- Folha de S. Paulo
Em relatório recente sobre mudança tecnológica e emprego, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) cita a estimativa de que 65% das crianças que ingressam hoje na escola vão trabalhar, no futuro, em profissões que ainda não existem.
Vivemos o tempo da mudança e da velocidade da mudança, e os estudiosos já têm nome para ele: Quarta Revolução Industrial. Ela funde métodos de produção com as tecnologias de informação e conecta os domínios físicos, digitais e biológicos. Cria, assim, interação direta entre pessoas, equipamentos, sistemas e produtos.
Para tratar dos impactos dessa revolução inédita em profundidade e amplitude, o Fórum Econômico Mundial escolheu o Estado de São Paulo para sediar sua 13ª edição latino-americana, que acontecerá na capital paulista nos dias 13, 14 e 15 de março de 2018.
Em janeiro, em preparação para o evento, eu irei a Davos para a reunião anual de líderes que tratam de temas de interesse global, em especial os econômicos.
A escolha do WEF é motivo de orgulho para nós. Síntese das potencialidades do Brasil, o Estado de São Paulo é o maior centro econômico e industrial do continente e tem também o maior parque tecnológico, algumas das melhores universidades da América Latina e institutos de pesquisa reconhecidos por contribuições científicas nas mais diversas áreas de conhecimento.
Aqui, temas como inteligência artificial, internet das coisas, robótica, nanotecnologia, engenharia genética, veículos autônomos, aplicações das impressoras 3D e muitos outros que já se anunciam como realidade serão apresentados e discutidos pela comunidade científica, líderes políticos e representantes de organizações internacionais.
Para o professor Klaus Schwab, engenheiro e economista alemão que fundou e preside o Fórum Econômico Mundial, as mudanças trazidas pela Quarta Revolução Industrial são tão profundas que, na história da humanidade, nunca houve um momento tão potencialmente promissor ou perigoso.
No livro "A Quarta Revolução Industrial", ele lembra que 17% da população do planeta (1,3 bilhão de pessoas) ainda não experimentou nem mesmo a segunda Revolução Industrial, porque não tem acesso à eletricidade.
Do mesmo modo, metade da população mundial (4 bilhões) ainda desconhece o potencial da terceira, digital, porque não tem acesso à internet.
Para a humanidade se beneficiar de fato da revolução em curso, diz Schwab, a qualidade de seus líderes será mais decisiva agora do que em qualquer outra época histórica.
Não é possível só assistir a mudanças de tal envergadura: precisamos nos preparar para elas, especialmente para o seu impacto sobre os modelos de produção e emprego.
Desigualdade e caminhos para o desenvolvimento serão temas fundamentais da próxima edição latino-americana do Fórum Econômico Mundial.
Embora as novas tecnologias permitam produzir mais com menos gente, a economia moderna ainda não criou o consumo sem salário.
Habituar-nos a essas novas nomenclaturas, conhecer a fundo seu real significado, suas possibilidades e as mudanças que elas sinalizam é imperativo para que o desenho de novas relações sociais em todos os âmbitos seja traçado.
A discussão também não pode prescindir do diálogo com a sociedade. São Paulo e o Brasil receberão o Fórum Econômico Mundial em 2018 com a certeza de que, para que as pessoas se beneficiem de fato do mundo novo criado pela interação tecnológica, o caminho é feito de democracia, crescimento e emprego; de responsabilidade fiscal, investimento maciço em educação de ponta e execução de políticas públicas competentes, inovadoras, capazes de estimular o desenvolvimento em todos os níveis.
-----------------
Geraldo Alckmin, 64, é governador (PSDB) do Estado de São Paulo, cargo que também ocupou de 2001 a 2006. Foi deputado estadual (1983-1987) e federal (1987-1995)
Nenhum comentário:
Postar um comentário