Os partidos políticos iniciam neste fim de semana suas convenções eleitorais ainda à procura de candidatos e alianças, quando antes esses conclaves eram quase sempre feitos para cumprir exigências legais e sacramentar decisões já tomadas. Com cenário de nenhuma visibilidade, há, por exemplo, vagas à vontade para candidatos a vice-presidente - nem Jair Bolsonaro, do PSL, um dos favoritos nas recentes pesquisas de opinião (na ausência de Lula nas urnas), conseguiu arrumar um ainda, embora tenha tentado. Os dois partidos que serviram de polo de aglutinação por mais de duas décadas - PT e PSDB - deixaram de ser centros de atração. Há 28 partidos à cata de respostas eleitorais, que ainda não vieram.
Houve poucas ondas passageiras nesse ano eleitoral. A sedução com o novo durou pouco, por desistência dos candidatos a novidade (Joaquim Barbosa, Luciano Huck). O jogo será decidido por profissionais, sejam os decanos Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (hoje no PDT) e Marina Silva, em sua terceira disputa presidencial, ou um emissário de Lula da Silva. A regra de financiamento de campanhas tornou até certo ponto previsível esse desfecho. As cúpulas partidárias confiscaram a tarefa de gerir a relativa escassez de recursos e obviamente não apostaram na renovação. O menor tempo de campanha conspira a favor de candidatos conhecidos, com votos.
Além do ineditismo de o favorito nas pesquisas estar na cadeia, as bússolas tradicionais perderam o norte ou acurácia. O número de indecisos a menos de três meses das eleições é quase metade do eleitorado. As pesquisas destilam monotonia - o radicalismo de Bolsonaro o coloca em dianteira não se sabe até quanto, Marina Silva, sem alianças e pouco tempo de TV, segue atrás, há a promessa de avanço de Ciro Gomes e a dificuldade de avanço de Geraldo Alckmin (PSDB). Henrique Meirelles (MDB), não sai de 1%.
Diante de uma crise fiscal séria a caminho e do enorme descrédito de partidos e políticos, os pré-candidatos apenas repetem um espetáculo rejeitado pela plateia. Ciro Gomes investe na esquerda e na direita ao mesmo tempo - um jogo velho -, enquanto o PR, do mensaleiro Valdemar Costa Neto faz o mesmo com os extremos - entre PT e Bolsonaro - e também com Alckmin, Álvaro Dias e Ciro.
Os partidos de centro são atores decisivos para tentar evitar a implosão do sistema político. Podem canalizar dinheiro e tempo de TV para o leito tradicional a candidatos confiáveis, o que torna possível a recomposição em torno de Alckmin, para o tucano a única chance de sair do segundo pelotão de contendores. Da mesma forma, o apoio do centrão a Ciro multiplicaria suas chances, mas o pedetista tem entrado em autocombustão facilmente, desferindo impropérios a torto e a direito, o que o torna pouco confiável. Seu programa, voltado para a esquerda, precisaria de uma boa cirurgia para adaptá-lo ao gosto de DEM, PP, Pros e Solidariedade, por exemplo.
O excêntrico centrão, fruto do apodrecimento do sistema partidário, não só não será varrido pelas urnas, como quer ampliar seus poderes no próximo governo, seja ele qual for. Sintoma de degeneração, várias legendas que o compõem estão divididas sobre quem apoiar, com simpatias difusas por Bolsonaro, que defende a ditadura e dá pouco valor à democracia.
Capitaneados pelo DEM, busca-se formar um bloco que tenha peso no Congresso e detenha poder real, não importa quem for eleito - papel exercido em todos os governos da redemocratização pelo carcomido MDB. Se a união for possível para a escolha de um candidato à Presidência, a tarefa será facilitada, mas a missão até certo ponto prescinde disso. A existência da articulação é em si um sinal certo das dificuldades que aguardam o próximo governo, que não poderá fugir de um programa de austeridade se não quiser mergulhar o país em grave crise econômica - e terá poucas prebendas a oferecer, se for sério.
Lula pode levar um candidato petista ao segundo turno, embora não tenha deixado sucessores populares na legenda. Se a candidatura Bolsonaro desidratar, o PT estará mais uma vez em um dos polos da disputa, fechando o caminho a Ciro Gomes e tendo como adversário alguém ungido pela centro-direita, reavivando chances de Alckmin.
O jogo está em aberto, mas a baixa capacidade do sistema em se autorreformar e o festival de irresponsabilidades diante de um governo politicamente fraco, como se vê agora no ocaso de Temer, deixam entrever também a pior possibilidade, a de que não se consiga sair do pântano político e econômico em que o país está metido.
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