sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Suicídio fiscal | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

Os ainda incipientes indicadores recentes que apontam a retomada do crescimento da economia brasileira não podem servir de chancela para o Congresso abandonar a agenda de ajuste fiscal que está em curso desde o ano passado e ainda longe de uma solução. Ignorar as medidas de ajuste fiscal propostas pela equipe econômica, sem colocar no lugar alternativas que sustentem o aumento de receitas e a redução de despesas, simplesmente pavimenta uma trajetória de explosão da dívida pública que vai barrar mais adiante a volta do crescimento.

As contas simplesmente não fecham sem as medidas. Podem até ser outras medidas. Mas é preciso continuar com o ajuste. No entanto, não há nenhuma medida na agenda própria do Congresso, que os líderes costuram como contraponto ao governo, capaz de diminuir no curto prazo os desequilíbrios fiscais. Muito menos o discurso fácil da necessidade de reforma tributária. Todos sabem que ela vai demorar para ser aprovada e mais ainda para surtir efeito. Não é resposta para problemas de curto prazo como os rombos gigantescos e sucessivos das contas públicas.

Será praticamente um suicídio fiscal que cairá no colo do próximo presidente da República o abandono da agenda econômica. O ajuste será compulsório em 2019 e – sem dúvida alguma – virá com medidas ainda mais duras do que as que foram propostas pela equipe econômica. Não há como sustentar o processo de crescimento com as contas desequilibradas. Se reeleitos em 2018, os mesmos líderes que agora referendam uma agenda que passa longe do ajuste fiscal vão acabar votando a favor de medidas que elevam tributos e impõem sacrifícios maiores para a população. Não tem como fugir desse caminho.

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