quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Ranier Bragon: O Reformista

-Folha de S. Paulo

"Às vezes as pessoas não vão com a minha cara." As palavras de Michel Temer a uma rádio da Bahia nesta quarta (31) são mais uma tentativa do próprio de explicar ao mundo e talvez a ele mesmo o enigma de como o autodeclarado presidente reformador pode ter o índice de popularidade que tem.

Segundo o Datafolha, a aprovação à sua gestão continua dormitando em vexatórios 6%. A ida aos amistosos programas de Silvio Santos, Ratinho e Amaury Jr. de nada adiantou.

A não ser para o redator do anuário de esquisitices, que certamente ficou bastante feliz. Ao final da conversa com Silvio Santos, Temer tentou emplacar uma blague supostamente relacionada ao bordão "quem quer dinheiroooo" do apresentador.

"Vou fazer uma coisa que você faz com suas colegas de trabalho, vou passar um dinheiro pra você, eh eh eh" Ninguém entendeu a intenção. Todos concordam que não deu certo.

Seria exagero dizer que as pessoas não vão com a sua cara por causa da falta de talento para o stand-up. Temer escolheu linhas de ação específicas, em especial atender a demandas do empresariado e de alas mais conservadoras do Congresso.

É verdade que sofre com a péssima imagem de todo o mundo político, mas também é verdade que suas ações estão longe de significar alguma mudança. Tome-se o caso da escolha do ministro do Trabalho, vinculada exclusivamente ao fisiologismo. Nada a ver com problemas práticos de trabalhadores e empresários.

Relega-se a pasta ao mero toma lá, dá cá. Escolhido o nome de agrado do PTB, esse acabou vetado por José Sarney devido a questiúnculas regionais. No lugar, tentou-se emplacar a filha de Roberto Jefferson, cuja experiência na área parece se resumir a não entender o que passa na cabeça de pessoas que recorrem à Justiça por ter direitos trabalhistas lesados.

Temer diz ter como desejo fazer um grande governo reformista. Vai precisar mais do que marketing canhestro para chegar perto disso.

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