- Valor Econômico
O PT diz que Lula é o candidato mesmo sabendo que não é
Nesta segunda-feira, a bolsa caiu, o dólar subiu, a desconfiança do mercado financeiro se elevou e as explicações foram, além da deterioração do quadro econômico internacional, a força de um fato genuinamente brasileiro: Paulo Pedrosa não foi nomeado ministro das Minas e Energia e deixou o governo acéfalo de poder para aprovar a privatização da Eletrobras. Que está emperrada, diga-se, não no governo, mas no Congresso. No Ministério o projeto correu célere com a participação e a influência das empresas de energia e do então secretário-executivo. As autoridades que deixaram seus cargos não têm mais votos no Congresso do que as suas substitutas.
Isso pareceu, apenas, aproveitamento máximo de uma onda de pressão.. A inquietação real, e que deve estar abalando mercados de todos os tipos - financeiro, político, empresarial, acadêmico - é a indefinição, até este momento, da sucessão presidencial. A prisão de Lula não teve o poder para colocar em movimento as demais candidaturas, ainda. Uma vez imobilizado o candidato que ocupa o primeiro lugar nas pesquisas, a expectativa era que houvesse, de imediato, uma mexida maior no quadro das campanhas. O mundo girou mas, por enquanto, em torno do seu próprio eixo.
O PT manteve a candidatura Lula, apesar da prisão, não dando espaço ao início de trabalho com o seu substituto e sucessor. Lula também mostrou, no comício de despedida de São Bernardo, no sábado, que não está com muita vontade de indicar seu substituto na cédula. Basta ver a escolha que fez, ao apontar o candidato Guilherme Boulos (Psol), como a dizer que se não for candidato... vejam só quem pode ser.
No mesmo sábado dessa despedida, Marina Silva (Rede) lançou-se oficialmente candidata, num senso de inoportunidade ímpar, e não conseguiu sequer fazer uma bancada com número capaz de levá-la a participar dos debates na TV. Assim é difícil crescer além dos índices atuais.
Ciro Gomes é o mais citado como escolha alternativa do PSB e do PT. Seu potencial de crescimento deve ser o maior entre todos, mas precisa de um bom empurrão. Se recebesse apoio do PT, ou mesmo do PSB, estaria aí o fato novo para dar-lhe impulso. Esses apoios atrairiam outros, tornando a candidatura mais viável. Mas ele mesmo tem dito que está tamponado, para dizer que se sente obstruído.
Depois de uma filiação quase clandestina e ainda não se sabe se foi em Brasília ou em São Paulo, no dia da posse do governador mais importante do partido, Márcio França, o ex-ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, desapareceu de novo. A expectativa é que nas pesquisas seja um fenômeno do tipo Marina Silva: consiga um índice razoável de apoio popular mesmo que permaneça sem alianças e consistência político-partidária para crescer e governar, caso seja eleito.
No PSB já recebeu até nota de desestímulo à sua candidatura assinada pelo presidente do diretório do Paraná, Severino Nunes de Araújo, político na ativa que foi da confiança de Miguel Arraes. Joaquim tem um apoio minoritário no partido - um grupo liderado pelo deputado federal Júlio Delgado, de Minas Gerais -, mas nem o principal nome do PSB naquele diretório, Márcio Lacerda, manifesta entusiasmo. Outra parte do PSB quer ficar com Ciro, um grupo pende para Geraldo Alckmin, há a candidatura própria do PSB já inscrita formalmente, de Aldo Rebelo.
De seus aliados DEM, Solidariedade, PP, que estão conversando com o PSB, Marcio França já ouviu que estarão fora se Barbosa for o candidato. Os adeptos de Joaquim vão procurar estimulá-lo para não desistir, porque está bem nas pesquisas e seria uma espécie de Lula, levando parte de sua herança, sem os defeitos de Lula. Mas não se sabe como vai ganhar o eleitorado para sair do patamar ainda baixo em que deve aparecer.
Geraldo Alckmin prescinde apresentações quanto aos seus índices, estacionado que está nas pesquisas desde sempre. Ora fazem terrorismo com ele, dizendo-lhe que Luciano Huck se filiou a algum partido na semana passada, na surdina, ora o fantasma de João Doria candidato a presidente e não a governador reaparece. Doria estaria esperando os avanços das investigações da Lava-Jato em São Paulo para cair com tudo sobre a candidatura presidencial do PSDB.
Se houvesse um grupo importante de aliados, politicamente consistente para a governabilidade, ao lado de Alckmin, como as tentativas que fez no PP, no PR e DEM, poderia reagir. Essa articulação, foi impedida de ir adiante por Rodrigo Maia (DEM), que se lançou candidato para ter melhores condições de negociação. Resultado: Alckmin ficou e ainda está isolado. Rodrigo também. Jair Bolsonaro atingiu um ponto alto na escala, mas também parou.
O PT, enquanto não tem uma solução, continua dizendo que o candidato é Lula mesmo sabendo que não é. Os petistas baianos sumiram, largaram a briga nacional para cuidar da reeleição de Rui Costa, que tem perdido apoios. Fernando Haddad não avança o sinal.
O PT paralisa o eleitorado de Lula enquanto ganha tempo para ver o que faz. Ciro não sai do lugar. O PSB, com suas várias alternativas, não se move. Os partidos, para evitar divisões, querem adiar definições para junho, julho.
O eleitor vê-se diante de uma oferta diversificada, pouco definida, e fica desconfiado. É preciso haver fato novo para mover as pesquisas numa ou noutra direção. E diante de tudo isso o mercado financeiro se abalou porque Paulo Pedrosa saiu do ministério?
Sem dúvida
A ministra Rosa Weber, do STF, quando proferiu seu voto no pedido de habeas corpus de Lula, se disse surpresa com as dúvidas sobre sua posição quando havia sinalizado, desde 2016, que na tese em abstrato é contra a prisão após condenação em segunda instância, mas em pleitos específicos, porém, votaria com a jurisprudência já firmada pelo colegiado, que é a favor. O ministro Marco Aurélio deve recolocar a questão de mérito se conseguir incluir em votação o pedido de liminar, ontem adiado para as calendas, para suspender execuções até o julgamento de ações diretas de constitucionalidade. Mas não significa que Rosa Weber vai votar a favor. Pois no julgamento anterior ela também disse que o Supremo não pode ficar mudando a jurisprudência de forma casuística. Então, a ministra pode votar contra ou a favor que estará sendo coerente com sua argumentação. Mas não poderá reclamar de quem tem sempre dúvidas sobre seus votos.
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