Dirigentes manifestam simpatia a presidenciável do PSL, apesar das fragilidades de seu programa
É normal esperar, das chamadas elites empresariais, que manifestem sentimentos de aversão à aventura econômica e à turbulência política. Causa alguma estranheza, assim, a vaga de simpatia que se registra em favor do deputado Jair Bolsonaro (PSL), pré-candidato à Presidência, por parte de setores do establishment brasileiro.
Em declarações a esta Folha, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade, assinala não ter receio algum de um governo Bolsonaro, lembrando que, dentre diversos postulantes ao Planalto, o parlamentar direitista foi o mais aplaudido em recente evento organizado por sua entidade.
Participaram da ocasião cerca de 2.000 membros de federações industriais brasileiras. Mais do que as propostas do presidenciável fluminense, seu estilo contundente terá sido, provavelmente, fator decisivo para o apoio da plateia.
O pré-candidato “não tem medo de enfrentar as questões, fala abertamente em favor da reforma trabalhista, enquanto os outros não são tão agressivos”, diz o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Flávio Roscoe Nogueira.
É como se o amplo descrédito face à atividade política se refletisse na impaciência com os modos diplomáticos, o esforço conciliatório e a moderação —e também, por certo, com a hipocrisia, a sinuosidade verbal e a obscuridade de intenções em que geralmente se exerce a busca de um mandato.
Há mais, sem dúvida. A saturação com os discursos e os métodos da esquerda populista, depois da catástrofe do governo Dilma Rousseff e da derrocada ética do PT, naturalmente favorece quem se apresentar como seu adversário mais radical e intransigente.
O fraco desempenho nas pesquisas de outros possíveis representantes do sentimento antipetista faz com que, no momento, as flâmulas bolsonarianas adquiram uma notoriedade que não é proporcional a seu embasamento partidário, ao espectro de suas propostas e mesmo à sua capacidade de se articular como candidato.
Não se mostra unívoca, de todo modo, a avaliação do postulante na indústria. Para Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp, ele representaria um retrocesso civilizatório pelo que defende na área dos costumes e da segurança pública.
Tanto quanto as classes médias e os movimentos sindicais, parcelas importantes do empresariado engajaram-se, desde meados da década de 1970, num modelo institucional que rejeitou a violência de Estado, o preconceito e o atraso que marcaram a ditadura militar.
Esse amplo consenso, que Bolsonaro se compraz em contestar, resiste aos frenesis do momento.
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