quinta-feira, 19 de abril de 2018

Economia global cresce mais, assim como os riscos: Editorial | Valor Econômico

As perspectivas de crescimento da economia global melhoraram no curto prazo, mas os riscos espreitam no horizonte, alerta o Fundo Monetário Internacional. As advertências de que algo pode dar muito errado não é nova, mas ganhou um tom mais premente com o início da normalização monetária nos Estados Unidos, da possibilidade de que o mesmo aconteça na zona do euro e do crescimento que já se encontra acima do potencial nas economias avançadas. A esses riscos o FMI acrescentou agora o das tensões comerciais, com as ameaças dos Estados Unidos à China e o crescente sentimento protecionista.

O FMI elevou a projeção de crescimento global para 3,9%, resultado favorecido pela maior expansão da economia americana (2,9%), pela aceleração da economia da zona do euro (2,4%) e pelo ritmo mais forte das economias emergentes (4,9%). Entre os últimos, Índia e China apresentam as maiores taxas (7,4% e 6,6% respectivamente), enquanto o Brasil, que teve a previsão revista para cima (2,3% em 2018), não chega à metade da velocidade média de expansão de seus pares.

A robustez do crescimento sincronizado elevará a inflação no futuro próximo e obrigará os bancos centrais que não o fizeram a desmontar seus estímulos monetários. Para o FMI, é aí que mora o perigo. Se para a zona do euro isso deve ocorrer, segundo o Fundo, em meados de 2019, no caso dos EUA, já com o ciclo de alta de juros em curso, a intensidade pode surpreender os mercados e provocar um início de turbulências globais.

Uma nova crise pode começar a partir dos EUA, embora o FMI, em seus relatórios desta semana não o singularize. O FMI aponta que a política econômica do país está indo para o lado errado. Os estímulos fiscais decorrentes do corte de impostos para empresas ajudarão a aquecer uma economia já em pleno emprego, com maior chance de alta da inflação e de uma atitude mais contundente do Fed.

Os mercados têm sinalizado esta preocupação. Reagindo aos números de março, quando o núcleo do CPI subiu 2,1%, os rendimentos dos títulos do Tesouro de dois anos chegou a 2,4%, o maior desde 2008. Cresce aos poucos também a aposta dos investidores de que o Fed realizará mais três, e não dois, aumentos dos juros. Ainda assim, essas altas não seriam preocupantes se bem sinalizadas e comunicadas.

É a eventualidade de surpresa inflacionária nos EUA, de fato, a maior causa de preocupação. O FMI diz que a política econômica americana precisa ser "recalibrada", pois os déficits do governo estão crescendo e atingirão em breve US$ 1 trilhão, colocando mais pressão sobre as taxas de financiamento. Um repique inflacionário, uma reação mais forte do Fed ou ambos teriam alto poder desestabilizador porque o mundo está hoje mais endividado.

A economia global deve mais hoje do que no auge da crise financeira, em 2009, ou 12 pontos percentuais do PIB global a mais do que naquele ano - são US$ 164 trilhões. Este foi o efeito colateral das políticas de relaxamento monetário nas principais economias, que estimularam o endividamento, a tomada de riscos, a alavancagem e aumentaram a fragilidade financeira. A diferença é que os débitos hoje estão concentrados nos governos e metade deles em três países - EUA, Japão e China. Países e governos endividados em dólar, investidores e bancos com descasamento em moedas e empresas com elevados débitos seriam atingidas por uma rápida alta dos juros.

No capítulo dívida, o Brasil não está bem, embora disponha de amplas reservas e tenha baixa vulnerabilidade externa. Com uma dívida bruta de 87,3% do PIB, pelos cálculos do FMI - que pode avançar a 96,3% do PIB em 2023 - o país ultrapassa a média latino americana, de 66,4%, e está bem acima da média dos emergentes, de 50% do PIB - esta, por sua vez, a maior taxa desde a crise dos anos 1980. "Altas dívidas e déficits dos governos são motivos de preocupação", sublinha o FMI, com base na possível mudança de chave da política monetária americana. Em ambiente de grande endividamento, uma recessão encontraria os governos incapacitados de realizar políticas contracíclicas.

Para o Brasil, o Fundo recomenda "acelerar" a consolidação fiscal, o que já é urgente agora e o será ainda mais quando o cenário externo se tornar adverso.

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