- Folha de S. Paulo
Vem do provocador Nassim Taleb, especulador das finanças e pensador da incerteza, a ideia de que o mundo contemporâneo se divide entre Mediocristão, de um lado, e Extremistão, do outro.
No primeiro, onde vive a maioria dos humanos, riquezas não brotam nem desaparecem num átimo. Ganhos e perdas são graduais e limitados por barreiras físicas, como a incapacidade de trabalhar, digamos, mais de 20 horas por dia. As médias descrevem bem esse país imaginário.
No Extremistão, o trabalho se emancipou da natureza. Algumas horas de dedicação a uma canção podem fazer do seu intérprete um milionário instantâneo. Três cliques no mouse e lá se foi uma fortuna na Bolsa. Essa terra congrega um punhado de gigantes, uma multidão de anões e ninguém entre as duas categorias. As médias, mais que inúteis, iludem.
Estatísticas sobre desigualdade de renda e patrimônio, em franco aprimoramento após trabalhos como o de Thomas Piketty, tratam esses dois mundos como se fossem um. Extremistão domina Mediocristão. Sorteie 215 mil norte-americanos e apure sua riqueza média. Se Mark Zuckerberg for um deles, o resultado será o dobro do que é para o conjunto dos EUA.
A melhora do termômetro não significa que vejamos tudo de importante por meio dele. A mesma lógica de escalabilidade que produz fortunas pessoais inimagináveis provavelmente também favorece o mais abrangente avanço nas condições de vida que a humanidade testemunhou.
No caso do Brasil, há problemas adicionais. Digamos que se consiga, com impostos, retirar metade da renda dos 10% mais ricos. Ainda assim, seria preciso arrancar dos outros estratos algo próximo de dez pontos percentuais do PIB para satisfazer necessidades do gasto público.
Os 40% logo abaixo, dos quais viria o grosso da arrecadação faltante, ganham só 15% da renda média dos mais ricos.
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