Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Apesar de ter deixado o governo Michel Temer e das eventuais trocas de farpas entre os dois partidos, o PSDB tem conversado com o MDB sobre uma aliança eleitoral na sucessão de 2018. O pré-candidato do partido, Geraldo Alckmin, entende que algumas das atuais candidaturas vão se desmanchar, a campanha vai se afunilar e o PSDB terá todas as condições de passar para o segundo turno, se estruturar eficientemente o partido e a campanha eleitoral.
Um interlocutor do mercado financeiro que recentemente esteve com o governador contou que ele costuma usar a seguinte metáfora: o céu está cheio de aviões, inclusive o dele, que permanece no ar enquanto outros, por vários motivos, estão sendo obrigados a pousar ou abatidos em pleno ar.
Pelo lado do MDB, as conversas envolvem o presidente do partido, Romero Jucá (RR), com o aval de Temer. O presidente ainda guarda mágoas do comportamento de Alckmin nas duas vezes em que sua cabeça esteve a prêmio no Congresso, mas é pragmático o suficiente para tentar entrar em 2019 com um aliado no Palácio do Planalto. A permanecer a legislação vigente, no dia 1º de Janeiro de 2019 o presidente perde o foro especial. Ele e os ministros do primeiro escalão que respondem à Justiça.
Se a aliança vingar, o vice de Alckmin pode ser do PMDB, muito embora hoje o nome mais cotado para a função seja o do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM) - ACM Neto, prefeito de Salvador, está inclinado a cumprir o mandato até o fim. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) poderia ser o vice de Alckmin, mas ele só cogita a Presidência e hoje já se fala no governo que o mais provável é que continue como ministro. A decisão será tomada nos próximos dias.
Alckmin se prepara para uma guerra clássica de posições. Para tanto quer engrossar o máximo possível o tempo de rádio e televisão do PSDB, na campanha. Atualmente, o governador tem garantidos o PSD e o PTB, além de uma articulação bem encaminhada com o DEM, que ontem lançou a pré-candidatura do deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara dos Deputados, à sucessão.
A grande cartada seria a atração do MDB para a coligação, tendo em vista o tempo de televisão do partido, que é o maior de todos. Acertando com o MDB de Michel Temer, o tucano levaria de roldão o DEM, o PP, o PR - e talvez o PRB - para uma aliança capaz de unificar o centro político. O MDB é a chave para trazer esses partidos médios que, em outra circunstância, também poderiam aderir, mas a um preço mais alto. Além disso, são os partidos com os quais o Planalto conta para a "candidatura do governo" anunciada no início da semana pelo ministro Wellington Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
O potencial da candidatura Alckmin, caso consiga unificar o centro, pode chegar a oito partidos. Já o maior desafio é o desempenho pífio do governador nas pesquisas eleitorais. Empresas de consultoria com prestígio no mercado, caso da LCA, já começaram a fazer simulações para seus clientes sobre a hipótese de uma disputa em segundo turno entre Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro, em trânsito para o PSL.
Nos bastidores, Alckmin tem se mostrado um articulador eficaz, mas ainda muito voltado para São Paulo e o PSDB. O governador já fechou a chapa João Doria-Gilberto Kassab (para o governo do Estado). O empresário Paulo Skaf é figura fundamental em qualquer acordo a ser feito, podendo mesmo ser candidato ao governo com algum outro aliado da super-coligação. Para o PSB, partido do vice-governador Marcio França, a prioridade virou a reeleição do governador Paulo Câmara, de Pernambuco, que está levando o partido de volta para os braços do PT.
O tempo de televisão é ainda mais importante porque seus eventuais adversários, à exceção do PT, PDT e PSB - se tiver candidato, o que é cada vez mais improvável - terão de se contentar com aparições-relâmpago na televisão. O caso de Marina Silva (Rede) é o mais dramático: se ela não recuperar deputados durante a janela partidária de março, nem sequer poderá participar dos debates da televisão, o que exige o partido ter um mínimo de cinco candidatos, a menos que os demais concordem.
A ideia de unificar o centro é praticamente consensual no espectro político do centro para a direita, mas tem esbarrado em desavenças que vão desde distribuição de cargos até a reforma da Previdência. Na origem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também defendeu a união de centro. A dispersão, mesmo com a saída de Lula, segundo as pesquisas, não apresentou uma solução que pudesse ser chamada de natural. Pior - para o centro - jogou sobre a mesa um segundo turno que pode ser disputado por Ciro e Bolsonaro.
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