Em carta, Lula diz não haver razões para acreditar na Justiça, mas mantém candidatura até 15 de agosto
Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Apesar da apreensão provocada pelo calendário eleitoral, o PT decidiu manter a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o dia 15 de agosto, enterrando publicamente, ao menos até lá, as discussões sobre quem disputará pelo partido, de fato, a Presidência da República.
Em reunião da executiva nacional da legenda, a cúpula do petista decidiu fazer uma mobilização neste dia para registrar a candidatura de Lula, preso em Curitiba desde 7 de abril.
Ao final do encontro, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, leu uma carta em que o ex-presidente critica o que chamou de “manobras” do Judiciário.
“Já não há razões para acreditar que terei Justiça”, disse Lula no texto em que diz ver o comportamento de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) repetir o que se passou no julgamento do juiz federal Sérgio Moro e no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
Na carta, Lula cita nominalmente o ministro Edson Fachin, do STF. O ex-presidente contesta decisão do magistrado de retirar da Segunda Turma do Tribunal e remeter para o plenário o julgamento de habeas corpus apresentado por sua defesa.
“Tal manobra evitou que a Segunda Turma, cujo posicionamento majoritário contra a prisão antes do trânsito em julgado já era de todos conhecido, concedesse o habeas corpus. Isso ficou demonstrado no julgamento do plenário, em que 4 do 5 ministros da Segunda Turma votaram pela concessão da ordem”, disse o ex-presidente na carta.
Lula também reclamou também que “no apagar das luzes da sexta-feira, 22 de junho, poucos minutos depois de ter sido publicada a decisão do TRF-4 que negou seguimento ao meu recurso (o que ocorreu às 19h05), como se estivesse armada uma tocaia, a medida cautelar foi dada por prejudicada e o processo extinto, artifício que, mais uma vez, evitou que o meu caso fosse julgado pelo órgão judicial competente (decisão divulgada às 19h40)”.
O ex-presidente afirma que sua defesa recorreu da decisão do TRF-4, mas que, novamente, o relator remeteu o julgamento do recurso ao plenário.
“Com mais esta manobra, foi subtraída, outra vez, a competência natural do órgão a que cabia o julgamento do meu caso”, protestou Lula.
“As manobras atingiram seu objetivo: meu pedido de liberdade não foi julgado”, continuou Lula.
“Chegou a hora de todos os democratas comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito repudiarem as manobras de que estou sendo vítima, de modo que prevaleça a Constituição e não os artifícios daqueles que a desrespeitam por medo das notícias da televisão”, disse o ex-presidente.
Lula reafirmou não haver provas contra ele. “A única coisa que quero é que a força-tarefa da Lava Jato, integrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Moro e pelo TRF-4, mostrem à sociedade uma única prova material de que cometi algum crime. Não basta palavra de delator nem convicção de Power Point”, afirmou.
“Não estou pedindo favor; estou exigindo respeito.”
Lula voltou a dizer que não cometeu crime e que, se não querem que ele seja presidente, “a forma mais simples de o conseguir é ter a coragem de praticar a democracia e me derrotar nas urnas”.
“Desafio meus acusadores a apresentar esta prova até o dia 15 de agosto deste ano, quando minha candidatura será registrada na Justiça Eleitoral”, encerrou o ex-presidente.
Presentes à reunião do PT, dirigentes do partido concordaram que a carta é uma crítica ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Para o secretário de Comunicação do PT, Carlos Árabe, "Lula está denunciando uma injustiça especialmente voltada contra ele".
Petistas divergiram, porém, sobre o desdobramento da manifestação. Para alguns, "caiu a ficha" de Lula para o fato de que dificilmente sairá da prisão para disputar as eleições.
Segundo dirigentes do PT, Lula tinha esperança de deixar a cela a tempo de disputar as eleições e esse seria um reconhecimento de que não poderá concorrer.
Para outros, a carta é apenas a reafirmação de sua candidatura e um apelo ao STF.
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