSDB foi lamentável desde o início da denúncia. Era governo, mas não era. Ia pular fora, mas não pulava. O presidente licenciado, Aécio Neves, era pró-Temer. O interino, Tasso Jereissati, contra Temer. A casa da Mãe Joana.
Temer venceu a principal batalha, mas a guerra continua. Sua intenção é dar um caráter de recomeço ao seu governo e isso inclui um pronunciamento pela TV e rádio, novas iniciativas parlamentares, tentar a reforma tributária. E... mudar a coligação de forças aliadas.
Se o PSDB conferiu um certo verniz ao início do governo, tudo indica que Temer tenha se cansado e dê uma guinada para o Centrão. Saem os tucanos indecisos e divididos, entra o Centrão, sua tropa de choque. Afinal, guerra é guerra e o procurador Rodrigo Janot está à espreita, com seus bambus e suas flechas.
No dia inteiro de sessões, a oposição empurrou a votação para o horário nobre das TVs, falou ao eleitorado e foi duríssima contra Temer e a reforma da Previdência. Mas os favoráveis a Temer foram cautelosos. Eles votaram “pela estabilidade” e “pela economia”, mas raros assumiram uma defesa explícita de Temer contra a denúncia.
Conclusão: Temer venceu, mas nem por isso foi efetivamente absolvido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário