- Valor Econômico
Destinos: disputa a Presidência ou a vice de Geraldo Alckmin
Um grupo de políticos, mais da metade constituído por aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), envolvido na formulação de uma chapa para a sucessão presidencial, almoçou nesta segunda-feira com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, no Bandeirantes. À mesa sentaram-se Heráclito Fortes (PSB), Rubens Bueno (PPS), Jorge Bornhausen (sem partido, ex-DEM), Roberto Brant (DEM), Benito Gama (PTB), Pimenta da Veiga (PSDB), entre outros que não foram citados. A conversa, embora genericamente definida como "situação do Brasil", chegou a algumas conclusões concretas.
Para aquele grupo, como João Doria (PSDB) não é mais candidato, chegou o momento de agir de forma mais objetiva, definindo claramente pelo menos uma das chapas na sucessão presidencial de 2018. A razão de afastarem Doria do espectro sucessório foi sua entrevista, dada em Milão e publicada, na mesma segunda, por "O Estado de S. Paulo". Ao analisá-la, consideraram que o prefeito "jogou a toalha". Assim sendo, chegou o momento da candidatura Alckmin.
Essa resolução inclui apenas uma das hipóteses de futuro político em que aposta o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Para quem está fora das articulações, da conspiração - por que não, eles detestam dar essa impressão, mas é óbvia -, não se compreende o que quer Rodrigo Maia, ora ao lado do presidente Michel Temer, ora o atacando, absolutamente reativo, mercurial e até às vezes juvenil.
Desde ontem, porém, Maia vestiu um novo figurino, mais de acordo com suas variadas chances de poder político. Uma delas, a primeira em três opções, é a Presidência da República.
Na hipótese de o Ministério Público ter sucesso com a denúncia contra Michel Temer, Rodrigo Maia assume o cargo de presidente da República. Isso lhe abre duas opções de poder político: ser candidato à reeleição, em 2018, o que é mais difícil de alcançar, ou ser candidato a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin.
As conversas do almoço de segunda-feira foram mais amplas e não chegaram a definir cargos ou chapas fechadas, mas as soluções ficaram latentes.
No período em que assumisse para completar o mandato de Temer, Maia faria correções de rumo no governo, no Ministério e em um conjunto de "procedimentos", como se definem os métodos e meios na sua equipe de conselheiros.
A segunda hipótese, também de assumir o Executivo, seria Temer permanecer, embora um pouco mais fraco - o cálculo no grupo é que teria nesta segunda denúncia menos 40 votos do que teve na primeira -- mas de qualquer forma levando seu mandato até o fim. Em 2018 Rodrigo Maia poderia tanto ser candidato a presidente, pelo novo DEM, como também vice-presidente de Alckmin.
A terceira saída para Maia seria pela via do Legislativo, a menos ambiciosa porque já está na mão: candidata-se a deputado e disputa a presidência da Câmara, onde comanda um poder com força nos dois primeiros anos do novo governo e novo presidente da República, a quem teria apoiado na campanha. Nessa hipótese, as vitórias de Maia são hoje previsíveis, devido ao apoio que conseguiu reunir na Câmara, embora a renovação esperada seja devastadora.
Qualquer desses caminhos, pelos quais não é necessário optar agora, mas estão bem amarrados, exige distanciamento prudente de Michel Temer, do atual governo e, sobretudo, de embates temperamentais que o façam perder as vantagens agora constatadas. Ou seja, Maia não pode errar.
As duas primeiras condições Maia as atende, facilmente. Mas a terceira... O problema de Rodrigo é seu temperamento. Os amigos tentam evitar que entre de cabeça em discussões tão ácidas quanto inúteis, deixe de lado a nervosia, mantenha o controle da resposta, transfira alguns embates com o governo para os aliados. A maioria das brigas de Maia são incompreensíveis para os mais racionais por isso: ele encrespa a pele sem razão. O problema agora é colocar radar em todos os lugares para não deixá-lo sem monitoramento.
Outra recomendação: evitar, de qualquer maneira, a volta do tema da traição, do quinta coluna, do conspirador. Preferem chamar esse conjunto de sentimentos ruins de "insatisfação", e essa está grande e forte na Câmara, especialmente entre os mais fiéis a Maia, embora não consigam também ligar o nome à pessoa e dizer insatisfação com o que.
Depois de três semanas de tensão, ameaças veladas e, sem medo da palavra, conspiração, Rodrigo Maia ontem deu uma entrevista para declarar sua imparcialidade, cancelar viagem ao Chile durante a votação da denúncia e exaltar o seu respeito ao presidente da República. Só não fez reconhecer que alguém, sob seu comando, publicou irregularmente no site da Câmara a delação do doleiro Lúcio Funaro, contra Temer, que estava sob sigilo decretado pelo STF. Essa "defesa" dos seus funcionários os ofendidos tiveram que engolir.
Temer, por sua vez, foi a um almoço com rodriguistas, na casa do maior deles, Heráclito Fortes. Foram muitos movimentos da terça em desdobramento do almoço do Bandeirantes e precedidos de um jantar, na segunda, e um café da manhã, na própria terça, encontros nos quais a nova ordem foi detalhada e digerida por Maia.
Que precisa criar um discurso, um projeto de governo, reunir apoiadores no mercado financeiro, empresários amigos e um partido forte para entrar como protagonista, ao lado de Alckmin (o mais provável) ou não, na sucessão.
Maia não fará força para tirar Temer. No seu grupo afirma-se que não é hora de pular do barco, pois ainda não há outro construído e podem cair no mar. Mas se Temer sair, ele é o favorecido. Rodrigo vive hoje a mesma situação que o presidente viveu há um ano, com vantagem. Temer não tinha as opções de futuro à disposição de Maia.
O time de Rodrigo Maia extrapola o grupo que esteve com Alckmin e inclui: Jovair Arantes (PTB-GO), Alexandre Baldy (PTN-GO), Fernando Monteiro (PP-PE), Pauderney Avelino (DEM-AM), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Efraim Filho (DEM- PB), Paulo Azi (DEM-BA), Heráclito Fortes (PSB- PI), Evandro Gussi (PV-SP), Orlando Silva (PCdoB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA), Rubens Bueno (PPS-PR) Benito Gama (PTB-BA).
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