Sem romperem politicamente, companheiros de Marina nas duas últimas eleições presidenciais deixam de participar da campanha deste ano; isolamento começou em 2011
Marcelo Remigio | O Globo
As duas disputas ao Palácio do Planalto — 2010 e 2014 — e o desempenho nas urnas que superou 22 milhões de votos na última eleição presidencial não foram suficientes para conter o isolamento de Marina Silva e deixar a Rede longe dos efeitos da cláusula de barreira. Se em 2010 a então candidata do PV à Presidência somava apoios, hoje Marina contabiliza baixas de aliados próximos e ainda enfrenta a falta de articulação com outras legendas. O processo começou no ano seguinte à primeira disputa e, desde então, não foi estancado.
No Câmara dos Deputados, Marina viu parlamentares como Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR) deixarem a Rede e desembarcarem no PSB, partido pelo qual a ex-senadora concorreu ao Planalto em 2014. Peças-chave nas campanhas presidenciais de Marina também seguiram por outros caminhos. Não romperam politicamente com a ex-senadora, mas afastaram-se aos poucos, como Alfredo Sirkis, do Rio, um dos ex-coordenadores das campanhas e ex-articulador político nas disputas.
— Hoje estou no grupo de 50% dos eleitores indecisos. Pela primeira vez, quem é politizado não sabe em quem votar para presidente. Neste momento, para Marina, só posso desejar boa sorte — diz Sirkis, sem atacar a ex-senadora e negar o voto à Rede. — É claro que os demais pré-candidatos a presidente também encontram dificuldades para fechar alianças. Mas hoje Marina tem ao seu lado apenas o recall das duas eleições e os mais de 20 milhões de votos.
O processo de isolamento de Marina não é novo. Desde 2011, entusiastas de sua candidatura foram se afastando aos poucos. Candidato a vice na chapa do PV em 2010, o empresário Guilherme Leal não acompanhou Marina quatro anos depois na nova disputa. Ele lançou, ainda em 2011, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), uma organização voltada para formação de novos quadros políticos.
DÚVIDAS SOBRE A VITÓRIA EM 2014
O ex-secretário do Meio Ambiente de Pernambuco Sérgio Xavier, um dos responsáveis pela aliança de Marina com o PSB em 2014, passou a se dedicar ao movimento Fazemos, de incentivo à participação da sociedade na política. Já o cientista político Leandro Machado, que trabalhou nas campanhas de 2010 e 2014, também seguiu por outro caminho. Ele passou a integrar a coordenação do movimento Agora!, de renovação da política. Enquanto a educadora Neca Setúbal, uma das coordenadoras do programa de governo de Marina, afastou-se após receber duras críticas ao longo da campanha de 2014. O motivo, ser da família acionista do Banco Itaú.
Um dos principais coordenadores da candidatura de Marina em 2014, o ex-deputado Walter Feldman trocou a política pelo futebol. Ele assumiu, ainda em 2014, o cargo de secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
— Estas eleições estão atípicas. Geraldo Alckmin (PSDB) é inexpressivo; sobre o Ciro Gomes (PDT), tem o temperamento dele... E Marina tem as questões dela. Todos estão com problemas (...) Vejo uma dificuldade enorme de Marina tirar do papel tudo o que é pensado. A cada dia fico convencido que Marina não quis ganhar as eleições em 2014 — analisa Sirkis.
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