quarta-feira, 4 de julho de 2018

Apesar de preocupação, PT só deve definir candidato em agosto

Em carta, Lula diz não haver razões para acreditar na Justiça, mas mantém candidatura até 15 de agosto

Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Apesar da apreensão provocada pelo calendário eleitoral, o PT decidiu manter a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o dia 15 de agosto, enterrando publicamente, ao menos até lá, as discussões sobre quem disputará pelo partido, de fato, a Presidência da República.

Em reunião da executiva nacional da legenda, a cúpula do petista decidiu fazer uma mobilização neste dia para registrar a candidatura de Lula, preso em Curitiba desde 7 de abril.

Ao final do encontro, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, leu uma carta em que o ex-presidente critica o que chamou de “manobras” do Judiciário.

“Já não há razões para acreditar que terei Justiça”, disse Lula no texto em que diz ver o comportamento de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) repetir o que se passou no julgamento do juiz federal Sérgio Moro e no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

Na carta, Lula cita nominalmente o ministro Edson Fachin, do STF. O ex-presidente contesta decisão do magistrado de retirar da Segunda Turma do Tribunal e remeter para o plenário o julgamento de habeas corpus apresentado por sua defesa.

“Tal manobra evitou que a Segunda Turma, cujo posicionamento majoritário contra a prisão antes do trânsito em julgado já era de todos conhecido, concedesse o habeas corpus. Isso ficou demonstrado no julgamento do plenário, em que 4 do 5 ministros da Segunda Turma votaram pela concessão da ordem”, disse o ex-presidente na carta.

Lula também reclamou também que “no apagar das luzes da sexta-feira, 22 de junho, poucos minutos depois de ter sido publicada a decisão do TRF-4 que negou seguimento ao meu recurso (o que ocorreu às 19h05), como se estivesse armada uma tocaia, a medida cautelar foi dada por prejudicada e o processo extinto, artifício que, mais uma vez, evitou que o meu caso fosse julgado pelo órgão judicial competente (decisão divulgada às 19h40)”.

O ex-presidente afirma que sua defesa recorreu da decisão do TRF-4, mas que, novamente, o relator remeteu o julgamento do recurso ao plenário.

“Com mais esta manobra, foi subtraída, outra vez, a competência natural do órgão a que cabia o julgamento do meu caso”, protestou Lula.

“As manobras atingiram seu objetivo: meu pedido de liberdade não foi julgado”, continuou Lula.

“Chegou a hora de todos os democratas comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito repudiarem as manobras de que estou sendo vítima, de modo que prevaleça a Constituição e não os artifícios daqueles que a desrespeitam por medo das notícias da televisão”, disse o ex-presidente.

Lula reafirmou não haver provas contra ele. “A única coisa que quero é que a força-tarefa da Lava Jato, integrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Moro e pelo TRF-4, mostrem à sociedade uma única prova material de que cometi algum crime. Não basta palavra de delator nem convicção de Power Point”, afirmou.

“Não estou pedindo favor; estou exigindo respeito.”

Lula voltou a dizer que não cometeu crime e que, se não querem que ele seja presidente, “a forma mais simples de o conseguir é ter a coragem de praticar a democracia e me derrotar nas urnas”.

“Desafio meus acusadores a apresentar esta prova até o dia 15 de agosto deste ano, quando minha candidatura será registrada na Justiça Eleitoral”, encerrou o ex-presidente.

Presentes à reunião do PT, dirigentes do partido concordaram que a carta é uma crítica ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Para o secretário de Comunicação do PT, Carlos Árabe, "Lula está denunciando uma injustiça especialmente voltada contra ele".

Petistas divergiram, porém, sobre o desdobramento da manifestação. Para alguns, "caiu a ficha" de Lula para o fato de que dificilmente sairá da prisão para disputar as eleições.

Segundo dirigentes do PT, Lula tinha esperança de deixar a cela a tempo de disputar as eleições e esse seria um reconhecimento de que não poderá concorrer.

Para outros, a carta é apenas a reafirmação de sua candidatura e um apelo ao STF.

Nenhum comentário: