Em documento de 89 páginas entregue ontem à Câmara, a defesa do presidente Temer classificou a atuação do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que apresentou a denúncia de obstrução de Justiça e organização criminosa contra ele, de “indecente e ilegal”. Os delatores da JBS Ricardo Saud e Joesley Batista são chamados de “Iscariotes”. O advogado do presidente afirma que a denúncia contra Temer é “tentativa de golpe”, “armada e forjada”. Os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco também apresentaram defesa. A Câmara deve apreciar a denúncia até o fim deste mês.
Defesa de Temer diz que denúncia é ‘golpe’
Advogado do presidente classifica atuação de Janot como ‘indecente e ilegal’ e também ataca Joesley e Funaro
Leticia Fernandes e Cristiane Jungblut | O Globo
-BRASÍLIA- A defesa do presidente Michel Temer entregou ontem à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara um documento de 89 páginas recheado de críticas ao ex-procuradorgeral da República Rodrigo Janot, cuja atuação foi qualificada como “indecente e ilegal”; aos delatores Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, que o presidente chamou de “Iscariotes”; e ao operador Lúcio Funaro, descrito na peça como “malfeitor contumaz”.
Ao entregar o documento, o criminalista Eduardo Carnelós, responsável pela defesa do presidente, classificou a denúncia como “armada, forjada” e uma “tentativa de golpe” contra Temer. Segundo Carnelós, não há nada que indique prática de crimes por parte do presidente, denunciado por obstrução à Justiça e organização criminosa. Ele afirmou que há um sentimento de que a atual procuradora-geral, Raquel Dodge, não tem o mesmo “ímpeto” acusatório de Janot.
— É uma das mais absurdas acusações de que se tem notícia na História do Brasil. Trata-se de uma peça absolutamente armada, baseada em provas forjadas, feita com o objetivo claro e até indisfarçado de depor o presidente da República, constituindo, portanto, uma tentativa de golpe no Brasil — afirmou Carnelós.
Em recado a deputados federais, Temer afirma estar “sereno” e, ao contrário de Janot, que teria “doentia obsessão” por condená-lo, o presidente não considera que o Congresso seja composto por “bandoleiros”.
“Ao contrário do ex-procurador-geral da República, o defendente sabe que essa Casa não é composta por bandoleiros, mas por homens e mulheres que se dedicam ao atendimento das necessidades da população brasileira e, por isso, tem consciência da importância de não permitir a instalação de mais uma grave crise político-jurídica”, diz o documento do presidente.
Com citação ao padre Antonio Vieira, o advogado pede que os deputados “deem sepulturas dignas” aos mortos, mas sem permitir que “dirijam os destinos” dos que têm dignidade:
“Aos mortos, deem-se sepulturas dignas, mas não se lhes permita (...) que dirijam os destinos dos que lutam para ter respeitada sua dignidade em vida. E mais não se diga, até porque, lembrando Padre Vieira, ‘Ocorre aqui ao pensamento o que não convém sair à língua’”.
Em mais um ataque a Janot, a defesa diz que o ex-procurador persegue Temer e foi “indecente e ilegal” ao longo do processo:
“A obsessão de Rodrigo Janot, seu mal agir, foi antiético, imoral, indecente e ilegal!”.
Ao dizer que o ex-procurador e algoz do presidente agiu “sem decoro” ao falar amplamente sobre o processo, a defesa de Temer compara a forma de ação do ex-procurador à “conduta espalhafatosa” do promotor que acusou Adolf Eichmann, conhecido como o arquiteto do Holocausto e responsável por milhares de mortes de judeus na Europa. O documento traz uma frase da filósofa judia Hannah Arendt, que escreveu sobre o julgamento de Eichmann e chamou os relatos de “a banalidade do mal”.
‘PINÓQUIOS DA JBS’
“E, como refletiu Hannah Arendt a respeito da conduta espalhafatosa do promotor encarregado de levar a cabo a acusação contra Adolf Eichmann, ‘A Justiça não admite coisas desse tipo; ela exige isolamento, admite mais a tristeza do que a raiva, e pede a mais cautelosa abstinência diante de todos os prazeres de estar sob a luz dos refletores’”.
Em sua defesa, Temer também faz críticas aos delatores da JBS, Joesley Batista e Ricardo Saud, chamados de “pinóquios da JBS”, “mentirosos” e “interesseiros”.
“Mentirosos, arquitetos de infâmia, irresponsáveis interesseiros!”, ataca a defesa.
Um dos áudios citados pelo advogado do presidente é uma conversa entre Saud e a advogada Fernanda Tórtima, que participou do acordo de delação premiada de executivos da empresa. Na gravação, Saud diz à advogada que “precisam construir melhor a história do Temer”, porque, segundo ele, os fatos ainda não teriam ficado muito claros.
“Mais uma prova de que a indústria de mentiras com o objetivo de obter impunidade foi a partitura da grotesca obra executada pelos alcaguetas pinóquios da JBS”, escreve o advogado.
A defesa do presidente Temer também ataca o doleiro Lúcio Funaro, que disparou acusações contra o presidente.
“Mentir não é problema para o malfeitor contumaz, cuja experiência indica que basta dedurar para ter as consequências de seus crimes esvaecidas”, diz o documento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário