Ciro Gomes investe contra associação entre a Embraer e a Boeing, mas os candidatos não podem perder a noção dos reais problemas do país
País com problemas econômicos crônicos, o Brasil tem uma agenda permanente de discussão sobre como curar as mazelas neste campo, assunto que, não poderia deixar de ser, tem espaço cativo nas campanhas eleitorais.
Para esta eleição, a lista de dificuldades está concentrada no desequilíbrio estrutural das contas públicas na Federação, polo irradiador de várias distorções. Governo federal, estados e municípios, em diversas gradações, têm os respectivos orçamentos sendo estrangulados por benefícios previdenciários e folha de servidores, de que resultam a redução forçada de investimentos e barreiras aos gastos estratégicos em saúde, educação e segurança.
Pré-candidatos esboçam ideias, enquanto negociam alianças preocupados com o tempo na programação eleitoral dita gratuita, definido em função do tamanho da bancada dos partidos no Congresso.
Neste sentido, a defesa feita por Ciro Gomes (PDT) de rever a associação entre Embraer e Boeing tem o claro objetivo de atender os nacionalistas de sempre, em especial os que se abrigam no PSB, partido que o candidato tenta atrair. Chama a atenção que mesmo no DEM de Rodrigo Maia — legenda egressa do PFL, de linhagem liberal, sem ranço contra o capital estrangeiro — há quem avalie apoiar o ex-ministro e exgovernador do Ceará. Incongruências da política brasileira. O discurso de político flutua ao sabor de interesses. O próprio Ciro atenua declarações contra a reforma trabalhista, para não se agastar com o “centrão” (DEM, PR, PP e Solidariedade).
Pode ser que, à medida que o tempo passe, a pauta de discussões ganhe corpo e objetividade, deixando em segundo plano esse negócio, do qual depende a sobrevivência da Embraer, em um mercado no qual a maior concorrente da fábrica brasileira, a canadense Bombardier, acaba de ser absorvida pela Airbus, única a fazer frente à Boeing no mundo.
O candidato pedetista já propôs, sem entrar em detalhes, uma reforma da Previdência que mude o sistema de repartição para capitalização. No plano conceitual, faz sentido, mas é imperioso explicar como fazer a transição.
Ciro e os demais pré-candidatos precisam se definir sobre como sair da armadilha em que políticos e a própria sociedade colocaram o país, ao adiar de forma irresponsável uma reforma ditada pelo fenômeno demográfico do envelhecimento da população.
Daí todo país minimamente organizado atualizar os sistemas previdenciários a uma realidade em que as pessoas vivem mais. Portanto, usufruem os benefícios previdenciários mais tempo e, por isso, precisam contribuir também mais para eles.
O Brasil acumula déficits públicos há quatro anos, alguns acima de R$ 100 bilhões. Não pode continuar assim. Mantém-se, dessa forma, o risco constante do retorno da inflação elevada e da consequente subida dos juros, barreira ao crescimento, logo, à geração de empregos e de renda. A questão central a ser abordada na campanha é como evitar a insolvência do Estado.
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