Apresentador, pressionado pela Rede Globo, deve decidir semana que vem
Igor Gielow / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encorajou a candidatura de Luciano Huck à Presidência, mas elencou uma série de questões que o apresentador da Rede Globo deverá enfrentar caso decida entrar na disputa.
FHC e Huck conversaram em jantar na noite da quinta (8), em meio a uma intensa onda especulativa sobre as intenções do tucano em estimular um potencial concorrente do virtual presidenciável de seu partido, o governador Geraldo Alckmin (SP).
Presidente de honra do PSDB e principal incentivador da candidatura Huck desde o ano passado, FHC havia dito horas antes que o apresentador tinha "estilo de peessedebista".
Segundo a Folha apurou, não foi colocada na conversa a possibilidade de filiação do global ao partido.
Entre os pontos colocados por FHC está o fato de que uma candidatura Huck seria lida imediatamente no meio político como uma "candidatura da Globo", o que poderia ser explorado negativamente por seus adversários.
Em conversa com amigos antes do jantar, o ex-presidente ouviu ponderações sobre a falta de experiência do apresentador para o jogo político, particularmente na negociação com partidos no Congresso Nacional, e concordou com elas.
O namoro de FHC com Huck tem irritado aliados de Alckmin, que recebeu telefonema do ex-presidente para tentar aplacar o desconforto, conforme o "Painel" relatou.
Na manhã de sexta, FHC aproveitou uma entrevista à Rádio Guaíba (RS) para reclamar da pressão que tem sofrido de tucanos por sua movimentação --além de Huck, ele conversou recentemente com o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), com o governador Paulo Hartung (MDB-ES) e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Segundo o ex-presidente, há "incivilidade" de quem critica conversas com atores políticos de várias matizes.
Ele reiterou o que já havia dito: apoia Alckmin, que ainda vai disputar prévias com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, como candidato do PSDB à Presidência.
Há também uma preocupação do governador em contemporizar a divergência.
Primeiro, porque ela simboliza desunião em seu partido que vem marcando esse momento da corrida eleitoral. Segundo, porque ainda há estrategistas tucanos que acreditam que Huck possa vir a ser um apoiador importante da campanha do partido --ainda que não como um eventual vice, como alguns especularam, basicamente porque o apresentador descarta a hipótese por completo.
Na manhã de sexta, Alckmin tentou minimizar a frase de FHC sobre o estilo de Huck, dizendo que se tratava de "um elogio". Ele também fez comentários favoráveis ao apresentador, que empatou com ele com 8% de intenções de voto na mais recente pesquisa do Datafolha, em cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje inelegível por condenação em segunda instância por corrupção.
Se o global se lançar, o PPS deverá ser sua sigla, apesar da restrição apontada pelo próprio FHC sobre a falta de musculatura do partido.
O DEM, cujas lideranças vieram a público negando apoio a Huck, já participou de conversas no sentido contrário. Neste momento de pré-campanha, negativas e assertivas fazem parte do jogo para posicionamento, não pelo seu valor de face.
Huck recebeu ultimato da Globo para decidir se irá disputar a eleição ou permanecer na empresa. A resposta virá após o Carnaval.
Estrategistas do apresentador estão divididos na hora de apostar o desfecho da novela da candidatura.
Alguns acreditam que Huck vai voltar atrás de sua decisão do ano passado de não concorrer, já que há grande pressão devido às dificuldades de Alckmin nesse início de campanha.
Além disso, seu time de colaboradores, com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga à frente, tem sido entusiasta da empreitada.
Outros creem que o ultimato da Globo fará o mesmo efeito de movimento análogo no ano passado, até porque inclui no veto a trabalhar na emissora a mulher de Huck, a também apresentadora Angélica.
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