Com pacto, tucano alcança ao menos 4 minutos e 46 segundos na TV
DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade levaram pauta de reivindicações ao encontro em São Paulo, como condição para formalizar aliança. Anúncio oficial será feito semana que vem
O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, fechou ontem acordo em torno de sua candidatura com o centrão, que reúne DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade. Com o apoio desse bloco e as alianças com PTB e PSD, o tucano chega a ao menos 4 minutos e 46 segundos, do total de 12 minutos e 30 segundos de propaganda eleitoral de rádio e TV dos candidatos ao Planalto. Por enquanto, com alianças indefinidas, nenhum outro candidato supera um minuto e meio de propaganda. Como condição para formalizar o apoio, o centrão levou uma pauta de reivindicações ao encontro, em São Paulo. Apesar da proximidade de PP e Solidariedade com a pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), a distribuição de cargos e verbas pesou na decisão de bandearse para Alckmin. Paulinho da Força levou ao presidenciável a exigência de compromisso para um novo modelo de financiamento de sindicatos, por conta do fim do imposto sindical. Já o PP, que resistia em razão de formação de palanque no Piauí, vai manter espaços importantes. O anúncio formal da aliança será feito na próxima semana.
Centrão fecha com Alckmin
Apoio do bloco de partidos garante a tucano o maior tempo de propaganda na TV e no rádio
Cristiane Jungblut, Bruno Góes, Silvia Amorime Gustavo Schmitt | O Globo
-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Em encontro com o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, o centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) fechou ontem um acordo para apoiar o tucano à Presidência da República. Com essa decisão e as alianças com PTB e PSD, Alckmin terá, no mínimo, 4 minutos e 46 segundos dos 12 minutos e 30 segundos de propaganda de TV e rádio dos candidatos ao Planalto. Ainda com alianças indefinidas, nenhum outro candidato supera 1 minuto e meio de tempo de propaganda.
A soma do tempo de todos os partidos que apoiam Alckmin até superaria os 4 minutos e 46 segundos, mas, pela nova lei eleitoral, a distribuição do tempo de TV leva em consideração apenas os seis maiores partidos da aliança.
Dirigentes do centrão que estiveram reunidos com Alckmin saíram do encontro afirmando que a aliança com o tucano está consolidada. O anúncio formal será feito na próxima semana.
— Já está fechado — disse o presidente de um dos partidos.
Na reunião, o centrão levou uma pauta de reivindicações como condição para fechar uma aliança, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. Dirigentes das siglas discutiram a possível formação de um governo e deixaram o encontro afirmando que, agora, apenas levarão a posição às instâncias regionais dos partidos para resolverem eventuais divergências nos palanques.
BLOCO EXIGE GARANTIAS
Os partidos querem algumas garantias para anunciar o apoio ao tucano, que já é dado como certo entre dirigentes das agremiações. Alguns parlamentares já foram até mesmo avisados de que chegou-se a um entendimento.
O GLOBO obteve relatos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina de que o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, telefonou para algumas lideranças comunicando a aliança com Alckmin. Nogueira nega publicamente o acordo e diz que o bloco partidário decidiu que a decisão sobre o apoio só será anunciada na próxima quinta-feira.
Apesar da proximidade de dois partidos do centrão — PP e Solidariedade — com a pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), ambas as legendas aceitam bandear-se para o lado de Alckmin. O movimento depende de uma velha moeda de troca da política real: a distribuição de cargos e verbas. O chamado centrão representa 164 deputados e 2 minutos e 35 segundos no tempo de rádio e TV durante a propaganda eleitoral.
Um dos itens apresentados na reunião foi uma condição de Paulinho da Força (SD-SP): o compromisso de um novo modelo de financiamento de sindicatos. Com o fim do imposto sindical, que obrigava os trabalhadores a contribuir com as associações, a fonte de dinheiro de seus colegas começou a secar. Paulinho, o principal dirigente da legenda, é oriundo da Força Sindical e defende o interesses das centrais sindicais. Segundo um dos participantes, Alckmin aceitou discutir o assunto.
PP QUER MANTER ESPAÇO NO GOVERNO
O PP teve a garantia de que manterá espaços importantes. O presidente da legenda resistia a um acordo com Alckmin por conta de problemas no seu palanque eleitoral, no Piauí, onde ele é ligado ao PT. Mas a posição de Ciro Nogueira nunca foi unânime dentro do PP, tanto que a ala governista atuou em favor de uma aliança com Alckmin.
