Joelmir Tavares / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A Rede, partido da presidenciável Marina Silva, iniciou um movimento para atrair a Frente Favela Brasil (FFB) e abrigar os candidatos da nova sigla, que está em fase de formação e não obteve registro oficial a tempo de disputar o pleito de outubro.
As conversas estão mais avançadas em relação a candidaturas no Estado de São Paulo, mas as negociações podem levar a uma parceria em âmbito nacional.
Liderada por Celso Athayde, produtor cultural e fundador da ONG Cufa (Central Única das Favelas), a frente pediu em agosto do ano passado o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Agora o grupo precisa colher ao menos 487 mil assinaturas pelo país para virar um partido (são 35 hoje no Brasil).
Sem um número de urna —e com a ambiciosa meta de ter 40 candidatos a deputado estadual e federal em todos os Estados—, a organização procura uma sigla disposta a receber, de forma independente, seus integrantes.
"Estamos conversando com outras, mas a Rede é a que mais se alinha aos nossos princípios até agora. E já nos reconhece como partido", diz Nilza Camilo, presidente do núcleo paulista da FFB. "Enquanto a gente tem a massa, eles têm a classe média."
Representantes do PSOL, do PCdoB e do PDT também fizeram convites à frente. A decisão final depende ainda de discussões internas e sairá nas próximas semanas.
A proposta da legenda de Marina é que a filiação de membros da FFB vá além do aspecto burocrático de que para ser candidato é preciso estar em um partido.
Com a incorporação, o grupo e a Rede buscariam também alianças em propostas e programas de governo, a partir dos pontos de contato entre os princípios de cada um.
"Respeitamos muito a Frente Favela Brasil e achamos que ela faz um trabalho importante", diz José Gustavo Barbosa, dirigente da sigla ao lado da ex-senadora. "O movimento dialoga com uma parte da sociedade que, infelizmente, está exilada da política."
A FFB se propõe a mobilizar negros, pobres e moradores de favela na defesa de seus interesses. Na visão do novo partido, essas pessoas estão mal representadas no poder.
Em São Paulo já foi lançada a pré-candidatura do rapper Rappin Hood e, no Distrito Federal, a do DJ Jamaika, ambos para o Senado. Personalidades como o ator Lázaro Ramos e os cantores MV Bill e Sandra de Sá apoiam a frente.
PRÓS E CONTRAS
A Rede diz que quer ajudar na formação da sigla e que abrirá espaço para a FFB em suas discussões internas e na construção de candidaturas, inclusive para o Executivo.
Em contrapartida, a entrada de candidatos competitivos aumentaria a chance de a legenda, criada em 2015, engordar suas bancadas. Hoje, no Congresso, tem quatro deputados e um senador.
Como prevê seu estatuto, nas chamadas candidaturas cidadãs o filiado não tem obrigação de participar da dinâmica partidária, mas precisa defender causas coerentes com os valores da Rede.
Pelas bases do acordo, membros da FFB eventualmente eleitos ficarão livres para migrar para o seu partido de fato assim que ele conseguir regularização. "A gente torce muito por isso", diz Guilherme Coelho, representante da Rede em São Paulo que está à frente das tratativas.
Um receio apresentado pela frente é sobre a capacidade do partido de Marina de ajudar concretamente na eleição de seus membros, já que a estrutura do partido é tímida se comparada com a de outros.
A Rede argumenta, por outro lado, que possui experiência em arregimentar militância orgânica (o maior exemplo seria a sua própria campanha de fundação ) e em organizar arrecadações pela internet.
O partido promete emprestar essas ferramentas para impulsionar não só as candidaturas do parceiro, mas também sua coleta de assinaturas.
Para participar da eleição, um partido precisa estar totalmente regularizado até um ano antes da votação.
Em 2013, a Rede viveu situação parecida. Com o registro rejeitado àquela altura, optou por filiar seus candidatos ao PSB. Marina se alojou na legenda, pela qual acabou concorrendo a presidente.
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