- O Globo
Vereadora foi vítima de um crime político. O assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, é mais uma tragédia nessa coleção de fatos trágicos que nos consome, nós, moradores do Rio. Mas, muito mais que isso, nós brasileiros, que lutamos todos os dias pela manutenção da democracia em meio a dificuldades de diversas conotações, desde as comezinhas do cotidiano cada vez mais difícil, até a radicalização política que impede uma ação conjunta de forças apartidárias, quando momentos como esse nos confrontam.
Marielle não foi assassinada por ser mulher, nem por ser negra, nem por ser de esquerda. Ele foi vítima de um crime político, porque é disso que se trata, assim como foi um crime político o assassinato em 2011 da juíza Patrícia Acioli, morta na porta de casa com 21 tiros, alvo de uma emboscada.
Assim como Marielle, a juíza Patrícia Acioli era mulher, branca, e morreu pela mesma razão: era titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo e atuava em diversos processos em que os réus eram PMs do município, e levou à prisão cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio. Onze PMs foram presos e condenados pelo seu assassinato.
O que existe no Rio em processo acelerado há muito tempo é a ampliação da atuação de bandidos, ou ligados ao tráfico, como agentes ou como cúmplices remunerados no caso de policiais civis e militares, ou como membros de milícias formadas por militares que disputam com traficantes o controle do território.
A vereadora Marielle Franco foi assassinada porque denunciava a atuação criminosa de policiais em Acari, e sua morte deveria servir de motivação para que as forças civis e militares se unissem no Rio para combater o crime organizado, venha de onde vier.
Comparar a morte da vereadora do PSOL com a do estudante Edson Luís no Calabouço, em 1968, só serve a quem quer aproveitar sua morte para politizar a situação, não contra o crime organizado que o cometeu, mas contra a intervenção federal na Segurança do Rio.
Paradoxalmente, o assassinato da vereadora serve para comprovar quão necessária é a intervenção, e a urgência de uma reformulação completa dos aparatos de Segurança do estado. E, ao contrário do que pregam os extremistas, serve também para reforçar a ideia de que só com uma ação do Estado que priorize os direitos humanos poderemos nos diferenciar e confrontar o crime organizado.
A maioria quase total dos brasileiros não gosta do presidente Michel Temer, as pesquisas estão aí demonstrando, mas aproveitar essa tragédia brasileira para gritar “Fora, Temer!” chega a ser doentio. Uma minoria não aprova a intervenção federal na Segurança do Rio, mas atribuir a ela a morte da vereadora Marielle Franco chega a ser nojento.
O que esse assassinato demonstra é que os criminosos, fardados ou não, estão muito seguros de si, buscando a confrontação com as forças de Segurança e com uma agente pública representante dos cidadãos que lutam para livrar a cidade e o estado da influência do crime organizado.
Marielle Franco representa os mais de 46 mil que votaram nela para vereadora e todos os demais que não votaram nela, mas gostariam de ver em ação na Câmara Municipal outros tantos como ela, que se contrapunha à ordem corrupta dominante.
Sua morte trágica e brutal, que teve como efeito colateral perverso a morte de seu motorista Anderson Gomes, mostra como o Rio está abandonado, sem qualquer controle dos órgãos públicos, e reafirma a necessidade imprescindível da intervenção na Segurança Pública, para se tentar chegar a um mínimo de estabilidade nesta questão que acontece aqui há muito tempo: mata-se policial aqui como se matam moscas, já mataram juíza, funcionários de presídio e, agora, a vereadora.
A ação dos bandidos não tem limite, e a lei precisa se impor diante desses bandos que tomaram de assalto o estado, principalmente os maus políticos, que originam a degradação dos valores com a corrupção tomando conta dos poderes do Estado.
Diante da impotência, da roubalheira e da corrupção que dominam o governo estadual, a Segurança Pública ficou à deriva, sem comando. Esse crime deve apressar as medidas para começar um controle severo das polícias e do esquema de Segurança Pública. Balas perdidas matam inocentes, autos de resistência, muitas vezes, encobrem execuções, está tudo errado. O Rio é um caso grave de perda total de controle do Estado, que precisa ser retomado.
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