quarta-feira, 4 de julho de 2018

Foco em Marina afasta aliados da Rede nos estados

Estratégia do partido dificulta articulações de 15 candidatos a governador pelo país

Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- A pré-candidata da Rede Sustentabilidade Marina Silva recebe, repetidamente, a pecha de isolada e pouco disposta a entrar no jogo político de alianças e negociações, típico do período pré-eleitoral. No entanto, seus correligionários se veem obrigados a repetir nos estados o método da presidenciável. Embora a sigla caminhe para ter mais candidatos do que outras legendas bem estruturadas — 15 no total —, o único estado em que a Rede já tem parcerias definidas e independentes de uma aliança nacional é Tocantins, onde o ex-juiz Márlon Reis representa a principal aposta do partido para vencer uma disputa estadual.

O estado, contudo, é exceção. A orientação geral no partido é fazer com que as campanhas estaduais sirvam para impulsionar a candidatura nacional. Daí vem a dificuldade para que outros partidos embarquem nos projetos locais. A tendência, portanto, é que o tempo ínfimo na televisão para Marina se repita para os nomes da Rede nos estados — e seja utilizado para expor a imagem da ambientalista.

O foco da Rede, segundo a executiva nacional, é eleger sua líder para a Presidência e superar a cláusula de barreira com a eleição de deputados federais. Por isso, alguns nomes cotados para disputas majoritárias nos estados, como no Distrito Federal, estão sendo levados a campanhas para o Congresso. A escolha pelo Legislativo, mesmo que seja para senador, fica clara em casos como o do Paraná. Enquanto Flávio Arns, que se filiou recentemente à Rede, será lançado para tentar voltar ao Senado, um ex-vereador, Jorge Bernardi, é o postulante ao cargo executivo. No estado, o partido faz conversas separadas para discutir eleições proporcionais e majoritárias. A expectativa é de firmar coligações no primeiro caso, mas não para as pré-candidaturas ao governo e ao Senado.

— Esse é o grande desafio que todos nós da Rede temos: fazer as propostas de Marina e do partido chegarem ao maior número de pessoas — diz Valéria Cristina de Moura, coordenadora da legenda no Paraná.

“CANDIDATURAS CIDADÃS”
O partido também investiu forte em atrair o que chama de “candidaturas cidadãs”, com filiados que não fazem parte da militância orgânica do partido. Neste ano, boa parte deles veio dos movimentos de renovação política criados na esteira da Lava-Jato, como Agora!, RenovaBR, Brasil21, Frente Favela Brasil, Livres, entre outros.

Em Rondônia, um dos candidatos, Vinicius Miguel, tentará o governo do estado em sua primeira eleição, com 33 anos. Outros nomes de fora da política também foram chamados para tentar sua sorte em campanhas majoritárias, como um ex-policial federal, no Amazonas; um ex-superintendente da Polícia Rodoviária Federal, no Mato Grosso; um ex-procurador, em Goiás. Todos sem alianças desenhadas até o momento.

— Nós vamos produzir material para que eles possam carregar a imagem da Marina. Temos bons nomes e vamos usá-los — disse Andrea Gouvea Vieira, coordenadora da campanha nacional.

A indicação de usar as candidaturas estaduais como linhas auxiliares de Marina no estados se reflete na formatação difícil de acordos regionais. Em alguns estados, inviabilizou uma aliança nacional, como aconteceu como o PSB, partido que ainda não definiu seu rumo eleitoral. Um dos motivos para o PSB afastar um acordo com Marina é o rompimento dos dois partidos em lugares primordiais na estratégia dos socialistas: o Distrito Federal e Pernambuco. Nos dois casos, a Rede rompeu com os governos do PSB, que agora conversa com Ciro Gomes e o PT.

— Conversamos com partidos menores, mas essas conversas não caminharam porque a gente não abre mão de ser cabeça de chapa do governo — diz Regina Célia dos Santos, coordenadora do partido em Santa Catarina.

Pré-candidato em Tocantins, o ex-juiz Marlon Reis ficou conhecido por ter elaborado a Lei da Ficha Limpa. A legislação que ajudou a criar, agora, contribui para que Marina receba parte dos votos que seriam dados ao ex-presidente Lula, preso pela condenação em segunda instância e, portanto, enquadrado como ficha-suja.

Nas eleições extemporâneas realizadas em junho no estado, Reis terminou com 9%. A Rede considera positivo seu desempenho, uma vez que começou a campanha praticamente desconhecido. O caso de Tocantins é avaliado dentro do partido como um ensaio para as eleições presidenciais de outubro.

No estado, a legenda não se coligou com ninguém e lançou mão de voluntários para tocar a campanha. No horário eleitoral, os 12 segundos eram utilizados para apenas avisar que o candidato estava ao vivo nas redes sociais, o que Marina também pensa em fazer em sua campanha. Para a eleição de outubro, ele já tem fechados apoios do PRTB e do PMB.

— Foi espetacular (a campanha). Nós tivemos votação alta em muitas cidades onde eleitores são sujeitos ao clientelismo. Alcançamos um resultado muito impressionante em cidades em que sequer visitamos — conta o ex-juiz.

MINAS É CONSIDERADO COMPETITIVO
Além de Márlon Reis, no Tocantins, outro estado que é visto como competitivo para a Rede é Minas Gerais. Lá, o ex-secretário de Educação João Batista Mares Guia é o pré-candidato ao governo do estado e pontua entre 3% e 5% nas pesquisas de intenções de voto. Pré-candidato ao Senado e um dos porta-vozes do partido em Minas, Carlos Eduardo Braga de Menezes afirmou que o desempenho de Mares Guia está dentro do planejamento, já que outros candidatos mais fortes, como Fernando Pimentel, tem 19%, com tendência de queda, avalia a Rede. As negociações com outros partidos para aumentar as chances de Mares Guia, no entanto, passam pelas negociações em âmbito nacional, diz. O PROS, possível aliado em Minas e na disputa presidencial, está em compasso de espera.

Em estados onde a Rede não deverá ter candidato, o partido só abriu mão de disputar o governo porque aliados asseguram apoio à Marina a partir de agosto. É o caso de São Paulo, onde o pré-candidato do PMN ao Palácio dos Bandeirantes, Claudio Aguiar, está disposto a vestir a camisa da ambientalista, mesmo que seu partido ainda não tenha firmado acordo com a Rede nacionalmente. — Certamente serei o porta-voz da Marina no estado de São Paulo. É um apoio direto à candidatura dela — afirma Aguiar.

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