O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), esteve com o presidente Michel Temer antes de embarcar para São Paulo, onde foi o representante do PP no encontro com o tucano. Ao arriscar-se neste fim de ano, o PP poderia abrir mão de um verdadeiro latifúndio: ministérios da Agricultura, Cidades e Saúde, além da presidência da Caixa Econômica, já que o Planalto pressionou publicamente a legenda a não apoiar Ciro Gomes, candidato que trata o presidente como “bandido”.
Um jantar na quarta-feira e o café da manhã de ontem serviram para que os cinco partidos do centrão fechassem a pauta. Neste contexto, o pragmatismo do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que controla o PR, foi fundamental. Ele explicou que o maior interesse do PR sempre foi eleger uma grande bancada de deputados. O mesmo interesse dos demais partidos, que costumam virar base de qualquer governo e ainda fazer o presidente da Câmara.
Neste contexto, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que queria apoio a Ciro, foi convencido e agora deve lutar para se eleger novamente deputado e chefe da Câmara.
Hoje, a cúpula do DEM participará de um evento em São Paulo para anunciar o líder do partido na Câmara, Rodrigo Garcia, como vice da chapa do PSDB de João Doria, pré-candidato a governador de São Paulo.
Os partidos rejeitam a pecha de que estão negociando cargos, espaços ou verbas. Alegam que a demonstração disso é a escolha do empresário Josué Gomes para o cargo de vice.
Filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué nunca encontrou resistência na campanha tucana para ocupar a vaga de vice. Em conversas reservadas, Alckmin fala bem do empresário e considera que ele tem um perfil que agrega politicamente à chapa tucana por ser um nome novo na política. Essa característica seria uma vacina para a imagem de Alckmin de político tradicional.
— Alckmin está satisfeito que terá nosso apoio, está tudo praticamente certo. Agora, cada partido vai fazer seu dever de casa, conversar internamente — disse um dos dirigentes do centrão.
CIRO PERDE APOIO PELA “VERBORRAGIA”
O deputado do PP Jerônimo Goergen, afirmou que a escolha de Alckmin é um “alívio” para os filiados do partido no Rio Grande do Sul:
— Ficamos todos aliviados com a notícia porque tínhamos medo de que o partido fosse com Ciro. A linha política do Alckmin é muito mais confortável para nós, do que a do Ciro.
Antes do encontro com Alckmin, os partidos se reuniram e avaliaram que não era possível confiar em Ciro Gomes. Segundo um dos dirigentes, o comportamento de Ciro e sua verborragia foram cruciais para que o pêndulo voltasse a balançar para o lado de Alckmin. Os tucanos e parte do DEM armaram uma força-tarefa para reforçar esse entendimento de que Ciro não era confiável e que não tinha “filtro”. Segundo um parlamentar experiente, “prevaleceu o bom senso”.
Eles não gostaram das declarações de Ciro sobre uma promotora e avaliaram que ele é “incontrolável”.
Tucanos e democratas ligados à Alckmin dizem que o clima mudou.
— Revertemos o jogo. Se fosse hoje, o anúncio seria de apoio a Alckmin — disse um integrante do DEM.
Se tivesse o apoio do centrão, Ciro mais do que dobraria o seu tempo de propaganda na TV. Sem nenhuma aliança, Ciro tem apenas os 28,46 segundos do PDT. O pré-candidato ainda tenta fechar acordo com o PSB e o PCdoB.
O chamado centrão foi uma articulação de Rodrigo Maia para reunir os partidos de centro e fazê-los ter um único candidato na eleição presidencial de 2018.
PT DUVIDA QUE JOSUÉ SEJA VICE
Cotado para vice de Alckmin, Josué Alencar é muito próximo do ex-presidente Lula. Em abril, cinco dias antes de trocar o MDB pelo PR, ele esteve na sede do instituto do petista, em São Paulo. De acordo com aliados de Lula, o tema da conversa foi a mudança de partido. O ex-presidente queria reeditar a parceria de 2002 com o pai de Josué, tendo agora o filho com seu vice.
Até esta semana, petistas ainda alimentavam a ideia de ter o mineiro como aliado na disputa presidencial. Chegou a ser lançada até a hipótese de Josué assumir a cabeça da chapa se Lula for impedido de concorrer pela Justiça Eleitoral.
Em 2014, quando disputou uma vaga no Senado em Minas Gerais pelo PMDB Josué era aliado do PT. Na ocasião, o empresário ficou em segundo lugar e não foi eleito.
Lideranças do PT, que têm interlocução com Josué, disseram ontem duvidar da possibilidade de ele vir a ser vice de Alckmin. Em Minas, o partido pretende, inclusive, trabalhar para que Josué seja vice na chapa do governador Fernando Pimentel, que disputará a reeleição.
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