Por Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em depoimento à CPI mista da JBS, o procurador Ângelo Goulart Villela afirmou que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot "agiu com o fígado" no caso JBS. Villela acusou Janot de conspirar para tentar derrubar o presidente Michel Temer o mais rapidamente possível a fim de impedir que Raquel Dodge, sua rival política, o sucedesse no cargo.
Villela passou 76 dias preso sob a acusação de repassar à JBS informações sigilosas sobre investigações em troca de propina. Ele nega a acusação e diz que Janot atuou pela sua prisão depois de ter concluído que ele trabalhava a favor da candidatura de Dodge.
"Quem conhece o Rodrigo Janot bem sabe exatamente como ele age. Ele atua com o fígado e fica, através de 'media training' [treinamento para falar com a mídia], tentando falar bonito para justificar atrocidades como a que fez comigo", afirmou Villela, em entrevista após a sessão. "Não desejo a prisão de ninguém, não estou buscando vingança, estou buscando o restabelecimento da verdade."
Questionado na CPMI, porém, ele negou ter conhecimento sobre montagem de provas ou qualquer outro crime cometido por Janot para chegar a seu intento.
Villela disse ainda que "não há a menor chance de Rodrigo Janot não ter atuado de forma política para derrubar o presidente da República, independentemente da procedência das acusações, com vista a impedir que o presidente da República deixasse de indicar a doutora Raquel Dodge".
"Isso é claro, cristalino, tão evidente a partir de um conjunto de fatos, como a pressa na condução da delação premiada", disse.
Segundo Villela, "houve clara negociação para apressar o processo de delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista" em tempo de impedir a nomeação de Dodge.
"Isso [negociação] foi feito entre fevereiro, março e abril [deste ano]", disse o procurador. "Ele [Janot] tinha até setembro de mandato, mas tinha pressa. Ele não poderia arrastar uma negociação, como foi da Odebrecht."
Em uma parte em que a sessão estava com as portas fechadas aos jornalistas, Villela disse aos parlamentares ter ouvido de Eduardo Pelella, ex-chefe de Gabinete de Janot: "Não se preocupe com a Raquel [Dodge], nós vamos derrubar o presidente antes [que ele possa nomeá-la procuradora-geral]".
Depois, questionado por jornalistas, confirmou parte dessa versão. "Eduardo Pelella disse claramente, em abril, em minha casa, que até a indicação do novo procurador-geral da República poderia haver um novo presidente", afirmou o procurador. "Mas não se alongou no assunto, foi uma declaração vaga."
O procurador acusou Janot de tentar "falsear a verdade", ao pedir a sua prisão. Ele foi alvo da Operação Patmos da Polícia Federal, em 18 de maio. Afirma que permaneceu 76 dias preso sem ser ouvido. Foi solto em 1º de agosto.
Villela foi escalado no início deste ano para atuar na força-tarefa Operação Greenfield e apurar suposto pagamento de propina para que um ex-sócio da Eldorado Celulose, de propriedade da holding J&F, não colaborasse com as investigações. Em delação premiada, o empresário Joesley Batista afirmou que pagara a Villela uma "ajuda de custo" de R$ 50 mil por informações sobre o caso.
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