- O Estado de S.Paulo
Muitos disputam esse papel protagonista da trama eleitoral
O líder das pesquisas presidenciais corre risco crescente de não poder disputar a eleição. Já o segundo colocado extrapolou as corporações fardadas (militar e policial) que representa e surfa a onda conservadora nacional. Juntos, têm metade do eleitorado. Outros 25% estão sem candidato. Todos os demais presidenciáveis se acotovelam no quarto restante. Porém, o cenário será outro em 2018. Para além de Lula e Bolsonaro, haverá “Sr. Desconhecido”.
Ou “Sra. Desconhecida”. Ou ambos. Muitos disputam esse papel protagonista da trama eleitoral, mas ninguém conseguiu vestir tal figurino até agora. João Doria trocou de trajes muitas vezes desde que virou prefeito paulistano. Porém, nenhum deles serviu para o que ele pretendia – ou seja, garantir a indicação do PSDB como candidato tucano à cadeira ocupada por Temer.
Alckmin fechou as portas do PSDB com Doria dentro ao insistir em prévias após o prazo de filiação que termina no próximo mês. Se o prefeito tentar usar a janela de troca-troca partidário de abril, terá perdido tempo precioso para seu padrinho. Pior, Doria não decolou nas pesquisas como se imaginava. Está patinando nas intenções de voto e gerando menos interações nas mídias sociais. São indícios de que queimou a largada.
No levantamento mais recente, o prefeito aparece com 10% das intenções de voto, seu menor patamar desde abril. É o dobro do que os 5% do rival Alckmin, mas o número importa menos do que a tendência. Doria parou de crescer e não é mais novidade.
A pesquisa telefônica do Poder360 não atinge eleitores pobres sem celular (nem quem odeia conversar com gravações), mas, como única sondagem mensal e pública sobre o que pensa o eleitorado, tornou-se importante para monitorar as variações de humor de quem vota – junto com o vaivém de mídias sociais como Facebook.
A pesquisa mostra que o “efeito caravana” que impulsionou Lula em agosto evaporou em setembro. No cenário com Alckmin como candidato tucano, o petista oscilou de 26% em julho para 32% no mês passado, mas voltou agora para 27%. O ganho e, depois, a perda das intenções de voto em Lula se deram basicamente no Nordeste, onde ele fez campanha corpo a corpo em agosto. Após a caravana, só noticiário negativo – delação de Palocci à frente.
Quando Lula sai da urna, o branco e nulo explode porque o PT não tem um proxy óbvio para substituí-lo. Fernando Haddad fica entre 3% e 5%. Jaques Wagner não foi testado, mas nada indica que se sairia muito melhor. Se ganha no Nordeste, perde em São Paulo.
Ciro Gomes (PDT) decidiu se emancipar. Não espera mais o aval de Lula e procura se viabilizar em raia própria. Está difícil ele passar de 6%. Marina Silva (Rede) é uma não candidata que só perde capital eleitoral. Dos nomes conhecidos, sobra o de Bolsonaro, marchando em ordem unida avante e para cima.
Oscilações à parte, a tendência do militar aposentado é de crescimento. Dos 18% que tinha em abril no Poder360, Bolsonaro oscila hoje entre 24% e 26%, dependendo do cenário. Numa pesquisa face a face, com mais pobres na amostra, talvez ele caísse um pouco. Mas não o suficiente para virar índio. Sem Lula no páreo, Bolsonaro só perde para “Sr. Desconhecido”: 33% a 34% de eleitores sem candidato, por enquanto (branco e nulo).
Isso quer dizer que Bolsonaro já tem lugar cativo em um eventual segundo turno? Não. Muito mudará até lá. Se o emprego e a renda melhorarem muito (mas muito mesmo), o ministro Meirelles vira presidenciável. Outros fardados – ou prelados – podem se animar a dividir a avenida na qual Bolsonaro está trafegando sozinho. E o eleitor segue em busca de quem encarne o “Sr. Desconhecido”.
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