Os indicadores econômicos seguem dando mensagens fracas a respeito da consistência da recuperação do nível de atividades. As mais recentes sinalizações vieram da indústria e do emprego. Após quatro meses seguidos de avanço, a produção industrial recuou, embora haja crescimento na maioria dos setores que compõem o índice. Já o emprego mostra melhora há seis meses seguidos, em parte propiciada pela recuperação da própria indústria, mas a maioria das novas vagas criadas são informais, ou seja, remuneram menos e não garantem os benefícios.
A produção industrial caiu 0,8% em agosto na comparação com julho. Enquanto a indústria de extração mineral recuava pelo segundo mês consecutivo, desta vez 1,1%, a de transformação ficou estável. A queda da indústria de um mês para outro não preocupou especialmente os analistas, que deram maior importância ao aumento de 4% na comparação com agosto de 2016 e de 1,5% no acumulado do ano. No caso do setor de extração mineral, o crescimento ocorre desde novembro e agora foi de 2,6% em agosto sobre o mesmo período de 2016; e o de transformação, de 4,2% na mesma base de comparação; e de 6,6% e menos 0,7%, respectivamente, no acumulado do ano.
Além disso, ficaram entusiasmados com o aumento dos investimentos indicado pela expansão da produção de bens de capital, que cresceu pelo quinto mês consecutivo e foi 0,5% maior do que julho, 9,1% maior do que um ano antes, com aumento de 4,4% no acumulado do ano. A produção de equipamentos de transporte, para construção e agricultura, liderou o movimento. Outro motivo de entusiasmo foi o aumento de 4,1% da produção de bens duráveis de consumo, puxado pelo crescimento de 6,2% da fabricação de veículos, com destaque para os 20% de expansão dos automóveis.
No entanto, acabou determinando a queda da indústria em agosto o recuo de 1% dos bens intermediários e de 0,6% dos bens semiduráveis e não duráveis. A redução da produção de alimentos chamou a atenção, até por conta do receio da reversão do impacto positivo dessa atividade na inflação, mas foi considerada circunstancial por ter sido causada pela decisão das usinas de usarem a cana para a produção de etanol e não de açúcar.
Apesar do recuo em agosto, a recuperação da indústria vem propiciando a criação de novos postos de trabalho. Foi responsável por 40% das 924 mil vagas criadas no trimestre de junho a agosto, com ofertas de postos nos ramos automobilísticos, têxtil, de calçados, eletroeletrônicos, químico e farmacêutico, segundo a mais recente Pnad Contínua. Houve nova queda na taxa de desemprego, dos 13,3% do trimestre anterior para 12,6%, um ponto abaixo do pico de 13,7% de março. O desemprego cai há seis meses e o número de desocupados recuou dos 14,2 milhões do pico de março para 13,1 milhões em agosto.
O nível de emprego informal ainda é elevado, mas, pela primeira vez, foi detectado o aumento do número de postos formais, exatamente na indústria, bastante cobiçados porque geralmente oferecem salários mais elevados do que os do comércio e de serviços. O emprego na indústria vinha em queda desde maio de 2015 e só passou a positivo em abril.
A reboque da indústria, a recuperação pode se espraiar para outros setores. O aumento da produção de bens de capital para construção, por exemplo, é um aspecto animador porque pode ser um indício da reativação das obras, importante para o emprego. Outros indícios positivos são o uso da capacidade instalada da indústria, que cresceu pelo segundo mês consecutivo em agosto, e atingiu 77,8%, 1 ponto porcentual acima do número de agosto de 2016. A média do ano ainda é ligeiramente inferior à de 2016, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além disso, houve redução do nível de estoques.
A recuperação da indústria também é influenciada pela melhoria do comércio exterior. De janeiro a setembro, as exportações de bens industrializados somaram US$ 82,54 bilhões, 11,9% a mais do que no mesmo período de 2016 pela média dos dias úteis. Para que a recuperação da indústria seja consistente, porém, é preciso que seja impulsionada por demanda mais diversificada, sem dependência excessiva de encomendas originadas pela supersafra agrícola.
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