O déficit em conta corrente deste ano deverá ficar menor do que o inicialmente previsto pelo Banco Central. À primeira vista, a notícia parece boa, pois significa que a economia está menos vulnerável ao choque externo que afeta países desenvolvidos e emergentes. Mas esse é, também, um preocupante sinal da fraca recuperação da atividade econômica.
O BC reviu, no seu Relatório de Inflação de junho, a projeção para o déficit em conta corrente de 2018, de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0,6% do PIB. A nova estimativa significa que as despesas vão superar as receitas em R$ 11,5 bilhões nas transações comerciais, de serviços e transferências de renda feitas com outros países - menos da metade dos US$ 23,3 bilhões previstos no relatório de março.
Quando uma economia registra déficits em conta corrente, em tese deve cobrir a diferença atraindo capitais estrangeiros, sob a forma de empréstimos ou de investimentos, ou gastando parte de suas reservas cambiais. Dessa forma, quanto menor o saldo negativo nas contas externas, menos vulnerável o país está a uma eventual queda ou paralisação do fluxo de capitais estrangeiros.
Cabe razão, portanto, ao presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, quando ele destaca - como tem feito em discursos recentes - que esse baixo déficit em conta corrente representa um "amortecedor robusto" para o Brasil enfrentar a contração dos níveis de liquidez internacional provocada pela perspectiva de alta mais rápida dos juros básicos nos Estados Unidos. Nos níveis atuais, o déficit externo é confortavelmente financiado pelos investimentos diretos no país, considerados um capital estável e de boa qualidade, que são estimados pelo BC em US$ 70 bilhões.
O baixo déficit externo, porém, está longe de expressar uma economia saudável. A revisão das projeções oficiais do BC se deve à alta desordenada da cotação do dólar ante o real, causada por um ambiente externo mais hostil para economias emergentes e pelas fragilidades fiscais domésticas, e também à medíocre taxa de expansão do PIB. A cotação da moeda americana subiu quase 20% em apenas três meses e não se sabe aonde vai parar. O BC rebaixou, de 2,6% para 1,6%, a sua previsão para o crescimento da economia em 2018, e alguns analistas privados começam a citar percentuais inferiores a 1%.
Uma questão relevante é se o déficit em conta corrente não estaria abaixo dos níveis desejados. Em geral, países emergentes conseguem financiar com relativo conforto resultados negativos da ordem de 3% do PIB, mesmo em um ambiente internacional desafiador como o atual, desde que tenham sólidos fundamentos econômicos, sobretudo contas fiscais em ordem. Hoje, com as contas correntes próximas do equilíbrio, o Brasil abre mão de capitais estrangeiros e da importação de máquinas e equipamentos que poderiam apoiar a expansão da capacidade produtiva do país.
Essas oportunidades perdidas ficam claras nas projeções do BC para a balança comercial, um dos mais importantes itens das contas correntes. A estimativa oficial para o resultado da balança comercial, agora, é um superávit de US$ 61 bilhões em 2018, 9% maior do que o previsto anteriormente, em março. A fraca demanda interna, que tende a segurar os investimentos, levou o BC a rebaixar em US$ 3 bilhões as perspectivas para a expansão das importações, que agora são projetadas em US$ 167 bilhões.
O desempenho medíocre da economia brasileira se reflete também na conta de rendas - outro item importante das contas correntes -, que inclui as remessas de lucros e dividendos e os pagamentos de juros sobre a dívida externa. Como a atividade doméstica vai de mal a pior, os resultados das empresas multinacionais tendem a se enfraquecer. A falta de dinamismo do mercado interno também tende a levar as companhias a repatriar lucros às matrizes no exterior em vez de reinvesti-los no Brasil. A alta do dólar tem reduzido os lucros, quando convertidos em moedas estrangeiras.
O único sinal de alento nas projeções é que a desvalorização cambial tende a estimular as exportações, que deverão chegar a US$ 228 bilhões, US$ 3 bilhões acima dos valores antes previstos. Embora, em geral, o aumento das exportações seja um fator que puxa a atividade doméstica, no caso atual esse efeito é insuficiente para compensar a perda de dinamismo da economia causada pelo choque externo, incertezas eleitorais e paralisação dos caminhoneiros.
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