Mudanças na Câmara acentuam fragmentação de sistema e apontam dificuldades para Temer
Encerrada mais uma temporada de troca-troca nos partidos políticos, pelo menos 80 integrantes da Câmara dos Deputados resolveram vestir outra camisa antes do início da campanha eleitoral.
Graças a modificações introduzidas na legislação em 2016, os parlamentares tiveram um mês para mudar de legenda sem correr o risco de sofrer as punições previstas em lei para a infidelidade partidária. A janela se fechou na sexta (6).
Segundo o levantamento feito por esta Folha, o número de deputados que aproveitaram a oportunidade equivale a 16% da Câmara, o que aproxima o saldo desta temporada do padrão histórico.
Estatísticas compiladas pelo cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostram que 20% dos deputados eleitos em 2010 trocaram de sigla antes de concluir o mandato.
Como atestam os depoimentos dos políticos que atravessaram a rua, o troca-troca não tem motivação ideológica, mas tudo a ver com a disputa pelos escassos recursos disponíveis para financiamento da campanha deste ano.
Uma vez que doações de empresas estão proibidas, ganharam relevância agora os fundos bilionários à disposição dos partidos, alimentados por recursos públicos.
A maioria das siglas em que o sistema político brasileiro se fragmentou não tem condições de disputar um troféu como a Presidência da República. Para elas, o número de cadeiras na Câmara é a variável crucial para continuar no jogo.
Quanto maior a bancada, maior a fatia do dinheiro disponível para as eleições e do tempo reservado para propaganda no rádio e na televisão. Daí a corrida que se deu nas últimas semanas pelo passe de deputados bons de voto e com maiores chances de reeleição.
A movimentação deste ano serviu para fortalecer partidos de centro-direita como o DEM, o PP e o PR, sócios da coalizão que sustenta o governo Michel Temer (MDB).
Legendas nanicas que entraram no pleito presidencial com candidatos bem cotados nas pesquisas, como o PSL de Jair Bolsonaro e o Podemos, de Alvaro Dias, também viram suas bancadas crescerem.
As três siglas que controlaram a Presidência da República por mais tempo desde a redemocratização —PT, PSDB e MDB— ainda exibem vigor, mas encolheram.
O fisiologismo desavergonhado, a permissividade da legislação e a pulverização do poder no Parlamento terão consequências para o atual governo e o que vier a sucedê-lo. A agenda de Temer tende a perder prioridade no Congresso.
Os postulantes que cobiçam sua cadeira podem começar a se preparar para negociações difíceis quando chegar a hora de governar.
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