Um dia depois de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) se tornar réu no STF, o ex-governador e pré-candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin, defendeu ontem que ele não dispute a eleição este ano. Como presidente da sigla, Alckmin pode barrar a candidatura, mas disse esperar que a decisão parta do senador. Em resposta, Aécio afirmou que a decisão será tomada “coletivamente” em Minas.
Eleições. Após senador se tornar réu no STF, pré-candidato do PSDB diz que o ideal é ele não se candidatar; mineiro resiste e afirma que sua decisão será tomada ‘coletivamente’
Alckmin pede que Aécio fique fora das eleições
Pedro Venceslau / Renan Truffi | O Estado de S. Paulo
RECIFE, BRASÍLIA - Presidente nacional do PSDB e pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto, o exgovernador Geraldo Alckmin defendeu ontem publicamente, pela primeira vez, que o senador Aécio Neves (MG) não dispute a eleição deste ano. Em resposta, Aécio afirmou ao Estado que sua candidatura será decidida “coletivamente” em Minas Gerais.
Anteontem, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o senador pelos crimes de corrupção passiva e obstrução da Justiça, com base na delação do Grupo J&F. O mineiro ainda é investigado em oito inquéritos na Corte. Aécio nega ter cometido atos ilegais.
Alckmin disse, em entrevista à rádio Bandeirantes, ser “evidente” que o melhor cenário para a sigla é que Aécio não concorra nestas eleições. O ex-governador paulista afirmou, contudo, esperar que a decisão parta do próprio senador e seja anunciada “nos próximos dias”.
“Aécio sabe o que penso. É claro que o ideal é que não seja candidato, é evidente. Acho que ele mesmo, assim como tomou a decisão de se afastar da presidência do partido (quando surgiu a denúncia), tomará essa decisão. Vamos aguardar a decisão dele. Tenho certeza de que vai tomar e se dedicar à questão processual e à defesa.”
Na entrevista, Alckmin admitiu que o episódio é “muito ruim” e disse que cabe ao colega de partido demonstrar sua inocência. “O que se faz numa democracia: o Judiciário toma as medidas que tem que tomar, a pessoa se defende e é julgada”, afirmou o presidenciável, alvo da delação da Odebrecht, mas cujo inquérito foi enviado à Justiça Eleitoral em São Paulo.
Após a decisão da Primeira Turma do Supremo, deputados e líderes do PSDB passaram a pressionar Alckmin para evitar que o caso contamine a campanha presidencial. Conselheiros e aliados do ex-governador já vinham defendendo que ele usasse seu poder de veto para barrar o senador nas urnas, mas Alckmin resistia. Uma cláusula feita pelo próprio Aécio quando comandava o PSDB dá ao presidente do partido a prerrogativa de ter a palavra final sobre candidaturas nos Estados.
Minas. Mesmo correligionários leais ao senador mineiro reconhecem que a presença de Aécio no palanque poderia causar embaraços ao pré-candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia. Aécio, porém, resiste a abandonar a candidatura, embora aliados digam, reservadamente, que ele não deve concorrer neste ano.
Na noite de ontem, antes de participar de jantar no apartamento do deputado Fábio Faria (PSD-RN), Alckmin disse que vai procurar os tucanos de Minas para discutir o cenário eleitoral. Segundo apurou o Estado, o presidenciável afirmou a interlocutores que também iria esperar a “temperatura baixar” antes de voltar a tratar de uma candidatura de Aécio.
Ontem, ao Estado, o senador disse que tem “acompanhado o esforço” de Alckmin para fortalecer sua candidatura ao Planalto. “E torço para que ele tenha êxito, porque será o melhor para o Brasil. Quanto à minha candidatura, ela será decidida coletivamente em Minas Gerais, como sempre ocorreu e no momento certo”, afirmou Aécio.
O senador também voltou a se defender das acusações contra ele. Denunciado por tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato, ele foi gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, do Grupo J&F. “Sobre a denúncia, concordo com Alckmin que situações diferentes não devem ser comparadas sob o risco de serem cometidas graves injustiças. No meu caso, vou provar agora minha correção”, declarou o mineiro.
PSD. Ao mesmo tempo em que busca evitar a contaminação de investigações da Lava Jato à sua pré-candidatura, Alckmin tenta ampliar apoios. De imediato, o tucano investe numa articulação com o PSD. Alckmin jantou ontem, em Brasília, com a bancada de deputados do partido e o seu fundador, o ministro Gilberto Kassab, que já anunciou apoio à campanha do ex-prefeito João Doria (PSDB) ao governo de São Paulo. Agora, o PSD deve apoiar Alckmin.
Nas primeiras semanas fora do Bandeirantes Alckmin tem se dedicado a costuras políticas. Na semana passada, o exgovernador esteve com o presidente do PSC, Pastor Everaldo, mesmo após indicativo de que o partido cristão vai lançar o expresidente do BNDES Paulo Rabello de Castro à Presidência. Nos bastidores, tucanos já dão como certas alianças com PTB, PSD e PPS. A ideia agora é investir em siglas que já tem pré-candidatos: além do PSC, o DEM
Colaborou Elizabeth Lopes
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