Centrão desiste de Ciro Gomes, apoia Alckmin e dá fôlego eleitoral a tucano
Cúpulas de DEM, PP, PR, SD e PRB levarão acordo para diretórios estaduais antes de anúncio oficial
Thais Bilenky , Daniel Carvalho , Marina Dias e Bruno Boghossian | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Após longo tempo de indefinição, a cúpula do centrão finalmente decidiu nesta quinta-feira (19) que vai apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), isolando Ciro Gomes (PDT) na disputa pela Presidência da República.
O anúncio oficial do acordo, antecipado pela Folha, só deve ocorrer na próxima quinta (26). Até lá, os comandos de DEM, PP, PR, SD e PRB vão informar as instâncias inferiores de seus partidos e resolver questões de alianças nos estados.
Apesar do poder que têm sobre suas legendas, os líderes têm que contornar divergências internas provocadas, principalmente, por acordos regionais.
Com o apoio do centrão, Alckmin, que tinha sozinho 1 minuto e 18 segundos na propaganda eleitoral na TV (em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos), somará 4 minutos e meio, quase 40% de toda a fatia da disputa. Adversário histórico do PSDB, o PT, que ainda não fechou nenhuma aliança, tem 1 minuto e 34 segundos.
Logo após se reunirem na residência oficial da presidência da Câmara, representantes do bloco viajaram a São Paulo para encontrar Alckmin.
Participaram do encontro ACM Neto, Rodrigo Maia (ambos do DEM), Marcos Pereira (PRB), Paulinho (SD), Agnaldo Ribeiro (PP) e Luis Tibé (Avante). O PR não mandou representante, mas avalizou o acordo.
Segundo a Folha apurou com participantes da reunião, o presidenciável se comprometeu, se eleito, a avaliar com o Congresso uma alternativa de financiamento para os sindicatos, que ficaram sem dinheiro após o fim do imposto sindical.
Outro compromisso do tucano foi apoiar a candidatura de Eduardo Paes (DEM) ao governo do Rio de Janeiro.
Alckmin deve acatar a indicação do empresário Josué Alencar (PR-MG) para ser seu candidato a vice e já sinalizou positivamente ao apoio para a reeleição de Maia à presidência da Câmara.
Nos estados, Minas Gerais é o principal foco de atenção, já que PSDB e DEM têm pré-candidatos.
Oficializada, a aliança muda a correlação de forças da eleição, dando a Alckmin capilaridade e o maior tempo de TV.
Apesar de alguns tucanos já comemorarem após as conversas ao longo do dia, Alckmin, oficialmente, se mantém cauteloso e disse, por meio de sua assessoria, que nada foi definido. A convenção do PSDB será em 4 de agosto.
Antes dividido e com uma tendência maior de apoiar Ciro Gomes, o grupo mudou de postura com a entrada do PR, de Valdemar Costa Neto.
O líder do PR tentava costurar apoio a Jair Bolsonaro (PSL), mas a negociação de alianças locais emperrou.
Encerradas as tratativas com o capitão reformado, Valdemar sinalizou preferência pelo ex-governador de São Paulo durante jantar na noite desta quarta-feira (18) com a cúpula do centrão.
Nesta quinta, em reunião na casa de Maia, Valdemar manteve discurso pouco assertivo, mas repetiu seu diagnóstico de que Ciro é explosivo, politicamente pouco confiável e com uma agenda de propostas muito diferente daquela defendida pelo grupo.
Alckmin, ponderou o comandante do PR, é mais previsível e, com até 7% nas pesquisas, pode crescer com o apoio massivo do bloco.
Outra avaliação é de que o candidato que será lançado pelo PT quando o ex-presidente Lula for impedido de disputar o Planalto deve desidratar Ciro, principalmente entre os eleitores do Nordeste.
Alckmin e seus auxiliares passaram a semana em conversas individuais com integrantes do centrão. O tucano se reuniu com Valdemar na segunda (16). Nesta quinta, o ex-governador cancelou compromisso que teria em Minas e ficou em São Paulo para acompanhar as negociações.
Um aliado de Valdemar negou que o manda-chuva do PR seja pró-Alckmin, mas fez uma série de ponderações contrárias a Ciro que vão na mesma linha das críticas dos outros partidos.
Todos citam a verborragia do ex-governador do Ceará e a dificuldade em acreditar que ele cumprirá acordos firmados na pré-campanha.
O PRB também apresentava resistência em apoiar Ciro e ameaçava abandonar o barco. Com o discurso do pré-candidato do PDT, considerado à esquerda do mercado, a sigla temia perder o trânsito com o empresariado, que ganhou ao comandar o Ministério da Indústria e Comércio Exterior.
Além disso, havia a preocupação de que a pauta de costumes da esquerda não fosse bem recebida por seu eleitorado evangélico. O PRB é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.
Para não deixar azedar as negociações, aliados de Alckmin adotaram imediatamente, após a confirmação informal do apoio, discurso em defesa da importância de Maia na articulação.
Como o presidente da Câmara defendia apoio a Ciro Gomes, os tucanos temem que ele seja tratado como derrotado.
Colaborou Carolina Linhares, de Minas
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