Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - No fim de 2007, o PSDB tinha os votos que faltavam para aprovar a prorrogação da CPMF, o imposto do cheque criado em sua gestão (1994-2002), mas os sonegou ao governo à última hora. O PSDB temia que uma vitória do PT fosse vista, àquela altura, como um sinal definitivo de força que levaria inevitavelmente ao terceiro mandato de Lula.
Algo parecido ocorre agora, quando o PSDB se recusa a aprovar a reforma da Previdência. Com a economia em recuperação, existe o receio do pré-candidato Geraldo Alckmin de colocar no jogo quem parecia fora: o governo. A discussão imbricou de vez com as eleições de 2018 e hoje é a maior ameaça à aprovação.
A reforma do Estado já foi um princípio programático do partido. O PSDB do milênio, no entanto, é um partido como qualquer outro interessado em disputar o poder. Não por acaso enterrou o fator previdenciário, em 2015, uma das pedras da engenharia tucana para manter de pé a Previdência, quando caiu a proposta da idade mínima na reforma tucana.
Uma ala do PSDB acha precipitado o rompimento com o Palácio do Planalto, pois julga que o governo Michel Temer não está morto e seria melhor tê-lo ao lado que na oposição, em 2018. Governo é como cobra, dizem os políticos, até morta mete medo. A aprovação mesmo restrita da reforma pode qualificar o governo Temer na disputa.
Não há muita dúvida no Palácio dos Bandeirantes e arredores do que podem fazer o presidente e sua trupe com cartas mais fortes na mão. Os atuais inquilinos do Palácio do Planalto são animais políticos que não deixarão escapar uma oportunidade para tentar influir na própria sucessão. Mesmo em baixa, hoje eles já estão empenhados na busca de uma alternativa de centro-direita que definitivamente não passa por Geraldo Alckmin.
Temer não perdoa o comportamento de Alckmin nas duas vezes em que precisou e não contou com o apoio do governador para salvar o pescoço - e o governador agora deixa claro porque não estava nem um pouco preocupado com a sorte do presidente. O grupo palaciano só vai reforçar as posições de Alckmin se o candidato do PSDB se tornar uma alternativa real e irresistível de poder, e ele ainda está longe disso, segundo as pesquisas.
Nas conjecturas governamentais, a sucessão depende do que vai acontecer com duas pré-candidaturas chamadas de "irmãs siamesas" no Planalto: a do ex-presidente Lula da Silva e a do deputado Jair Bolsonaro. As duas se alimentam uma da outra e a de Bolsonaro deve cair, se Lula não puder disputar. Alckmin é visto como o candidato de um partido dividido, portanto, enfraquecido na disputa para chegar ao poder
A alternativa à radicalização será a tal candidatura de centro. Falta achar o nome. Se Temer for a 10%, 12% de aprovação, vai levar animação à própria trupe, uma vez que imagina-se que o PMDB, um partido enraizado nacionalmente, e o governo poderiam somar outros 10%, 12% capazes de jogar a reeleição no segundo turno; do contrário, será preciso encontrar um nome. Neste cenário se movimenta o ministro Henrique Meirelles (Fazenda). Ele seria o legítimo herdeiro do "legado", mas até janeiro outros nomes serão considerados, inclusive do PSDB.
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