- Valor Econômico
Para ministro, reforma interessa governo e oposição
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, descarta inteiramente a hipótese de que sua eventual candidatura a presidente possa de alguma forma prejudicar a votação e aprovação da reforma da Previdência. Primeiro porque o fato de se considerar "presidenciável" não significa necessariamente que vá disputar a cadeira de Michel Temer no Palácio do Planalto. Segundo por achar que todos os partidos empenhados em assumir o poder em 2019 têm interesse na aprovação da reforma da Previdência.
Queira ou não, o fato é que Meirelles, no momento em que se reconheceu "presidenciável", passou a ser visto e tratado como potencial candidato. Sua passagem pelo Conselho Consultivo da J&F está sob o microscópio da imprensa e dos adversários. E agora surgiram denúncias sobre uma suposta conta não declarada no exterior, na realidade um fundo que o ministro usava para fazer benemerência e efetivamente estaria declarada no Brasil.
O ministro acha que está blindado tanto num caso como no outro. No aspecto político, se diz convencido de que não é o fato de ser considerado "presidenciável" que deverá atrapalhar a reforma previdenciária, a joia da coroa perseguida pelo presidente Michel Temer. E não acredita nessa hipótese por "duas razões importantes", segundo afirmou ontem ao Valor, em declaração à coluna.
"A primeira delas é que o fato de eu reconhecer que seja presidenciável não quer dizer que eu esteja formalizando uma candidatura", diz Meirelles, num jogo de palavras mais comum aos políticos do Congresso do que ao ministro da Fazenda. Faz parte. Meirelles entrou para a política na eleição de 2002, quando foi eleito deputado federal por Goiás, e desde então procura se adaptar ao terreno escorregadio no qual se movem com desenvoltura deputados, senadores, governadores e presidentes da República.
"Como sabemos este é um termo que começou a ser usado no Brasil para alguém que é cotado para determinada posição", deslizou Meirelles, quando indagado sobre a possibilidade de a reforma ser prejudicada pelo lançamento de sua candidatura. "Eu, por exemplo, fui cotado como ministeriável num período em que eu, inclusive, não aceitaria essa posição. E não assumi". Meirelles não disse, mas se referia provavelmente ao governo Dilma Rousseff, quando foi sucessivamente indicado para o Ministério da Fazenda pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A pessoa pode ser ministeriável, 'governadorável', etc. Mas isso não quer dizer que a pessoa seja candidata a esta posição", diz, recorrendo a circunlóquio característico dos políticos - e muito mais ainda de pré-candidatos. "Em resumo isso significa apenas que existe um grande número de pessoas que acham que essa [sua candidatura] é uma boa alternativa e me dizem isso o tempo todo".
Trata-se de uma situação, segundo Henrique Meirelles, que ele não pode "simplesmente ignorar". É uma realidade. Mas também faz questão, nessas conversas, de deixar claro que não é candidato e - principalmente - que está "100% do tempo concentrado [em suas atribuições] na Fazenda". Parece até candidato.
"Em relação à reforma da Previdência", afirma o ministro presidenciável, "eu acho que todos os partidos que têm alguma ambição de estar no poder em 2019 têm interesse, mesmo que não declarado, na aprovação da reforma da Previdência". Por um motivo evidente, segundo Meirelles: "Hoje está claro que a reforma da Previdência é uma necessidade, porque senão o Brasil vai ter problemas graves no futuro - fiscais e de insolência".
Nesses termos, acredita o ministro da Fazenda, "o que melhor se pode fazer para um governo que assume em 2019 é aprovar a reforma da Previdência, além do que isso garante um crescimento forte do Brasil no próximo ano, que é um ano eleitoral". Por esses motivos, Meirelles é taxativo: "Eu não acredito que os deputados vão votar contra a Previdência por estarem preocupados com o fato de eu ser ou não ser candidato. Eles vão votar na Previdência por interesse próprio".
De um lado - argumenta - "porque são da base aliada e serão beneficiados por uma atividade econômica mais sólida no ano que vem, e os que não são [a oposição] e pretendem estar em 2019 [no poder] pelo menos não vão ter que enfrentar esse problema".
Aposta duvidosa
Na sucessão presidencial de 1994, o PT ficou contra o Plano Real e foi literalmente atropelado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que venceu a eleição daquele ano no primeiro turno. As más línguas dizem que Aloizio Mercadante, um dos gurus de Dilma Rousseff no governo, garantiu a Lula que o Real faria água, a exemplo dos planos que o precederam no governo Sarney. Aposta errada, como se viu, que terminou por desconstruir o favoritismo com que o petista entrou na disputa. O PSDB vive um dilema parecido para 2018.
Todos os indicadores apontam para a melhora progressiva da economia até as eleições, com inflação e juros baixos e crescimento do PIB estimado num intervalo que vai de 2% até 4%, segundo a previsão mais otimista. As projeções são igualmente otimistas em relação à retomada do emprego. A sensação de bem estar, em princípio, deve beneficiar os candidatos da situação. No governo, o PSDB será parceiro do sucesso; fora corre o risco de ficar com o ônus de ter apoiado Temer e não levar o bônus.
O pior dos mundos para o PSDB é levar para a convenção de dezembro a decisão de ficar ou sair do governo, muito embora os dois pré-candidatos a presidente do partido, o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goias, Marconi Perillo, defendam o desembarque este ano. O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendendo a saída do governo, jogou ainda mais lenha na fogueira. É possível que Tasso e Marconi se entendam, mas apesar do favoritismo, ainda não pode ser dito que a candidatura Geraldo Alckmin como o nome da centro direita para 2018 é um fato consumado.
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