O noticiário sobre surtos e risco de epidemias se amplia, e não é possível ficar tranquilo enquanto o poder público não demonstra a devida preocupação com o fato
A multiplicação de casos de febre amarela foi um aviso. A doença, na forma silvestre, voltou ao Sudeste no ano passado, campanhas de vacinação localizadas foram lançadas em Minas e no Espírito Santo, entre outros estados, e ao menos se conseguiu que a febre não passasse a ser transmitida pelo vetor presente nas cidades, o mosquito Aedes aegypti. Mas não se sabe até quando a barreira continuará de pé, embora especialistas afirmem ser baixo o risco da conversão do Aedes em vetor da doença.
O panorama sanitário brasileiro segue um processo de degradação há bastante tempo, desde a volta deste mosquito à Região Metropolitana do Rio, depois de ter sido considerado erradicado do país na década de 50, após longo trabalho iniciado no início do século passado por Oswaldo Cruz.
Nos anos 1980, voltaram as epidemias de dengue ao Rio, doença que passou a marcar o verão carioca. Mas não ficaria localizada em terras fluminenses. Com o tempo, alastrou-se por outros estados, e o mesmo mosquito passou a contaminar populações com zika e chicungunha. Doenças com sintomatologia semelhante e também com riscos potencialmente graves.
Nenhum país deixa de pagar um preço por não levar a sério o saneamento básico. É o caso do Brasil, onde continuam indigentes os índices de tratamento de esgoto, entre outros, por falta de investimento público no setor e de maior atração de capitais privados para a atividade. Seja como for, o país encontra-se numa espécie de estado de emergência na saúde, com a volta de doenças que estavam erradicadas ou sob controle devido a vacinações.
Irrompeu um surto de sarampo no Norte deflagrado pela imigração de venezuelanos em fuga do regime de Maduro, atingindo Amazonas, Roraima e Rondônia, havendo casos já em Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. Até terça-feira, haviam sido notificadas 677 ocorrências, a maioria no Norte. Mas, como se constata, o vírus já viajou para o Sul e o Sudeste.
Há ainda a ameaça do retorno da poliomielite, porque, também como no sarampo e outras doenças, a cobertura vacinal está muito baixa. Não está alta no mundo inteiro, talvez, em parte, devido ao fenômeno que também ocorre no Brasil de o controle das doenças haver tornado as novas gerações despreocupadas. Um grave problema decorrente do êxito, e que precisa ser enfrentado com vigor.
Sucede que, segundo “O Estado de S.Paulo”, a cobertura mundial está subindo, enquanto a brasileira continua aquém do necessário. No sarampo e rubéola, por exemplo, estava em 87% no ano passado, quando já foi 96% em 2015, taxa ideal. Já passou do momento, portanto, de se lançarem fortes campanhas de vacinação, que sejam capazes de derrotar a desinformação que trafega na internet, principalmente sobre efeitos colaterais.
A informação correta serve de óbvio antídoto contra isso, mas é imperioso, também, lançar mão de instrumentos que forcem a população a ir aos postos de saúde. Mesmo levar vacinadores às comunidades. Não se pode estar tranquilo diante do noticiário crescente sobre surtos e riscos de epidemias, enquanto o poder público não demonstra maiores preocupações.
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