segunda-feira, 9 de julho de 2018

Angela Bittencourt: Investidor à espreita de solução para Lula

- Valor Econômico

Empresas, Câmara, Senado e TCU agitam mercado

Nesta segunda-feira é feriado no Estado de São Paulo em celebração ao início da Revolução Constitucionalista de 1932. A B3 - bolsa de valores e futuros - e as sedes dos principais conglomerados financeiros nacionais e estrangeiros estarão fechados, condição fundamental para que uma exacerbada taxa de câmbio não contamine a economia. No domingo, tão logo circulou a informação de que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) deferiu uma liminar para que o ex-presidente Lula fosse solto ainda ontem, profissionais de mercado entraram em contato com a coluna e estimaram que apenas a libertação do ex-presidente seria suficiente para deslocar o dólar a R$ 4. Na sexta-feira, a moeda norte-americana fechou em forte queda, de 1,57%, a R$ 3,8702.

A paralisação da B3 em razão do feriado estadual desta segunda, transfere as operações cambiais às praças exclusivas de comércio exterior localizadas em regiões portuárias. As transações financeiras, inclusive para hedge que envolvem valores mais expressivos, ficam para amanhã. O quanto a expectativa de alta da taxa de câmbio será diluída nesta segunda-feira é arriscado dizer. Raymundo Costa, colunista do Valor, descreve com propriedade o momento: a decisão do TRF-4, sendo cumprida ou não, devolve Lula ao centro do debate eleitoral. O fato político está consumado.

Amanhã, a prevalecer a pressão cambial cogitada no domingo, as taxas de juros sofrerão nos primeiros minutos do pregão. É fato que elas vêm recuando há dias, mas com resistência. Na sexta, tiveram firme queda no segmento BM&F, seguindo a trilha do dólar. Contudo, estão sob influência da forte aceleração dos índices de preços em junho. Ainda que analistas projetem, a princípio, arrefecimento da inflação em julho, já começam a entrar nos cálculos a tarifa mais elevada da energia elétrica em São Paulo que tem peso importante no IPCA e vai aparecer no dado de julho, além do repasse cambial aos preços, informam Hugo Passarelli e Rodrigo Polito.

O dólar encerrou a sexta-feira colado ao preço mais alto de fechamento do ano, R$ 3,9320, e 23,6% acima da cotação mínima de R$ 3,1315, alcançada 108 dias antes, em janeiro. A depender da equação jurídica e política a que se chegar para Lula, nesta segunda-feira, Banco Central (BC) e Tesouro Nacional estarão com as mãos no coldre.

Hoje fora do ar por ser negociado na B3, localizada na capital paulista onde é feriado nesta segunda, o Ibovespa tende a recuar no pior cenário inspirado por Lula de volta ao jogo político. Os investidores locais e estrangeiros em ações brasileiras demonstraram, várias vezes, pouca ou nenhuma disposição de conviver com o ex-presidente recuperando influência política. Eles duvidam que Lula tenha interesse em conduzir as reformas fiscais - especialmente a impopular reforma da Previdência.

O Ibovespa, a exemplo do dólar e do juro, reagiu na sexta-feira e fechou em alta aos 75.010 pontos -- um platô a ser defendido por investidores, mas a considerar que, nesse nível, o índice está apenas 6,9% acima da cotação mínima observada no ano, mas a 14,4% abaixo da máxima alcançada. E o mercado retomará os negócios amanhã com Lula à frente e com o pé atrás pela assinatura do memorando de intenções entre a Embraer e a Boeing. A parceria coroou uma semana coalhada de notícias corporativas, sendo que duas delas ressuscitaram velhos fantasmas ao trazer a campo as veteranas Eletrobras e Petrobras.

Há um ano, a Eletrobras surgiu como protagonista do governo, que revelou a intenção de privatizar a empresa. Nenhuma alma duvidou da possibilidade de o produto de eventual proeza atender à necessidade de caixa da União. A privatização não vingou. Mas a informação serviu para conter o tombo dos ativos financeiros que uma crua revisão da meta fiscal precipitou. A Eletrobras seguiu estatal e com a má fama herdada de 2012, quando fora utilizada pela ex-presidente Dilma Rousseff como instrumento de controle da inflação e da derrocada do setor elétrico.

Na semana passada, a Eletrobras voltou às manchetes ao lado de outras duas gigantes brasileiras: Petrobras e Embraer. Esse encontro corporativo causou estranhamento. E não há nada de surpreendente nisso. O Brasil não é um país de muitas grandes empresas. É um país de muito governo. Até por essa razão, a Lava-Jato é sucesso de público e crítica.

Na semana passada, a Câmara aprovou o texto-base do projeto de privatização de seis distribuidoras de energia da Eletrobras. Os destaques ao projeto devem ser votados nesta semana, o que abre caminho para a venda das empresas que são deficitárias e, mais adiante, à privatização da própria Eletrobras, em uma avaliação mais otimista. As decisões da Câmara devem passar pelo Senado.

O Tribunal de Contas da União (TCU) esclareceu que as informações sobre os leilões de privatização devem ser encaminhadas à Corte 150 dias antes dos certames a partir de janeiro de 2019. O mercado entendeu, a partir daí, que o leilão marcado para 29 de novembro em que a Petrobras poderá oferecer a exploração de 70% do pré-sal da cessão onerosa não será prejudicado e essa possibilidade foi comemorada. Até porque poderá render bilhões de reais à União.

Quanto à Embraer, o anúncio da assinatura do memorando de entendimentos com a Boeing encerrou quase sete meses de especulações sobre uma nova companhia na área de aviação comercial. Não era esperada, porém, a criação de uma nova empresa com a qual na área de defesa. Embora ela deva ser controlada pela Embraer, o risco de a soberania nacional estar exposta a áreas estratégicas já colocou a oposição em estado de alerta para acionar a Justiça. Por outro lado, errou quem imaginou que o governo estaria disposto a abrir mão das ações especiais com direito a veto ("golden share") que possui na Embraer. Não foi isso o que o governo indicou na sexta-feira. Também na sexta, os sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara, todos municípios paulistas, enviaram uma carta ao presidente Temer para cobrar que o governo federal discuta e vete o acordo entre as empresas.

Ontem, no horário do fechamento desta coluna, ainda não estava claro se o ex-presidente Lula seria solto ou permaneceria preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba.

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