- O Estado de S.Paulo
Emprego é crucial para definir como economia vai bater na cabeça do eleitor
Em tempos de polarização exacerbada, qualquer sinal de concordância é bem-vindo. Nem que seja meia concordância, como é o caso agora da retomada do crescimento. Depois de muitas idas e vindas, os sinais de melhora na atividade econômica se confirmam e são reconhecidos pela maioria dos observadores. O que mais se discute agora, e com toda razão, é a amplitude e a sustentabilidade do movimento – que definirão a temperatura da economia justamente em plena campanha presidencial de 2018, para um eleitorado com a sensibilidade à flor da pele, castigado por dois anos de recessão.
De um lado, estão os que confiam que o roteiro da retomada está bem traçado. Por ele, estamos na etapa de melhora no consumo, que mais à frente vai desembocar em alta do investimento, consolidando o crescimento. Com um empurrão decisivo da política de juros, qualificada como “estimulativa” pelo Banco Central. De outro, estão os que ainda têm dúvidas sobre o fôlego dessa reação do consumo e acreditam que, sem um arranjo profundo das contas públicas, não há como se chegar ao destino do crescimento sustentado. Como se pode ver, trata-se de avaliar a conjuntura como um copo meio vazio ou meio cheio.
Mais uma vez, porém, parece que a razão está num equilíbrio fino. O copo está mesmo pela metade e, dependendo das circunstâncias, pode esvaziar ou encher com mais rapidez. Por circunstâncias, entenda-se especialmente a confluência da crise política com a economia, para a qual muitos ainda fecham os olhos. Que o mercado financeiro faça isso, vá lá: tem seus motivos para bancar apostas de curto prazo, principalmente a farta liquidez internacional, que continua atraindo investidores para países emergentes, onde os ganhos são mais expressivos. Mas parece incompreensível que, fora dessas fronteiras, ainda haja quem acredite que é possível uma equipe econômica agir com desenvoltura, sem risco de escorregar nas cascas de banana espalhadas pelo plenário do Congresso – onde uma base parlamentar ao mesmo tempo instável e poderosa tenta esticar o prazo para conceder alforria a Temer, ainda que, na visão geral, a segunda denúncia contra o presidente deva ter o mesmo fim da primeira.
Traduzidos nos grandes números da economia, os cenários considerados pelas duas alas para o curto prazo é bastante parecido – diferença de alguns décimos para cá ou para lá. Vai se firmando um horizonte de crescimento do PIB nas vizinhanças de 0,7% neste ano, e acima de 2% no ano que vem. Uma inflação pouco acima de 3%, em 2017, e em torno de 4%, em 2018. E taxa básica de juros de 7%, no fim deste ano e no máximo em 8% no próximo. Há divergência, porém, na interpretação desses indicadores. Copo meio cheio ou meio vazio? A economia pode estacionar por aí ou prosseguir rumo ao ciclo mais favorável?
Se o fôlego do consumo ainda é incerto, imagine-se a volta dos investimentos. Por enquanto, o que se tem visto é a ocupação da ociosidade das empresas. Na infraestrutura, as necessidades parecem mais urgentes, mas o programa de privatizações e concessões, com 57 projetos liderados pela Eletrobrás, ainda leva tempo para sair do papel. Nesta semana, o governo Temer enfrentará o primeiro grande teste na área, com dois grandes leilões na área de energia, que deverão medir a real disposição dos investidores: a expectativa é de arrecadação de quase R$ 13 bilhões, com a oferta de quatro usinas da Cemig e de 287 blocos em campos de exploração de petróleo.
Mais do que tudo, porém, sob o ponto de vista político, a grande interrogação é como o quadro esperado para 2018 vai bater na cabeça dos eleitores. Para isso, será crucial o comportamento do mercado de trabalho, que já dá sinais de uma certa descompressão, como mostram os indicadores do IBGE e do Caged, mas ainda está longe de inspirar confiança ao conjunto de setores e regiões do País. E a economia, que sempre é decisiva em eleições, tende a ganhar ainda mais importância, quando se conta que o tema corrupção acabará igualando, para o mal, os principais partidos. O governo reza – que o diga o ministro Henrique Meirelles! – para o copo encher mais um pouco. E convencer o eleitor de que não vale a pena partir para grandes mudanças.
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