As projeções oficiais divulgadas na semana passada no Relatório de Inflação mostram que a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em linha com as metas até 2020. Embora esse seja apenas o cenário mais provável previsto pelo Banco Central, cuja concretização dependerá da disciplina das políticas monetária e fiscal, ele mostra o acerto do Conselho Monetário Nacional (CMN) em retomar, na sua reunião de junho, a trajetória de queda das metas de inflação, abandonada há dez anos.
No documento, a autoridade monetária prevê uma inflação de 3,2% em 2017, bem abaixo da meta fixada para o ano, de 4,5%, e muito perto do piso, de 3%. A perspectiva é que, já no ano que vem, o índice de preços chegue a 4,3%, mais próximo da meta, também de 4,5%. Para 2019, o IPCA é estimado pelo BC em 4,2%, basicamente no objetivo, mais baixo, fixado pelo CMN para o ano, de 4,25%. Para 2020, a inflação projetada ficou em 4,1%, em linha com o alvo de 4%, que segue tendência gradual de redução.
Essa desinflação não vai impor custos adicionais em termos de juros e crescimento econômico. Muito pelo contrário: as projeções apresentadas no Relatório de Inflação tomam como pressuposto a hipótese de que os juros, atualmente em 8,25% ao ano, vão cair a 7% ao ano nos próximos meses e permanecer nesse patamar historicamente baixo pelo menos até o final do próximo ano. Em 2019 e 2020, subiriam moderadamente para 8% ao ano.
Hoje, a dúvida entre os especialistas não é se os juros terão que ser mais altos para cumprir as metas de inflação, mas sim se haverá espaço para uma queda sustentável da taxa básica para percentuais ainda menores. No relatório, o BC sinaliza que, se a inflação surpreender positivamente, poderá cortar os juros abaixo de 7% ao ano. A autoridade monetária monitora se a baixa inflação de alimentos e produtos industriais vai se espalhar para outros preços da economia e se a inércia inflacionária vai se enfraquecer.
Em boa medida, os juros estão caindo aos menores patamares da história devido à profunda recessão, que aumentou enormemente a capacidade ociosa da economia. Se vão continuar baixos no logo prazo, vai depender da queda do que o Banco Central chama de taxa de juros estrutural. Essa é a taxa de juros que mantém a economia em pleno emprego dos fatores de produção e que não causa nem aceleração nem desaceleração da inflação.
No Relatório de Inflação, o Banco Central apresenta uma pesquisa feita com perto de uma centena de analistas econômicos do mercado sobre o valor atual da taxa estrutural e suas perspectivas para o futuro. Com data base em abril, o levantamento mostra que os especialistas estimam que, atualmente, a taxa estrutural esteja em 5% ao ano em termos reais (descontada a inflação). O BC vem lembrando que, hoje, os juros estão abaixo da taxa estrutural. Com a queda da Selic a 7% prevista para os próximos meses, a taxa real de juros efetiva ficará em 3%.
O desafio é fazer a taxa estrutural cair para patamares próximos da Selic vigente. Isso permitirá que a economia conviva com uma Selic oscilando em torno de 7% nominais no médio e longo prazos. A pesquisa apresentada no Relatório de Inflação mostra boas perspectivas de que isso ocorra num futuro não muito distante. A previsão mediana dos analistas econômicos para a taxa estrutural daqui a dois anos é de 4,5% e, para cinco anos, 4%, sempre em termos reais. Quase dois quintos deles disseram que a taxa estrutural poderá cair abaixo de 4% ao ano.
Os juros estruturais são determinados por fatores como produtividade e prêmios de risco, daí ser fundamental a implementação das reformas econômicas. A decisão do CMN de retomar, em junho, a trajetória de queda das metas de inflação contribui para juros estruturais menores. Quanto mais próxima a meta dos padrões das economias emergentes, de 3%, menores os prêmios exigidos pelos investidores para se protegerem do risco de alta da inflação.
O Banco Central menciona, no relatório, que a aprovação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que será usada nos empréstimos do BNDES a partir de janeiro, já contribui para a queda da taxa estrutural. Mas esse é um esforço permanente. O próximo passo deve ser a aprovação de uma justa e abrangente Reforma da Previdência, sem a qual a Emenda Constitucional que impõe um teto no gasto publico terá vida curta.
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