Animado pelo aumento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 e pela reforma trabalhista, o presidente Michel Temer chegou a prever a criação de 3 milhões de novos empregos neste ano, recuperando com folga os 2,8 milhões de vagas perdidas com a recessão, desde 2015. Não poderia estar mais distante da realidade. Dados recentes mostram que o mercado de trabalho está fraco, contribuindo para reduzir as expectativas de crescimento da economia neste ano, na medida que contém a melhoria da massa salarial e arrefece o consumo das famílias.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criados pouco mais de 10% dos empregos prometidos por Temer nos primeiros cinco meses do ano, ou 381,2 mil vagas com carteira assinada. Surgiram apenas 33,7 mil empregos com carteira assinada no mês. Mas os resultados anteriores não foram muito animadores, e traçam uma trajetória em zigue-zague, apesar dos juros em queda e da inflação baixa. Foram criadas 86 mil vagas em janeiro, 70,6 mil em fevereiro, 69,8 mil em março e 121,2 mil em abril.
Apesar de adotar outro critério de pesquisa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra um quadro semelhante, sem indicações firmes de recuperação do emprego e sim de estabilidade do desemprego. No trimestre terminado em maio, a taxa de desemprego ficou em 12,7%, equivalente a 13,2 milhões de desempregados. Houve uma melhora em relação aos 13,3% de igual período de 2017, mas não se enxerga uma tendência firme positiva ao se comparar com os 12,9% do trimestre terminado em abril, os 13,1% de março, os 12,6% de fevereiro e os 12,2% de janeiro, na mesma base de cálculo de média móvel trimestral.
Os dados levantados pelo IBGE permitem a conclusão de que o quadro apenas não é pior por motivos que não deixam de ser preocupantes. De um lado, aumentou o número de trabalhadores que desistiram de procurar emprego, os chamados desalentados; e, de outro, a informalidade e os que trabalham por conta própria. Em apenas um trimestre, quase meio milhão de brasileiros - 475 mil - deixaram de procurar emprego por acreditarem que não conseguiriam uma vaga, o que indica o crescimento no desalento. Em um ano, 1 milhão de pessoas aderiram à inatividade no país. Como não são considerados desempregados, isso acaba melhorando, por efeito estatístico, a taxa de ocupação. O nível de ocupação - que mede o porcentual de ocupados em relação à população em idade de trabalhar diminuiu de 53,9% no trimestre até fevereiro para 53,6% no trimestre terminado em maio.
Outro sinal negativo é a extinção de vagas com carteira assinada no setor privado. No trimestre terminado em maio, foram perdidos cerca de 351 mil postos de trabalho formais, especialmente no comércio, informação e comunicação. Em comparação com maio de 2017, o número de empregados aumentou em 1,2 milhão, sendo que o número de vagas sem carteira assinada aumentou quase 600 mil e o de trabalhadores por conta própria, outros cerca de 600 mil. Foram abertas vagas na indústria e, mais recentemente, na administração pública, movimento considerado sazonal. Levantamento recente do Sebrae apontou as micro e pequenas empresas como responsáveis por nove em cada dez empregos formais gerados nos primeiros cinco meses do ano. Avalia-se que as pequenas empresas são as últimas a demitir, em cenários adversos, e as primeiras a contratar, reagindo mais rapidamente a sinais de melhora na economia (Valor 25/6).
A redução dos empregos com carteira assinado tem efeito negativo na massa salarial e na economia. O rendimento médio habitual mensal, estimado em R$ 2.187, ficou estável frente a maio de 2017 e a fevereiro. A massa de rendimentos, que representa a soma dos ganhos de todos os trabalhadores, foi estimada em R$ 193,9 bilhões em maio. Esse é um dos motivos pelo qual o mercado de trabalho acaba tendo impacto no nível de atividade uma vez que, com rendimentos em queda, em termos reais, o consumo tende a diminuir. Por outro lado, quando o PIB cresce, repercute positivamente no emprego. Para recuperar as vagas perdidas na recessão, o país deveria crescer de 3% a 4% por pelo menos dois anos, estimam economistas. Nada no horizonte de curto prazo, porém, autoriza uma previsão dessa magnitude.
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