Diretora do Ibope acredita em 2º turno entre Haddad e Bolsonaro, mas ainda admite surpresa
Octávio Costa; Rebeca Letieri; Bernardo de la Peña | Jornal do Brasil
Diretora-executiva do Ibope, onde trabalha há 30 anos, Márcia Cavallari acredita, com base nas últimas pesquisas, que o petista Fernando Haddad e o deputado Jair Bolsonaro, candidato ao Planalto do PSL, tem percentuais de intenções de votos consolidados que podem garantir sua presença no segundo turno. Entretanto, Márcia lembra que é preciso considerar que há uma grande volatilidade de votos e também um contingente alto de 38% de indecisos. “Esse contingente pode mudar muita coisa”, afirmou. Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, ela afirma que é prematuro fazer projeções sobre o segundo turno. E explica que é um novo pleito, no qual prevalece a rejeição: “quem eu não quero que ganhe”. “Essa simulação é hipotética, onde a gente consegue ver a força de um contra o outro. O segundo turno é uma nova eleição, começa do zero”, completou.
• Esse quadro, a partir dessa última pesquisa do Ibope, está definido?
A pesquisa mostra hoje que tanto Bolsonaro quanto Haddad estão com o voto mais consolidado com relação aos seus concorrentes. Na pergunta estimulada e na espontânea, a diferença de voto dos dois é a menor. O Bolsonaro tem 28% quando se pergunta ‘se a eleição fosse hoje e os candidatos fossem esses, em quem você votaria’. E quando pergunto de cara ‘em que você votaria se as eleições fossem hoje’, 24% citam o Bolsonaro. É um voto firme, independente de quem são os candidatos. O mesmo ocorre para o Haddad, que na estimulada tem 22%, e na espontânea, 15%.
• É grande a possibilidade de um 2º turno entre Haddad e Bolsonaro?
Com essa solidez do voto, é grande.
• Se fala ainda sobre o Ciro. Ele poderia ainda ter uma esperança, e haver uma reviravolta, com já houve?
Existe, porque a gente vê ainda muita volatilidade no voto dos demais candidatos. São 38% das pessoas que não citam nenhum candidato na pergunta espontânea. Esse contingente pode mudar muita coisa. Não dá para afirmar nada agora, tem muita gente que ainda não decidiu.
• Esse contingente, em outras eleições, segue o quadro que já existe ou vota de forma surpreendente?
O que eu vejo sistematicamente em várias eleições é que esses indecisos até o final não se distribuem igualmente entre os já decididos. Vemos crescimento de segundos e terceiros colocados em proporção maior. Uma pergunta que a gente faz é se essa decisão de votos é definitiva ou não. E quem tem os maiores percentuais são também os dois: Haddad e Bolsonaro. Dos eleitores do Bolsonaro, 49%, já o Haddad, 51%. Quando você olha o Ciro, 32% dizem que não mudam mais. Alckmin, 30%. Marina, 21%.
• A senhora acha que Marina e Alckmin ainda teriam alguma chance?
Marina está numa curva descendente. Ela estava com um voto temporário do PT, que com a ausência de Lula no cenário, tinha migrado para ela. Agora, com a oficialização da candidatura do Haddad, esse voto voltou para o PT. O que não aconteceu com o Ciro. Ele também cresceu no vazio do PT, mas o que foi para ele, ficou. Vemos agora o crescimento do Haddad em cima de uma diminuição dos votos brancos e nulos. E em cima dos votos que tinham migrado para a Marina. Alckmin está numa situação estável. Agora, movimentos ainda podem acontecer. Com a campanha de ataque ao Bolsonaro, ele ficou estável, ou seja, não perdeu voto. Mas aumentou a rejeição. E aumentou a distância dele para os demais nas simulações de segundo turno.
• Se consideramos um universo de 38% flutuando, essas simulações de 2º turno não são prematuras?
