- O Globo
Até agora, fracassaram as tentativas de ‘estancar a sangria’ provocada pela Lava-Jato. Insiste-se em várias frentes, diz o juiz Luís Barroso. Principalmente no Judiciário
Pela vontade do juiz Marco Aurélio Mello, amanhã o Supremo volta a analisar a prisão de réus condenados em segunda instância, como é o caso de Lula. Se acontecer, vai ser difícil explicar à sociedade por que se retoma discussão encerrada semana passada, depois de 11 horas e pelo voto da maioria do tribunal.
Seria a quarta tentativa nos últimos 25 meses, e a segunda apenas neste abril, de retorno ao regime onde todos são iguais, porém alguns são mais iguais que outros — especialmente, os de “colarinho branco”, afortunados no banco ou no protagonismo político.
O juiz Mello foi provocado por duas ações com o timbre do Partido Ecológico (atual Patriota) e do Conselho Federal da OAB.
Elas foram protocoladas no Supremo entre os dia 18 e 19 de maio de 2016, uma semana depois de Michel Temer assumir o Planalto.
A aflição daqueles dias, com a derrubada de Dilma Rousseff, encobria a preocupação de duas centenas de políticos — com ou sem mandato — investigados na Lava-Jato.
Negociava-se “estancar a sangria”, nas palavras do senador Romero Jucá gravadas por Sérgio Machado, antigo caixa do PMDB.
Então, foram levadas ao Supremo essas duas ações contra a prisão em segunda instância.
A colaboração de Machado foi aceita na semana seguinte. Ele prometeu devolver R$ 75 milhões em propinas recebidas e entregou gravações de conversas com a cúpula do partido.
Numa delas, do mês anterior, o coletor conversava com o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Eis um trecho:
Machado: “O PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles... É o próximo da vez.”
Renan: “O Aécio [Neves] disse isso lá... E que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...” Machado interrompeu: “Colocando o Supremo... Fazer um pacto de Caxias. Vamos passar uma borracha no Brasil daqui para a frente.” Renan citou sugestões recebidas: “Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso, porque aí você regulamenta a delação...” Machado: instância, “Acabar que com está esse apavorando negócio da todo segunda mundo.” Renan: “A lei diz que não pode prender depois da segunda instância. E ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.” “Acaba isso”, concorda Machado. Renan completa: “E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [STF].” “Com eles... Eles têm que estar juntos...” Fracassaram todas as tentativas de estancar a sangria. Insiste-se, porém, numa “enorme Operação Abafa deflagrada em várias frentes”, disse o juiz Luís Roberto Barroso, no julgamento da semana passada.
A liquefação política une PT, PMDB e PSDB, entre outros. A lista de beneficiários da eventual reversão da prisão em segunda instância começa com Lula e inclui personalidades como Eduardo Azeredo (PSDB), exgovernador de Minas. Pioneiro do mensalão, ele foi condenado a 20 anos e um mês, e vai a novo julgamento dia 24, em Belo Horizonte.
Com novos recursos judiciais, o caso do líder tucano pode acabar em prescrição dos crimes, depois de 11 anos longos anos de repouso nos escaninhos da Justiça mineira.
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