- Folha de S. Paulo
Na opinião dos diretores do Datafolha Mauro Paulino e Alessandro Janoni, a inelegibilidade de Lula aprofunda o que consideram ser uma crise democrática no Brasil, como argumentaram nesta quarta (31) na Folha. Peço licença aos dois colegas, por quem tenho respeito e estima, para discordar.
A angular o argumento dos autores está o fato de que, nos cenários em que Lula não aparece, a parcela dos que neste momento não têm candidato alcança 36% do eleitorado, segundo pesquisa do Datafolha.
O número decerto é bom gancho para discutir a representatividade dos políticos e pode ser visto como uma avenida aberta para os que almejam o Planalto. Mas está longe de indicar uma crise democrática.
Nos EUA, onde o voto não é obrigatório (como deveria ser o caso no Brasil, aliás), todas as eleições presidenciais dos últimos cem anos tiveram parcela do eleitorado que não escolheu nenhum candidato superior à detectada aqui pelo Datafolha. Na última eleição, 40% nem apareceram na urna, opção tão democrática como o voto branco e o nulo.
A partir das simulações de segundo turno, os autores afirmam que, "se a eleição fosse agora, o Brasil poderia eleger um presidente rejeitado por quase 70% da população".
Bem, a eleição não é agora, mas em outubro. Estamos ainda longe de saber até quem vai ser candidato. Ademais, a inviabilização jurídica de Lula mal acaba de acontecer, é normal que o rearranjo de nomes leve algum tempo para assentar –inclusive na "seleção natural" interna dos partidos, como discutido em texto de outro colega, Ranier Bragon.
Problema mesmo para o país seria mudar as regras, e especialmente uma lei moralizadora como a da Ficha Limpa, para permitir que um determinado candidato pudesse concorrer. Isso sim seria uma crise democrática --bem do tipo que os venezuelanos vêm experimentando nas duas últimas décadas.
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