Legenda tenta filiar até cinco tucanos durante janela que permite troca de sigla sem risco de punição
Igor Gadelha e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo
Sem o apresentador Luciano Huck como presidenciável do partido, o PPS faz ofensiva para atrair os "cabeças pretas" do PSDB, como ficaram conhecidos deputados mais jovens da sigla que fazem oposição ao governo do presidente Michel Temer. A legenda tenta filiar até cinco tucanos desse grupo durante a janela que permite parlamentares trocarem de sigla sem risco de punição, que vai até 7 de abril, o que a ajudará a sobreviver à chamada cláusula de barreira.
As negociações com o PPS estão sendo encabeçadas pelos deputados tucanos Daniel Coelho (PE) e Pedro Cunha Lima (PB), principais porta-vozes dos cabeças pretas. Eles negociam diretamente com o presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP), com o qual Coelho e Cunha Lima se reuniram nesta terça-feira. Freire foi ministro da Cultura do governo Temer e deixou o cargo após o presidente ser atingido pela delação de executivos do grupo J&F.
“A decisão será nos próximos dias, para o sim ou para o não”, disse Coelho ao Broadcast Político. Segundo o parlamentar pernambucano, foi o PPS que procurou os tucanos com a promessa de criação de um novo partido juntamente com grupos da sociedade civil que defendem renovação política. "O convite é para fundar o Movimento 23, o M23, partido que nasce do PPS, Agora, Acredito, Renova, Livres e novos parlamentares", contou.
O presidente do PPS confirmou as negociações com os deputados do PSDB. "Interesse temos. Mas não tem nada definido ainda", disse Freire. A filiação, se confirmada, ajudará a legenda do ex-ministro a cumprir a cláusula de barreira aprovada em outubro pelo Congresso. A cláusula exige que os partidos elejam este ano pelo menos 13 deputados em, no mínimo, nove Estados para terem acesso ao fundo partidário e tempo de TV. Hoje, o PPS tem 9 deputados.
No PSDB, a saída de Coelho e Cunha Lima é tratada como uma questão de disputa regional e não teria relação com o movimento que rachou o partido no ano passado. A reportagem apurou que, caso se filem, os dois deputados terão o comando do PPS em seus Estados, o que os ajudaria a viabilizar candidaturas majoritárias em 2018. Coelho, por exemplo, poderia assumir no PPS o espaço deixado pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann (PE), que decidiu não disputar as eleições.
Secretário-geral do PSDB, o deputado Marcus Pestana (MG) questionou a possível saída de Cunha Lima, já que seu pai, o senador Cássio Cunha Lima (PB), é um dos principais líderes dos tucanos no Nordeste. "Essa geração nova não tem a solidez programática partidária. O quadro partidário está em crise. O Daniel tem problemas regionais de convivência dentro do PSDB. Ele diz que ainda está pensando. Agora não consigo entender a lógica do Pedro Cunha Lima porque o Cássio é vice-presidente do Senado pelo PSDB, é uma das maiores lideranças regionais. Vai ser muito estranho. Mas cada cabeça uma sentença. O PPS é um partido irmão", afirmou.
Debandada. O movimento de debandada de parte dos cabeças-pretas do PSDB é algo ventilado desde a época em que o senador Tasso Jereissati (CE) comandava o partido. A ala mais jovem da legenda tinha boa interlocução com o senador cearense e defendia que ele assumisse definitivamente a Presidência da sigla, já que o senador também tinha perfil de oposição ao governo Temer. Jereissati ficou no comando do partido por alguns meses em substituição ao senador Aécio Neves (MG), que se licenciou da presidência da sigla após ser atingido pela delação da J&F.
Os cabeças-pretas e uma ala da juventude do PSDB chegaram a negociar filiação à ala do PSL intitulada "Livres", tendência libertária que comandava 12 diretórios estaduais e que prometeu aos tucanos que a legenda passaria a atuar como uma espécie de "movimento", com viés liberal na economia e na política. Esses tucanos, porém, desistiram da ideia após o deputado Jair Bolsonaro (RJ) acertar filiação ao PSL para ser candidato à Presidência da República pelo partido.
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