- O Valor Econômico
Condenações no mensalão podem prejudicar alianças
Joaquim Barbosa arrastou o quanto pôde as negociações para se filiar ao PSB. Ainda não obteve a garantia de que terá a legenda para disputar a Presidência da República em outubro, mas pelo menos terá tempo suficiente para brigar pelo espólio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Barbosa tem pela frente uma armadilha. Lula colocou parte do Judiciário e dos órgãos de investigação na sua lista de adversários, e o novo pré-candidato não é um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal qualquer. Foi algoz do PT no julgamento do mensalão e, para seus críticos, o pioneiro no papel de juiz que atua com um olho na opinião pública e outro num projeto político pessoal.
É preciso destacar que, enquanto exerceu o cargo de ministro do STF entre 2003 e 2014, ele sempre rechaçou estar interessado em mudar de ramo. No entanto, o flerte de Barbosa com a política e de políticos com Barbosa é antigo. Uma tentativa de aproximação mais do que compreensível: há anos Barbosa é apontado por pesquisas de opinião pública como um potencial candidato de peso, capaz de personificar alguém de origem humilde que galgou aos mais importantes cargos da República. Um perfil que já comprovou ser fórmula de sucesso eleitoral, mas com uma diferença. Barbosa não terá problemas em se apresentar como alguém que de fato combateu a corrupção no país.
Nas manifestações de junho de 2013, a maioria dos manifestantes que foram às ruas de São Paulo ouvidos pelo Datafolha votaria em Barbosa nas eleições do ano seguinte. Ele atingiu 16% das intenções de voto em fevereiro de 2014 e chegou a assustar adversários como Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva.
O ex-ministro do STF também se manteve bem posicionado quando começou a aumentar o apoio pelo afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Em 2015, quando perguntados em quem votariam se houvesse uma nova eleição, 13% o mencionaram. Ele chegaria ao mesmo patamar de Marina Silva, mas ficaria atrás de Aécio Neves e Lula. No ano seguinte, Barbosa foi citado como a personalidade mais confiável de uma lista de 12 autoridades feita pelo Datafolha.
Até hoje o ex-ministro do STF ostenta baixos níveis de rejeição, em comparação aos demais pré-candidatos a presidente. Mais recentemente, conforme publicou o Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor, pesquisa interna encomendada pelo PT apontou o potencial de Barbosa deslanchar e se descolar de outros candidatos de centro, chegando quase a atingir 10% das intenções de voto.
Neste momento, é o único que pode ser considerado um "outsider", por não ser um político tradicional, com chances de chegar ao segundo turno.
Tal patrimônio o coloca numa posição de destaque neste momento de largada da pré-campanha eleitoral, sobretudo se isso for somado à presença que o PSB tem no Nordeste, região em que o ex-presidente Lula tem forte apoio popular.
Petistas e simpatizantes também devem se recordar que Barbosa criticou a destituição de Dilma Rousseff, chamando o processo de impeachment de "tabajara" e espetáculo patético. Em um movimento para se posicionar no tabuleiro político, criticou em seu perfil nas redes sociais o que chamou de avanço das forças conservadoras no país.
Barbosa ainda consegue se equilibrar entre quem defende de forma aguerrida os governos do PT e a parcela da população que comemora a agonia vivida pelo ex-presidente e seu partido, mas em algum momento não terá mais como não desagradar a alguém. Afinal, suas propostas para a área econômica ainda são desconhecidas.
O ex-ministro também precisará demonstrar capacidade de agregar apoios não só dentro de seu partido, no qual ainda enfrenta muitas resistências, mas vindos de outras siglas. Todo governo precisa de uma maioria sólida, para aprovar reformas e projetos de seu interesse. A garantia da governabilidade será um outro desafio para uma eventual administração Barbosa. No julgamento do mensalão, o então ministro do STF teve um papel fundamental para a condenação de dirigentes de diversos partidos, os quais, devido ao tamanho de suas bancadas, dificilmente poderão ser ignorados pelo próximo presidente da República.
Ato falho
Sábado, 7 de abril de 2018, São Bernardo do Campo (SP). O ex-presidente Lula aproveitou a oportunidade que lhe foi dada pelo juiz Sergio Moro e protagonizou um grande ato político, antes de se colocar à disposição das autoridades policiais para o cumprimento da pena que lhe foi imposta no caso do tríplex do Guarujá.
O local escolhido foi simbólico e estratégico, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, entidade que o projetou no cenário político. Lula jogou em casa, conhecia o terreno e estava cercado de apoiadores dispostos a protegê-lo. Teve tempo para organizar um ato no qual, além de homenagear a ex-primeira dama Marisa Letícia, discursou a eleitores de todo o país em horário nobre. Como se tivesse ainda o poder de convocar cadeia nacional de rádio e televisão.
O ex-presidente repetiu que é inocente e alvo de perseguição. Atacou adversários, elogiou correligionários e fortaleceu parcerias com aliados de outros partidos, inclusive pré-candidatos que podem formar uma frente de esquerda com o PT ou defender seu legado durante a campanha.
Experiente, Lula não pediu explicitamente votos. Mas fez questão de agradecer em público seu anfitrião, o presidente do sindicato: "O Wagner é o companheiro que está cedendo este prédio para a gente fazer toda a nossa campanha".
O evento pode até ser ignorado pela Justiça Eleitoral, mas de lá sairão imagens não só para as campanhas do PT, mas também de candidatos de outros partidos. Pela legislação, as convenções partidárias ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto. O prazo para registro das candidaturas é 15 de agosto e só a partir do dia seguinte a realização de comícios estará oficialmente liberada. Em teoria.
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