Ex-governador paulista conversou à miúda com dirigentes partidários a fim de conseguir mais tempo na TV e chegar fortalecido à convenção
Flávio Freire | O Globo
SÃO PAULO - Embora tenha deixado de lado a formação de anestesista diplomado pela Universidade de Taubaté, Geraldo Alckmin parece ter costurado de forma cirúrgica o apoio que poderá garantir a ele o maior tempo de exposição de TV no horário eleitoral gratuito. Com forte aderência à política tradicional, o ex-governador trabalhou o tempo todo para justamente conseguir mais audiência dos eleitores.
Mas atuou do jeito dele. Fez conta, elaborou cálculos, e principalmente conversou à miúda com dirigentes partidários. Jantou com alguns deles no início de junho, quando ouviu que o grupo estava quase colocando a aliança no dedo de Ciro Gomes (PDT). A qualquer especulação de que os partidos do centrão avaliavam embarcar na candidatura do adversário, Alckmin evitava provocações de que sua candidatura faria água antes mesmo da convenção, marcada para 4 de agosto.
Observadores políticos temiam que ele chegasse à convenção de braços dados apenas com o PTB, este um apoiador de primeira hora. Só na semana passada o PSD de Gilberto Kassab informou que estaria ao lado do tucano. O PPS e o PV também formam o arco de alianças.
Mas nem só de ideologia, porém, vivia a dúvida do centrão para firmar apoio ao tucano. O bombardeio contra o PSDB em meio às investigações da Lava-Jato — que levantou suspeita sobre o cunhado do ex-governador e levou para a prisão um de seus ex-secretários —, ajudava a afastar até mesmo quem não escapou das denúncias. À frente do acordo com Alckmin, bom lembrar que partidos como SD, PR, PRB, DEM e PP também se defendem das acusações de desvio de dinheiro público.
As alianças, porém, eram apenas um dos problemas. Alckmin foi alvo, ao mesmo tempo, do chamado fogo amigo, numa artilharia pesada justificada pela sua performance anêmica nas pesquisas até agora, amargando entre 4% e 6% das intenções. O nome de João Doria subia à superfície ao mesmo tempo em que os correligionários falavam de um suposto naufrágio da campanha alckmista.
Ainda assim, o ex-governador parecia avaliar como erro de diagnóstico quem acreditava vê-lo numa ala de isolamento. Há cerca de um mês, ainda na reta inicial da pré-campanha, o tucano projetava o apoio de oito partidos. Dizia isso antes da Copa do Mundo, ao mesmo tempo em que as legendas navegavam conforme a conveniência da maré eleitoral.
Num movimento político quase interiorano, forjado em Pindamonhangaba, onde nasceu, Alckmin aproveitava o tempo que tinha pela frente para comer pelas bordas. Costurou palanques estaduais com quem não lhe dava bola no espectro nacional. Foi assim quando procurou, semana passada, o candidato do PSB ao governo do Espírito Santo, Renato Casagrande. A pretexto de apoio regional, tentava, indiretamente, reforçar a tese de neutralidade dentro do partido que havia engatado namoro com Ciro, ainda que a solavancos.
Agora, ao estender a mão aos dirigentes do centrão, Alckmin, como presidente do PSDB, deverá fazer concessões, inclusive nas alianças regionais. Uma fatura que os colegas tucanos vão cobrar dele caso o partido perceba que o projeto nacional se transformou numa prioridade muito mais individual que coletiva.
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