- Valor Econômico
Haddad foi a segunda pedida de Lula para Plano B
Desde a redemocratização, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só não foi o cabeça de chapa do PT nas eleições presidenciais em 2010 e 2014, por razões legais - não podia disputar um terceiro mandato. Mas apoiou e elegeu a ex-presidente Dilma Rousseff, nas duas eleições. Um impedimento legal - a Lei da Ficha Limpa - também deve barrar uma nova candidatura do ex-presidente em 7 de outubro. O desafio de Lula, desta vez, será o de eleger o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o Plano B do PT nas próximas eleições.
A primeira pedida de Lula era o ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner (Casa Civil). Entre ele, a presidente do PT, Gleisi Hoffman e Fernando Haddad, sobrou para o ex-prefeito de São Paulo. O problema para o PT, a partir de agora, é esticar nos tribunais a candidatura de Lula o máximo possível, para só então entronizar Haddad e a ex-candidata do PC do B a presidente, Manuela D'Ávila, como candidatos à sucessão do presidente Michel Temer. Mas ainda é cedo para dizer que o PT vive o fim de uma era - a eventual eleição de Haddad não cessaria de imediato a influência de Lula no governo petista que já começaria pressionado a dar a anistia ao ex-presidente..
Com a expectativa da candidatura Haddad chegaram as primeiras dúvidas do PT. O grosso do eleitorado de Lula é nordestino. O ex-prefeito de São Paulo foi rejeitado pela cidade que o elegeu e não é referência no Nordeste, ao contrário de Wagner. Haddad também sofre oposição interna no PT maior que o ex-governador da Bahia, mas é improvável que o eleitor do PT deixe de votar no partido por esse motivo (mas há controvérsias).
A decisão por Jaques Wagner levava em conta suas qualificações positivas no Nordeste: tem boa relação com os governadores da região, ganhou no primeiro turno as duas eleições de que participou para o governo da Bahia, interrompendo um longo domínio político da família Magalhães, e depois elegeu sucessor Rui Costa, que deve se reeleger em outubro junto com Wagner para o Senado Federal.
Era mais fácil para o ex-presidente transferir seus votos no Nordeste, onde o lulismo é mais forte, para Jaques Wagner. E no entanto Wagner não aceitou o convite para sentar no banco de reservas de Lula como candidato a vice-presidente. Declinou. A questão das supostas denúncias contra o ex-governador baiano teriam pesado menos que a vontade expressa dele. Denúncia vai aparecer contra qualquer um que for candidato.
Em sua resposta a Lula, o ex-governador falou que não se sentia preparado para disputar a Presidência da República e que não tinha cogitado ser candidato tendo no horizonte o Palácio do Planalto. Ao menos neste momento. Aproveitou para esclarecer que não é verdade que está pensando mais no mandato de senador pela Bahia, uma eleição aparentemente fácil. Na realidade, acha que Lula é insubstituível e que não tem condições nem capacidade para tomar seu lugar.
Não podendo ser Lula, poderia ser Gleisi Hoffmann. Suas credenciais: é a presidente do PT, tem se saído bem no cargo, "põe a cara para bater" e é firme na defesa do ex-presidente Lula. Contra pesou o fato de ser mulher, porque a primeira indicação de Lula de uma mulher para a Presidência, em 2010, não deu certo. As fontes que acompanharam de dentro as negociações se dividem sobre o papel de Gleisi. Os mais próximos de Lula dizem que ela não fez jogo para ser a escolhida. Outra parte diz que o tumulto dos últimos dias foi criado por ela na esperança de se viabilizar como saída para eventual impasse.
Se o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, estivesse bem seria ele o candidato. Partindo de uma base com o segundo maior colégio eleitoral do país, Pimentel teria grande chance de passar para o segundo turno. Mas seu governo vai mal e ele terá dificuldades até para se reeleger governador do Estado.
A outra opção do Nordeste era Ciro Gomes (PDT). O ex-governador do Ceará e ex-ministro do governo Lula, Gomes tinha possibilidades sim de receber o apoio do PT sobretudo por causa de Lula, que o tem em elevada conta, e menos do partido, que vê no ex-ministro mais um concorrente que um aliado. Mas Ciro não só falou muito mal do PT. Falou muito mal de Lula. Em momentos acenou com um indulto ao ex-presidente, em outros falou que a Justiça deve ser rápida.
A defesa de Lula bateu cabeça. A primeira informação repassada ao ex-presidente dizia que o candidato a vice-presidente poderia ser indicado em 15 de agosto, prazo final para o registro da chapa. A advogada eleitoral do partido ainda advertiu os dirigentes que a regra mudara, mas não foi ouvida. Antes do tenso domingo, 5, os dirigentes do PCdoB informaram o PT que Ciro Gomes oferecera a vice-presidência de sua chapa para Manuela D'Àvila.
O PT rebateu: o candidato seria o Lula e o vice alguém do PT. Manuela seria indicada mais tarde. Ela seria vice de qualquer maneira. Com ou sem Lula na chapa definitiva. Os advogados do PT e do PCdoB não se entendiam. A única coisa certa era que Ciro prometia anunciar Manuela como vice na última sexta-feira. Manuela precisava renunciar à candidatura do PCdoB antes do domingo, para poder ser indicada vice tanto do PDT como do PT quando Lula for impugnado. Esse foi o primeiro reconhecimento público feito pelo PT de que Lula poderá não estar na chapa presidencial do partido na eleição.
Sem Jaques, Ciro ou Gleisi restou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Mesmo tendo perdido a reeleição em São Paulo, o fato é que Haddad governou a cidade com o maior número de votos do país e hoje apresenta alguma recuperação eleitoral. Haddad é também um nome mais moderado que Gleisi. O que se dizia no entorno da presidente do partido era que Haddad era a escolha do mercado - e não de Lula - no PT. Haddad fez o programa de governo, um calhamaço de 71 páginas embrulhadas em retórica esquerdista mas recheadas de propostas concretas bem vistas pelo mercado para um novo mandato petista, como a criação do imposto sobre valor agregado. O texto foi elogiado por Lula, segundo os passageiros da ponte aérea São Paulo-Curitiba.
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