sexta-feira, 20 de julho de 2018

Marina Silva investe em rede de voluntários para campanha de baixo orçamento

Movimento, que pode fazer frente à escassez de dinheiro, conta com 7.000 pessoas em todo o país

Angela Boldrini, Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Acostumada a definir suas tentativas de chegar à Presidência —além deste ano, em 2010 e 2014— como uma “luta de Davi contra Golias”, a pré-candidata da Rede, Marina Silva, aposta em 2018 numa “profissionalização” de sua rede de voluntários para tentar vencer a falta de recursos.

Em uma campanha de vacas magras para todos os candidatos, o partido da ex-senadora, que está em segundo lugar nas pesquisas (em cenários sem o ex-presidente Lula), terá uma soma escassa: do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão, ficará com cerca de R$ 10 milhões.

Para Marina, serão reservados R$ 5 milhões, além do dinheiro de doações de pessoas físicas —na vaquinha online, até as 19h30 de quinta (19), elas somavam R$ 74 mil.

Para suprir a demanda de serviços e articular as ações da campanha, a coordenação montou o movimento Somos Marina, que hoje conta com cerca de 7.000 pessoas em diversas regiões do Brasil.

Em grupos de WhatsApp divididos pelo DDD e listas de transmissão, os voluntários recebem “missões” ou são separados em times para cumprir funções da campanha.

O estudante de engenharia de produção Lucas Valadares, 21, é parte do grupo de cerca de 40 voluntários que faz transcrições de vídeos.

“Acompanho o trabalho da Marina há quatro anos e sempre tive a vontade de contribuir em algo”, diz ele, que mora em São João del-Rei (MG).

A organização se divide entre missões online e também offline: em maio e junho, 263 do grupo viraram entrevistadores para fazer uma pesquisa interna que tinha como objetivo avaliar a posição de jovens de até 35 anos em relação aos problemas do país, às eleições e à candidata.

“Passei o domingo todo sem almoçar, mas fiz minha parte”, diz o representante comercial Rodrigo Moreno, 28, que ouviu pessoas na avenida Paulista.

Ele, que foi eleitor da candidata da Rede nos outros pleitos, afirma que decidiu se unir ao movimento desta vez por medo da candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). “Eu vejo um risco muito grande [nele]”, afirma.

Moreno se filiou à Rede em maio, mas a campanha estima que entre 60% e 70% das pessoas do grupo que ajuda na campanha não sejam ligadas formalmente ao partido —caso de Valadares, por exemplo.

Em São Paulo, a direção estadual diz ter já 700 cadastrados. O objetivo nacional, segundo Lucas Brandão, coordenador de mobilização da campanha, é chegar a 100 mil pessoas —a equipe contratada da área tem só sete membros.

A inspiração vem da campanha de Bernie Sanders para ser o candidato democrata nas eleições americanas de 2016 e do movimento En Marche!, do liberal francês Emmanuel Macron, mas também de uma experiência interna.

Em 2010, quando concorreu pelo PV, a candidata contou com o “Movimento Marina Silva”. A principal mudança de lá para cá seria a integração do movimento social dentro da própria campanha.

“Em 2010, começou fora e só aos poucos foi sendo integrada na estratégia da campanha em si”, afirmou Brandão. “Na medida em que você tem um canal de interação entre a coordenação e os voluntários, ganha impacto eleitoral.”

'CASAS DE MARINA'
Outra estratégia que será reeditada são as “casas de Marina”, na qual o apoiador transforma o próprio lar em um comitê. Os locais servem para distribuição de propaganda, coleta de doações e reuniões.

As primeiras casas devem começar a funcionar em agosto. O objetivo delas é ampliar a campanha principalmente em cidades onde o partido não tem sede própria.

Segundo a Rede, cerca de 30% dos voluntários que se cadastraram nos últimos meses têm disposição de ceder a moradia para essa finalidade.

Em 2014, um constrangimento marcou a inauguração de uma dessas casas voluntárias. Um morador de Osasco (SP) que cedera o espaço para virar uma Casa de Eduardo e Marina disse, no evento com a presença dos dois candidatos, que esperava receber "unzinho" para abrigar a estrutura.

Àquela altura, Marina era vice na chapa de Eduardo Campos (PSB), que morreu no meio da campanha. Ainda na residência, ela reagiu à insinuação do morador sobre a expectativa de ganhar dinheiro.

Afirmou na ocasião que o engajamento não era remunerado e que ninguém de sua equipe estava autorizado a oferecer pagamento em troca, inclusive em respeito à legislação eleitoral.

Neste ano, famílias que emprestarem a moradia para a mobilização também terão que fazer isso voluntariamente.

O termo de compromisso que os colaboradores de Marina assinam alerta que o trabalho não é pago nem gera vínculo empregatício.

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