- O Globo
O Rio está cravado de dores, e essa é intolerável. A morte de Marielle é uma derrota com tantas dimensões, que a entenderemos aos poucos. Hoje é o dia dos sentimentos fortes: o susto, a raiva, a tristeza, a indignação. Mas é preciso entender toda a vastidão dessa perda para o Rio e o país.
Marielle venceu barreiras que muitas vezes parecem intransponíveis para milhões de jovens pobres, negros, da periferia das cidades brasileiras e o fez através da educação. Realizou o que tantos têm sonhado para a redução da exclusão brasileira: o caminho dos estudos. Nada foi forte o suficiente para bloquear seu projeto, nem mesmo a maternidade precoce que impede tantos sonhos de meninas. Por isso era ela símbolo de que o caminho era possível.
O Brasil precisa de líderes, de preferência jovens, porque se eles desistirem não haverá futuro. Marielle era uma líder jovem, consagrada pelas urnas e que defendia com garra os direitos dos que ela queria representar. A ideia do político como representante do povo já se perdeu nesse tempo de tantos políticos agarrados a interesses privados, mas a vereadora estava sendo no seu mandato exatamente o que defendeu na campanha. Essa virtude pública, que é a razão de ser do político, também é derrotada com essa morte.
Na nossa sociedade desigual, as injustiças vão se acumulando conforme a soma das discriminações. Ser mulher, negra e ter nascido pobre é uma carga pesada demais. Marielle ao ser quem era virou inspiração. Essa morte quebrou o espelho no qual outras meninas negras e pobres olhariam para alimentar seus sonhos.
O Rio está cravado de dores e essa é intolerável. A resposta das autoridades precisa ser urgente e mesmo se ela chegar não será suficiente, porque seus amigos, companheiros e liderados continuarão com a sua ausência. O que Marielle poderia ter sido no futuro? Essa é a pergunta que o país carregará. A vereadora tinha um futuro brilhante pela frente na luta por sonhos coletivos. Essa morte é uma derrota imensa para o país.
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