O pré-candidato Jair Bolsonaro sofreu novo revés em seus planos de formar chapa. Depois da recusa do PR, ontem foi o PRP que rejeitou a indicação do general da reserva Augusto Heleno para ser seu vice, por inviabilizar alianças regionais. Uma alternativa é a advogada Janaína Paschoal, do mesmo PSL de Bolsonaro.
Sozinho na trincheira
Partido de general nega aliança e leva Bolsonaro ao isolamento na véspera de convenção
Bruno Góes, Jeferson Ribeiro, Karla Gamba, Jussara Soares e Marco Grillo | O Globo
-BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO- Após o fracasso da negociação com o PR, a campanha de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República sofreu ontem novo revés, com a negativa do Partido Republicano Progressista (PRP) para a indicação do nome do general da reserva Augusto Heleno ao posto de candidato à vice. Faltando quatro dias para a convenção que deve confirmar a candidatura de Bolsonaro, o PRP diz que, por ora, não pode fechar a aliança.
Na última semana, Heleno passou a ser tratado como a principal aposta de Bolsonaro, após o naufrágio da articulação para que o senador Magno Malta (PR-ES) integrasse a chapa. Da mesma forma que os acordos estaduais impediram o avanço das negociações com o partido de Valdemar Costa Neto, as pretensões do nanico PRP nos estados também comprometeram as ambições do ex-capitão do Exército. Coligada ao governador petista da Bahia, Rui Costa, por exemplo, a sigla não quer pôr em risco alianças que já foram costuradas.
Logo pela manhã, o PRP afirmou, por meio de sua assessoria, que a aliança estava “descartada” e que o general será candidato ao Senado pelo Distrito Federal. Heleno, contudo, negou a informação e disse que pretende sair do partido. À tarde, porém, Bolsonaro ainda nutria esperanças de contar com Heleno, apesar da negativa do militar da reserva e de seu partido. O pré-candidato afirmou que existe “uma frestinha” para um acordo, que poderia envolver alianças para os cargos proporcionais (deputado federal e estadual) em alguns estados.
— Ainda ficou uma frestinha e talvez esse acordo feche amanhã (hoje) — disse Bolsonaro, que lidera todas as pesquisas sem a presença do ex-presidente Lula.
Para tentar reabrir as negociações, o pré-candidato flexibilizou os termos da aliança e, agora, diz aceitar um acordo para a disputa proporcional, mas isso ainda vai depender dos presidentes das legendas em cada estado.
— Vai depender das perspectivas estaduais. Aqui no Rio, por exemplo, é meu filho (deputado Flávio Bolsonaro), que é presidente do partido, que vai decidir. Acho que não terá acordo aqui. A ideia é que em alguns lugares tenha aliança — explicou o pré-candidato.
Na nota publicada pela manhã, o PRP informou que “está conversando, com tempo e com calma, com os demais pré-candidatos para avaliar uma possível aliança e definir qual caminho será seguido, levando em consideração o alcance de uma das metas, que é a cláusula de barreira”. Mais tarde, procurado para comentar a nova ofensiva de Bolsonaro, o presidente do PRP, Ovasco Resende, disse que o assunto deve ser tratado com calma. Indicou que Bolsonaro quer pressa e que, sem uma profunda discussão interna, a resposta “é não”.
— Esse convite me pegou de surpresa. Temos que ter o nosso tempo. O Brasil é um continente, e é complicado dar uma resposta no tempo dele (Bolsonaro), assim, em cima da hora. E foi isso o que eu disse a ele. Se for para fechar agora, então a resposta é não — afirmou Resende.
O presidente do PRP afirmou que o diálogo foi retomado após contato do presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno. Também relatou que só soube pela imprensa a declaração do general Heleno de que se desfiliaria do PRP.
— Resolvemos o seguinte: vamos consultar os diretórios. Vamos ver se é possível fazer uma aliança só em nível nacional ou qual composição pode haver nos estados. Não posso agora fazer as coisas a meia-boca.
Em meio ao impasse, Augusto Heleno afirmou que não seria candidato a qualquer cargo nas eleições de outubro e que se desfiliaria do partido.
— Não tem por que ficar filiado, eu não vou ser candidato nem a deputado, nem a senador, nada disso. Então eu acho que é melhor eu voltar à minha situação de apartidário. Não adianta eu ter um compromisso com um partido pelo qual eu não tenho nenhuma ligação afetiva. É muito melhor eu ser apartidário como eu fui a vida inteira do que estar carimbado a um partido que não representa nada para mim — disse o general ao GLOBO, antes de afirmar que continuará apoiando a campanha de Bolsonaro: — Eu tenho um compromisso de ajudar na campanha (do Bolsonaro). Nós temos reunida uma equipe de gente competente para estudar, traçar algumas ideias e coordenar toda essa movimentação, não só em torno de programa de governo mas depois, se der certo, em termos de como governar.
No Rio, a notícia de uma possível negociação com o PSL provocou surpresa no pré-candidato do PRP ao governo do estado, Anthony Garotinho.
— No meu caso, seria complicado. Não tenho nada pessoal contra o Bolsonaro, mas nossas ideias são muito diferentes.
Com o naufrágio aparente de suas duas principais apostas para vice, o pré-candidato corre em busca de uma alternativa. Uma delas é a advogada Janaína Paschoal, filiada ao mesmo PSL de Bolsonaro. O nome dela vinha sendo cotado para a disputa do governo de São Paulo, embora pessoas ligadas ao partido no estado acreditem que a advogada prefira concorrer à vaga de deputada.
REJEIÇÃO E ESTRUTURA FRACA AFASTAM ALIADOS
A relutância dos partidos em formalizarem alianças com Bolsonaro pode ser explicada, em parte, pela falta de estrutura do PSL e também na rejeição do candidato, que é elevada — 32%, de acordo com a pesquisa Datafolha mais recente. — Acho que a candidatura do Bolsonaro é de alto risco para os partidos se engajarem. É uma candidatura sem estrutura, sem recursos, baseada na persona dele e nos mecanismos alternativos de conexão direta com os eleitores, via redes sociais. É um candidato com altíssima rejeição e o preferido para qualquer outro candidato ter como adversário no segundo turno. Os partidos que fazem esse cálculo não têm muito interesse em estarem próximos ao Bolsonaro, porque podem estar assinando a sentença de morte — avalia o cientista político Carlos Pereira, da FGV/Ebape.
Já o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, destaca a “incerteza geral” no cenário eleitoral, o que faz com que os partidos adiem as decisões. E aponta que a estratégia de Bolsonaro, que neste momento privilegia o contato direto com eleitores, em detrimento das conversas partidárias, pode ser “arriscada”: — A população brasileira, embora esteja desencantada com partidos, com a política tradicional, também não está mobilizada nas ruas em torno de um candidato, pelo menos não até agora. Não há mobilização tão forte nas ruas e nas redes a ponto de dispensar deputados e senadores que vão fazer campanha e são profissionais na hora de pedir voto. A mobilização fora da estrutura partidária vai ter um peso, mas também não será uma revolução a ponto de imaginar que a sociedade vai ignorar a propaganda eleitoral.
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