A janela da troca partidária se fechou e a paisagem que se formou não é bonita. As mudanças ainda não foram todas computadas, mas é certo que o partido que pulou para o segundo maior da Câmara em número de deputados, rivalizando com o MDB e os tucanos, o PP, é o mesmo que teve maior número de integrantes atingidos pelas investigações da Operação Lava-Jato. Outras legendas invertebradas, como o PR e PSL (pela filiação de Jair Bolsonaro) avançaram, ao lado do Democratas, que mais que dobrou de tamanho (de 21 para 44 deputados).
A dança das cadeiras, protagonizada por 80 parlamentares, obviamente, não tem nada a ver com ideologia, súbita mudança de identidades programáticas. Com 29 legendas representadas na Câmara, a permanência ou mudança de um deputado de um lugar para o outro têm escassa relevância em si. Neste ano, porém, é diferente. As empresas foram proibidas de financiar campanhas. O bazar que se abriu na Câmara foi bastante frequentado porque é ali que está o dinheiro de verdade, legal, para que os atuais incumbentes possam competir com alguma chance de vitória.
O troca-troca por recursos de campanha sucede outro movimento ruim e o complementa. As cúpulas partidárias ganharam mais poder para determinar quem receberá recursos do fundo partidário criado, de R$ 1,7 bilhão até agora - os partidos ainda não desistiram de tentar arrancar mais verbas públicas para essa finalidade. Como se sabe, os escândalos da Lava-Jato ressaltaram a participação intensa dessas cúpulas e, como são elas que definirão o destino dos recursos, terão em primeiro lugar seus próprios interesses atendidos. Manter o foro privilegiado é missão urgente para os chefes de muitas legendas.
A mudança da regra de financiamento e a pressão da Lava-Jato produziram uma reação cujo resultado pode ser a menor renovação da Câmara. Não é só a sobrevivência política - mais de 100 parlamentares estão a igual distância das urnas e das delegacias da Polícia Federal. O movimento de autoproteção choca-se com o anseio popular, expresso nas pesquisas, de repudiar e fazer uma limpeza naquela que é tida como uma das piores legislaturas desde a redemocratização.
É paradoxal que quanto mais necessária é a renovação, mais o movimento dos partidos vai no sentido contrário. Os efeitos deletérios da reação partidária se farão sentir com força no próximo governo. As eleições presidenciais estão envoltas na mais absoluta incerteza, com as faixas do centro e da esquerda abertas à disputa entre vários competidores. O mesmo poderá não ocorrer com o Congresso.
Com exceção do Democratas, ex-PFL, egresso da Arena da ditadura, que tem a pretensão de representar uma faixa liberal do eleitorado não plenamente atendida pelos tucanos, a correria da janela partidária mostrou o fortalecimento do abominável centrão - que, se referendado pelas urnas, continuará a cobrar um alto preço do próximo presidente para oferecer apoio no Congresso.
Como vários dos partidos do centrão não lançarão candidatos à Presidência, terão folga de recursos para custear candidaturas que possam engrossar suas fileiras. Se a estratégia vingar, na próxima legislatura terão mais parlamentares, mais tempo de televisão e mais recursos do fundo partidário. Por isso, políticos que não gozam exatamente das preferência das cúpulas partidárias ou que contarão com menos recursos do que gostariam para suas campanhas saíram em busca de outras legendas.
O PT, em relação à posse em 2014, perdeu 12 deputados e ficou com 57 - nenhum deles trocou agora de casaca - e continua a ter a maior bancada do Congresso. A seguir estão empatados, ou com diferença irrisória o PP e o MDB, na casa dos 54 deputados cada. O DEM chegou mais perto do PSDB (44 e 46 respectivamente), sendo seguidos por dois partidos oportunistas, o PSD, de Gilberto Kassab e o PR (41 e 40 deputados). O PSB, que guarda alguma coerência à esquerda do centro, perdeu quase 10 parlamentares. A Rede, de Marina Silva, com seus mais de 22 milhões de votos na eleição de 2014, foi reduzida a 2 deputados.
Assim, no movimento preparatório para as eleições de outubro, os partidos com programa, PT, PSDB, PSB e Rede, não ganharam posições ou retrocederam, enquanto as legendas de ocasião avançaram. Caberá ao eleitor desmanchar, ou não, essa trama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário