Estratégia, no entanto, não deve servir de pretexto para que prefeitura tire recursos do carnaval, um dos símbolos do Rio e fonte de renda para a cidade
O carnaval de 2018 ameaçou atravessar bem antes de os sambistas entrarem na Marquês de Sapucaí. Em junho do ano passado, o prefeito Marcelo Crivella anunciou que cortaria em 50% (R$ 13 milhões) a verba destinada às escolas do Grupo Especial. Argumentou que os recursos seriam remanejados para dobrar as diárias das creches conveniadas com a prefeitura. A notícia alvoroçou o mundo do carnaval. Até porque o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, e demais dirigentes haviam apoiado o então candidato do PRB, que à época acenara com a manutenção da subvenção. Posteriormente, diante das críticas, a prefeitura conseguiu, por meio da Lei Rouanet, patrocínio para os desfiles, o que resultou numa cota extra de R$ 500 mil para cada escola. Mas não pôs fim à gritaria.
Convém lembrar que a subvenção da prefeitura às escolas era prática corriqueira até a inauguração do Sambódromo, em 1984. A construção da Passarela rompeu esse ciclo, à medida que deu independência financeira aos sambistas. A Liesa, criada naquele mesmo ano, passou a organizar o espetáculo com o dinheiro da venda dos ingressos e dos direitos de transmissão dos desfiles. No ano 2000, quando se comemoraram os 500 anos do Descobrimento, o então prefeito Luiz Paulo Conde decidiu dar uma subvenção de R$ 500 mil para cada escola do Grupo Especial. O dinheiro extra, que melhorou o nível das apresentações, acabou sendo mantido pelas administrações seguintes. Até Crivella virar o jogo.
Não se discute a importância de aumentar os recursos para as creches conveniadas. Mas a conta não pode ser tão simplória. É preciso levar em consideração que o dinheiro gasto pela prefeitura na festa é um investimento. Os números são da própria Empresa de Turismo do Município (Riotur): no ano passado, o carnaval carioca atraiu 1,1 milhão de visitantes e movimentou R$ 3 bilhões na economia da cidade. Os blocos reuniram cerca de 6 milhões de foliões. E a ocupação dos hotéis ficou em torno de 78%, o que representou um crescimento de 8,3% em relação ao ano anterior.
Mas a tesoura afiada do prefeito teve pelo menos um efeito positivo, ao estimular a criatividade das escolas de samba. Sem recursos jorrando como em anos anteriores, a ordem foi tirar da cabeça o que não se tem no bolso. E os carnavalescos costumam ser bons nisso. O enredo da Mangueira, por exemplo, “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, foi inspirado diretamente no corte de verbas. Deverá custar R$ 1 milhão a menos que o de 2017. Mas não é só. Estruturas de carros alegóricos foram reaproveitadas sem prejuízo para o desenvolvimento dos temas, tanto em escolas do Grupo Especial quanto nas do Acesso. E as compras foram feitas de modo a não sobrar material nos barracões. É esperar para ver o resultado. Porém, isso não deve servir de pretexto para que a prefeitura tire verba de uma festa que é um símbolo do Rio.
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