Dez anos depois do estouro da última grande crise financeira, a economia mundial prospera, o desemprego cai, a inflação permanece baixa e o comércio volta a se expandir, mas é preciso evitar riscos importantes para manter o crescimento. O alerta acompanha o cenário luminoso no recém-lançado Relatório Econômico Anual do Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements, BIS), de Basileia, conhecido como banco central dos bancos centrais. O conjunto de advertências é especialmente importante para o Brasil, um país com as contas públicas devastadas e sem clara perspectiva de continuação do ajuste no próximo governo. Além disso, as boas perspectivas globais neste e no próximo ano contrastam com a insegurança brasileira e dão uma ideia de quanto se poderá perder se o País desperdiçar as oportunidades criadas pela expansão internacional.
A economia mundial cresceu 3,2% em 2016 e 3,8% em 2017 e deve expandir-se 3,9% neste ano e 3,8% no próximo, segundo o BIS. As estimativas para os países emergentes, excluída a China, são de crescimento de 4,8% em 2018 e de 4,3% em 2019. O comércio internacional aumentou 5% em 2017, a maior taxa em muitos anos, e deve continuar avançando, se as ameaças de protecionismo forem neutralizadas ou seus efeitos forem muito atenuados.
Brasil e Rússia, classificados como grandes exportadores de produtos básicos, superaram dois anos de recessão extraordinariamente severa e continuam em recuperação, segundo o relatório. Não há, no documento, um exame das condições políticas internas de cada país, mas o brasileiro razoavelmente informado poderá facilmente adicionar ao conjunto os dados pertinentes. Isso lhe permitirá avaliar a posição do Brasil no quadro mundial.
A expansão global tem sido facilitada por juros muito baixos e até negativos nas maiores economias. Políticas fiscais expansionistas também têm contribuído para a dinamização dos negócios, pelo menos em países com alguma folga nas finanças públicas.
A tendência de crescimento apoiado por essas condições deve manter-se nos próximos dois anos, embora a política monetária deva ficar um pouco mais apertada nos Estados Unidos e, mais lentamente, na Europa. Esse aperto, já iniciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), é considerado, tecnicamente, um processo de mera normalização, depois de muitos anos de ampla oferta de dinheiro a juros muito baixos. Mas essa normalização já afeta as condições internacionais de crédito e, mais sensivelmente, os mercados de câmbio, com desvio de recursos principalmente das economias emergentes.
O relatório assinala os impactos dessas mudanças em países considerados mais vulneráveis, como Turquia e Argentina. Diante da fuga de dólares e dos problemas de crédito, o governo argentino já solicitou ao Fundo Monetário Internacional uma ajuda de US$ 50 bilhões, condicionada a um ajuste fiscal mais veloz.
As mudanças causadas pelo aperto monetário nas maiores economias aparecem no quadro de advertências. São perigosas para países com elevado endividamento (público e privado em muitos casos). Além disso, os mercados tornaram-se mais perigosos, nos últimos anos, por causa da grande valorização de alguns ativos, facilitada pelo crédito muito fácil.
Riscos importantes podem estar embutidos nas contas públicas. Em muitos países, a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) é bem maior do que antes da crise. Isso deixa pouco ou nenhum espaço para políticas fiscais estimulantes.
Também há pouca margem para uso de uma política monetária expansionista, na maior parte das grandes economias, onde os juros foram muito baixos durante longos anos. E também há, naturalmente, o risco de protecionismo comercial.
A prudência recomenda, segundo o relatório, avanço em reformas, cuidado com a política monetária e maior esforço de arrumação fiscal em muitos países. No caso do Brasil, as advertências e recomendações são mais que válidas: indicam uma situação de alto risco e necessidades urgentes. Ignorá-las é avançar para o desastre.
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