As simulações não refletem o que vai ser de fato o segundo turno. O próprio resultado oficial do primeiro turno e a composição de forças que se redistribuem e se reagrupam exercem um efeito no eleitor para votar no segundo. Essa simulação é hipotética, onde a gente consegue ver a força de um contra o outro. O segundo turno é uma nova eleição, começa do zero. Em 2010, as duas pesquisas que nós divulgamos já na ocorrência do segundo turno, o Aécio veio na frente, e só depois é que virou para a Dilma. Normalmente, o que a gente vê de comportamento é que o eleitor, no primeiro turno, vota no candidato que ele gosta. E no segundo, o que pesa é, não só a preferência, mas quem eu não quero que ganhe.
• O movimento das mulheres e o ‘Ele Não’ dos intelectuais pesam ou não atinge o eleitorado?
Não dá para saber exatamente, porque não dá para isolar o efeito de cada uma das ações. Uma pesquisa registra o conjunto dos efeitos. Mas nas mulheres, a gente vê, nitidamente, desde a primeira pesquisa até agora, que ele cresceu de 13% para 21%. Por outro lado, ele tem uma rejeição de 54% entre as mulheres.
• Parece que a rejeição dele também é forte no nordeste, não é?
Vamos ter uma eleição bastante polarizada, com perfis de eleitores antagônicos.
• Qual é a característica básica do eleitor de um e de outro?
Do Bolsonaro, basicamente, são homens, que chega 35%. Entre as mulheres, ele tem 21%. Jovem, de 16 a 24 anos, ele tem 27%. Ensino médio, ele tem 31% e superior, 33%. Então é homem, jovem, escolaridade alta, na renda de mais de cinco salários mínimos, com 42%. Em região, ele tem força no Norte, Centro-oeste e no Sudeste, com 31%, puxado pelo Rio. O Haddad, com os homens, por exemplo, tem 22%. Entre as mulheres, ele tem 21%. Na faixa etária também é bastante homogêneo, dos 25 a 54, ele tem em torno de 20%. São 28% entre as pessoas que têm o ensino fundamental I, e 26% dos que têm fundamental II. É uma instrução mais baixa. São 30% das pessoas que têm até um salário mínimo. No Nordeste, ele tem 34%, e Norte e Centro-oeste, 20%. No Sudeste, ele tem 16%.
• O eleitor do Haddad tem a ver com o perfil do eleitor do Lula, não é?
Isso. Fazendo um resgate das últimas eleições, em 2002, o Lula foi eleito com 61% dos votos válidos no segundo turno de forma bastante homogênea nas regiões. Vem o mensalão em 2005, e na reeleição de 2006 houve uma clivagem social forte nesses votos. Não foi mais homogêneo em todas as camadas sociais e geografias do país. Quando foi eleição da Dilma, o mesmo eleitor do Lula votou nela. Perde um pouco de força a clivagem, mas ainda foi o mesmo eleitor. Em 2010, ganha força o voto geográfico. O mesmo está acontecendo com o Haddad.
• O Montenegro acha que pode subir a rejeição do Haddad por causa da exposição dele...
Quando os candidatos estão mais expostos, eles têm maior rejeição. Quem está na frente sempre é atacado pelos adversários. O Haddad não era tão conhecido, ele passou a ser com a oficialização da candidatura. Essa exposição pode se dar para o bem e para o mal. O PT é o partido de preferência, mas é também o mais rejeitado.
• Há possibilidade de voto útil nesse primeiro turno?
Em eleição presidencial nunca vivemos isso. Já vi acontecer para municipal e governador. A probabilidade não é zero, mas numa dimensão do Brasil isso é mais difícil.
• O Haddad pode passar o Bolsonaro até o 7 de outubro?
Não sei. Não sabemos qual é o teto dele.
• Ou seja, ainda podemos ser surpreendidos...
Sim. A pesquisa não tem esse poder de falar que o que está acontecendo hoje vai refletir o amanhã. Essa campanha é o maior exemplo de que ela só reflete o momento.
Um comentário:
Pelo que vejo é escuto, no meio no qual convivo, o 17 Bolsonaro ganha no 1° turno.
Menos pior!!!
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