O Federal Reserve americano sacramentou terceira elevação da taxa de juros no ano, para a faixa de 2% a 2,25%, e as perspectivas dos membros do Comitê de Mercado Aberto sinalizaram, por grande maioria, nova alta no fim do ano. Pela primeira vez desde 2015, quando o banco começou a normalizar sua política monetária, foi retirado do comunicado de suas reuniões a palavra "acomodativa" para descrever o estado corrente do ciclo de ajuste.
Com oito altas, a taxa de juros encontra-se agora no mesmo nível de outubro de 2008, há dez anos. O quadro prospectivo montado pelo Fed indica que, se tudo ocorrer conforme o planejado, o banco já cumpriu mais da metade de seu percurso. Em princípio, serão mais três aumentos em 2019 e um final em 2020, culminando com a taxa entre 3,25% a 3,5%, um pouco acima dos juros de longo prazo, de 3%.
O ritmo da economia americana, deve crescer 3,1% (0,3 ponto acima da projeção anterior), segundo o Fed, foi considerado "particularmente brilhante" por Jerome Powell, presidente do banco. O Fed manteve as portas abertas sobre o futuro, de qualquer forma. Há boa margem para que algo aconteça fora do figurino esboçado. O crescimento, que segue "ritmo forte", segundo o comunicado, é bem maior do que o previsto há um ano, na reunião de setembro de 2017, de 2,1%. E o hiato entre a expansão corrente e a de longo prazo, que já existia, alcançará este ano 1,3 ponto percentual. A economia desacelerará progressivamente, mas só em 2021 atingirá seu ritmo normal.
Por outro lado, tanto as projeções de inflação, seu núcleo e taxa de juros na qual o ciclo deveria estacionar quase nada variaram. A projeção para a taxa neutra de longo prazo, a que não acelera nem retarda o crescimento, mudou pouco, de 2,8% há um ano, para 3% agora, mesmo com a expansão bem mais vigorosa da economia. Os fatores que poderiam obrigar o Fed a adotar um aperto mais forte estão no radar do banco. Powell disse que, mesmo com a economia perto do pleno emprego, os salários permanecem contidos porque a participação na força de trabalho aumentou, um fato positivo que ameniza a tendência demográfica, que vai em sentido contrário, da redução da oferta de trabalhadores.
O Fed tem colhido "preocupações crescentes" em relação à guerra comercial e o festival tarifário imposto por Donald Trump, em especial contra a China. Há queixas localizadas sobre aumento de custos de matérias primas, interrupção da oferta e desestruturação de cadeias produtivas. No front dos preços, porém, tudo está calmo. "Até agora é difícil ver alguma coisa acontecendo", disse. E, quando acontecer, continuou, será necessário distinguir se os efeitos serão pontuais e limitados no tempo, ou se se espalharão pelos preços de toda a economia, obrigando o Fed a dar uma resposta.
Os efeitos negativos de uma política fiscal expansionista tampouco tornaram-se evidentes, segundo Powell e tardam a se mostrar. Por enquanto, os riscos para a economia estão balanceados. O corte de impostos alavancou a economia, mas outros fatores mais importantes atuaram na mesma direção. Consumidores e empresas não estão muito endividados. Têm papel importante no atual ritmo de expansão os elevados níveis de confiança corporativo e das famílias.
A primeira reação dos investidores foi positiva. A retirada do termo "acomodativa" foi interpretada como um sinal de que os juros estão chegando perto da taxa neutra e logo pararão de subir, antes mesmo até das três altas apontadas pelo Fed para 2019. O índice cheio de inflação está em 2,3% (sob pressão dos preços de energia, segundo Powell) e o núcleo dos gastos pessoais de consumo (PCE) variou 2%, ou seja estão dentro das metas do banco.
A valorização dos preços dos ativos, como o preço das ações, não preocupa o Fed, assim como as turbulências observadas no mundo emergente. Para Powell, há problemas localizados em países que se endividaram demais em dólar e tem déficits externos significativos. O Fed, a seu ver, fez o que tinha de fazer, aumentando juros de forma bastante cautelosa e previsível.
Manter esse gradualismo dependerá do jogo de esconde-esconde da inflação. Se após vários anos de crescimento acima do potencial, aumentos de tarifas de importação em série, a mais baixa taxa de desemprego em décadas, um pacote fiscal expansionista e déficit público crescente, o índice de preços se mantiver bem comportado, algo de muito diferente terá de fato acontecido com a economia americana.
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